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Oito filmes sobre manipulação mediática

Jornalismo, sensacionalismo, batota, concursos, política e desejo de fama em oito filmes sobre manipulação mediática

Escrito por
Rui Monteiro
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Em tempo de "que se lixem os factos, o que importa é que sirvam os meus interesses" (é a chamada pós-verdade), Donald Trump é titular no campeonato da manipulação. Mas o actual Presidente dos Estados Unidos não inventou nada. Afinal, a manipulação pelos meios de comunicação é tão antiga como os media propriamente ditos. É uma perversão da verdade que, com o acesso facilitado pela tecnologia a qualquer fanático, se tornou, pela repetição, em legitimação da mentira. E isso é muito perigoso, como desde a década de 50 nos vêm a mostrar realizadores como Billy Wilder, Sidney Lumet ou Robert Redford, entre outros.

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Oito filmes sobre manipulação mediática

O Grande Carnaval (1951)


É entre a mesquinhez individual e a grande conspiração que se deve colocar esta magnífica película de Billy Wilder. Aqui, Kirk Douglas faz de Charles Tatum, repórter, veterano, despedido de 11 jornais por 11 diversas razões, alimentando sonhos de grandeza mas desterrado numa publicação local. Esperando uma oportunidade que surge quando, por acaso, descobre que um tal de Leo Minosa (Richard Benedict) ficou preso numa mina quando procurava relíquias índias. Vai daí, graças ao telefone e ao telégrafo, o oportunista transforma o resgate em acontecimento com direito a cobertura nacional, que deliberadamente vai atrasando durante dias. A colaboração da mulher de Leo (Jan Sterling), que estava em vias de abandonar o homem mas de súbito vê a oportunidade de negócio, é a cereja no topo do bolo.

O Monstro Na Primeira Página (1972)


Marco Bellocchio usa o caso da jovem rica de uma família de direita assassinada nos arredores de Milão e do jovem operário de esquerda acusado da sua morte para ilustrar os caminhos obscuros da política italiana na década de 1970. Com o grande Gian Maria Volonté a fazer do temível manipulador e editor-chefe de um jornal de direita determinado a levar, mais uma vez, o Partido da Democracia Cristã (embora nunca mencionado explicitamente) ao poder, Bellochio mostra como o jornalista e os políticos a ele associados manipulam os factos que levaram à morte da rapariga e à eventual culpa do proletário no contexto mais geral da estratégia eleitoral.

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Um Dia de Cão (1975)


É um dia de calor asfixiante em Nova Iorque, aquele em que Sonny Wortzik, um ladrão de meia-tijela, decide ser boa altura para assaltar um banco. A coisa corre mal, a polícia cerca o estabelecimento, os bandidos fazem pessoal e clientes reféns. Os media sabem, chegam e passam para especulação em directo, alimentada pelas declarações do chefe de quadrilha interpretado por Al Pacino, berradas à porta do banco e aplaudidas pela multidão. O filme de Sidney Lumet torna-se mais complexo quando se sabe que o objectivo do assalto é angariar, salvo seja, fundos para a operação de mudança de sexo de Sal (John Cazale), o amante de Sonny, e os meios de comunicação, multidão e polícia são confrontados com os seus próprios preconceitos.

Escândalo na TV (1976)


Outra vez com Sidney Lumet na direcção (o que só confirma a fama de liberal – no sentido americano do termo – do seu cinema), Escândalo na TV é um exemplar raro de premonição (não por acaso, um dos consultores foi Marshall McLuhan, o teórico criador dos conceitos de "aldeia global" e "o meio é a mensagem") sobre o futuro da televisão. Temos então o apresentador de noticiário despedido por conta das baixas audiências que anuncia, com a emissão no ar, a sua saída e o seu suicídio em directo uma semana depois. O que o torna tão popular que a estação volta a contratá-lo e, a partir daí, Howard Beale (Peter Finch) transforma-se numa variedade de profeta do apocalipse à beira da insanidade – o que ainda torna mais famoso e perigoso para os que promoveram a sua ascensão olhando apenas para as percentagens de audiência.

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Quiz Show (1994)



Outro realizador e actor com fama de liberal é Robert Redford, que aqui aproveitou um caso real para filmar a manipulação dos concursos de pergunta-resposta na televisão norte-americana na década de 1950. Sempre em nome do volume das audiências, os produtores do concurso escolhiam os concorrentes como se fossem actores de uma novela. Assim, Stemplel (John Turturro) é retratado como o judeu inteligente mas pouco atraente para os espectadores, que é substituído pelo jovem Van Doren (Ralph Fiennes), filho de um famoso intelectual, e típico branco, anglo-saxão e protestante, no entanto necessitado das respostas que a produção lhe fornece por debaixo da mesa, como se costuma dizer. Corre tudo bem até ao dia em que Richard Goodwin (Rob Morrow), um investigador do Congresso, resolve averiguar a denúncia do ressabiado Stempel.

Manobras na Casa Branca (1997)

Quando uma guerra pode salvar um presidente, digamos, dissoluto, e não há nenhuma assim à mão de semear, o melhor é inventar uma, como Robert De Niro e Dustin Hoffman fazem nesta sátira de Barry Levinson com argumento de David Mamet. O filme é uma denúncia particularmente bem-disposta, acutilante e imaginativa sobre a manipulação mediática e política dos cidadãos, que se revelou presciente. Pouco depois da estreia, durante a presidência de Bill Clinton, rebentaria o escândalo Monica Lewinski e, por coincidência, nos meses que se seguiram, os Estados Unidos bombardearem vários países e envolveram-se na guerra do Kosovo, desestabilizando e alterando o equilíbrio político na região dos Balcãs.

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Cidade Louca (1997)


Brackett (Dustin Hoffman, mais uma vez) está nas lonas, no entanto um repórter é um repórter e um repórter às vezes tem sorte. Por exemplo, a sorte de estar no Museu de História Natural por uma notícia sem importância quando, à socapa, vê um segurança despedido (John Travolta) reivindicar o emprego de volta de espingarda na mão e fazer funcionários e visitantes reféns. Sempre à socapa comunica com a sua equipa. E assim começa aquele circo mediático do costume, que prossegue, depois do ex-segurança o descobrir, com a tentativa do jornalista em garantir para si o exclusivo assegurando ao outro a possibilidade de contar a sua versão. Dirigido por Costa-Gavras, a obra é uma espécie de O Grande Carnaval dos tempos modernos, mostrando como é pequena a importância dos factos na criação do sensacionalismo.

Nightcrawler - Repórter na Noite (2014)


Ao assistir ao trabalho das equipas de jornalistas de imagem independentes, em Los Angeles, Lou Bloom (Jake Gyllenhaal), um rapaz um pouco à deriva, mas determinado e ainda mais desesperado por trabalho, vislumbra uma saída profissional. E torna-se o melhor caçador de incêndios, desastres de todos os tipos e mais um, e, especialmente, de crimes, que são ainda melhores, na perspectiva do repórter-abutre, quando incluem mortos. Movido a adrenalina, Bloom, filmado com muita energia por Dan Gilroy, vai acabar por conhecer o seu próprio fel – o que dá um final moral algo desnecessário à película, porém não invalida o retrato chocante do estado do jornalismo televisivo.

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