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‘Power Play’: política à norueguesa

A série da Filmin centra-se em Gro Harlem Brundtland, uma médica e activista anti-aborto que foi por três vezes primeira-ministra da Noruega.

Escrito por
Eurico de Barros
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★★☆☆☆

O sucesso da dinamarquesa Borgen levou ao aparecimento de outras séries nórdicas ambientadas no mundo da política. A mais recente é a norueguesa Power Play (Filmin), que ao invés de apresentar personagens, partidos políticos e acontecimentos fictícios, ou vagamente baseados em pessoas, organizações e situações reais, está centrada na figura de Gro Harlem Brundtland, uma médica e activista anti-aborto que foi por três vezes primeira-ministra da Noruega pelo Partido Trabalhista, entre 1981 e 1996, tendo sido a primeira mulher do seu país, e de um país nórdico, a ocupar esse cargo.  

Brundtland é interpretada por Katherine Thorborg Johansen, que é muito mais bonita do que aquela alguma vez foi, uma escolha que denuncia de imediato o viés muito favorável à personagem principal que Power Play tem. Reforçado pelo facto de ela aparentar ser a única pessoa moralmente virtuosa, com convicções e ideais sólidas, bom senso e vontade de agir tendo em vista o bem público. Ao contrário da quantidade de homens tontos, interesseiros, egoístas ou abertamente incompetentes que a rodeiam, e que dizem ser precisas mais mulheres na política e no governo, mais por isso soar bem aos media e aos eleitores do que por outra coisa. É um esquematismo tendencioso que cansa rapidamente. 

Os acontecimentos descritos em Power Play apresentam ainda um raio de acção algo limitado no seu interesse. Dirão decerto bastante aos noruegueses, e sobretudo à geração que viveu os anos em que Gro Harlem Brundtland liderou o país (em especial a quem votou nela e no seu partido), mas não é lícito que possam cativar um público mais amplo além-fronteiras. Ainda por cima, quando a organização interna da série não é das melhores. Veja-se o muito confuso primeiro episódio, a abarrotar de personagens caracterizadas de forma esquemática, com nomes impronunciáveis, e atarefadas em movimentações políticas mal explicadas. 

Além de alguns anacronismos ditados pela agenda politicamente correcta de hoje, que de modo algum poderiam existir nem na progressista Oslo dos anos 70 e 80, a série também contempla, e de forma irritante, o tique da quebra da estrutura narrativa e do nexo temporal, pondo personagens a falar directamente para o espectador, e para a própria equipa de filmagem. Tudo isto pesado e considerado, Power Play não tem o meu voto.

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