Volta para Mim
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Os filmes em cartaz esta semana, de ‘Volta para Mim’ a ‘The Naked Gun’

As estreias de cinema, os filmes em exibição e os novos filmes para ver em streaming, incluindo ‘Elio’, ‘Superman’ ou ‘O Esquema Fenício’.

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Tanto cinema, tão pouco tempo. Há filmes em cartaz para todos os gostos e de todos os feitios. Das estreias em cinema aos títulos que, semana após semana, continuam a fazer carreira nas salas. O que encontra abaixo é uma selecção dos filmes que pode ver no escurinho do cinema, que isto não dá para tudo. Há que fazer escolhas e assumi-las (coisa que fazemos, com mais profundidade nas críticas que pode ler mais abaixo nesta lista). Nas semanas em que há estreias importantes de longas-metragens no streaming, também é aqui que as encontra. Bons filmes.

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Filmes em estreia esta semana

Volta para Mim

Os irmãos australianos Michael e Danny Philippou revelaram-se em 2022 com um filme de terror, Fala Comigo, a sua longa-metragem de estreia, e regressam agora ao género com Volta para Mim, cujo elenco é encabeçado por Sally Hawkins. Um rapaz e a sua meia-irmã cega, cujo pai morreu subitamente, são colocados na casa remota da sua nova mãe de acolhimento. A princípio, tudo parece correr bem e a casa até tem uma piscina, mas os dois jovens vão descobrir um ritual aterrador que ali se desenrola, e no qual vão ser envolvidos.

The Naked Gun: Aonde é que Pára a Polícia?!

Liam Neeson interpreta Frank Drebin Jr., o filho do catastrófico detective Frank Drebin personificado por Leslie Nielsen, nesta comédia que retoma os filmes da desopilante franchise Aonde é que Pára a Polícia? feitos na década de 90, por sua vez saídos da série de televisão homónima dos anos 80. O elenco inclui Pamela Anderson, Danny Huston, Paul Walter Hauser e CCH Pounder.

+ ‘The Naked Gun: Aonde é que Pára a Polícia?’: por favor, não chamem a polícia!

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A Jane Austen Tramou a Minha Vida

Comédia romântica sobre uma jovem francesa charmosa, desajeitada e solitária que sonha viver um amor como os dos romances de Jane Austen, e ser escritora, e trabalha numa livraria inglesa de Paris. Um dia, surge a oportunidade de ir a Inglaterra participar numa residência literária dedicada a Jane Austen. Com Camille Rutherford, Pablo Pauly e Charlie Anson.

Até Sempre

Filme da norueguesa Lilja Ingolfsdottir, centrado em Maria, que tenta conciliar ser mãe de quatro filhos e uma carreira, enquanto o seu segundo marido, Sigmund, passa o tempo em viagens de trabalho. O casamento começa a desfazer-se, e quando Sigmund lhe diz que se quer divorciar, Marie vê-se assaltada pela raiva, pela mágoa e por memórias inconscientes.

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Animale

Na região francesa da Camarga, Nejma, de 22 anos, está a treinar para a competição tauromáquica anual. Mas a comunidade local está aterrorizada com um touro selvagem e violento, que poderá ser o responsável pelas mortes de vários jovens locais. E quando a rapariga é colhida e fica ferida durante uma celebração, começa a reparar em mudanças inquietantes em seu redor.

Sirât

O francês Olivier Laxe assina este filme em que Sergi Lopez interpreta um homem, que, acompanhado do filho, procura a filha, desaparecida numa rave no interior de Marrocos. Acabam por se aventurar no mais fundo do deserto, seguindo um grupo de ravers rumo a uma última festa de música electrónica e droga em que, esperam ambos, ela possa estar.

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A Quinta

Produção luso-espanhola com Maria de Medeiros e Manolo Solo, sobre um pacato professor de Geografia, devastado pela morte da mulher, que se faz passar por outro homem, um jardineiro de uma casa de campo portuguesa, estabelecendo uma inesperada amizade com a proprietária.

Devorar a Noite

Thriller francês em que um jovem traficante de droga e a sua irmã criam laços com outros jogadores num jogo online chamado Darknoon, acabando por se envolver num perigoso conflito entre gangues rivais.

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Os Mauzões 2

Filme de animação que marca o regresso dos Mauzões, o grupo de animais delinquentes que estão a tentar ser bons, com muita, muita força. Só que são sequestrados para um assalto por um bando inesperado: As Mázonas.

Filmes em cartaz esta semana

  • Filmes
  • 3/5 estrelas
  • Recomendado

Mais um filme onde Quentin Dupieux, o mais “jarryesco” dos realizadores franceses, cultiva o seu apurado sentido do nonsense e da bagunça formal criativa, pondo em cena, no restaurante no meio do nada com o mesmo nome do título, um quarteto de personagens que não se portam como seria de esperar delas num filme. Florence (Léa Seydoux) está perdidinha de amores por David (Louis Garrel), que não a quer ver nem pintada, e quer atirar para os braços do seu amigo Christian (Raphaël Quenard). Inesperadamente, entra na equação Guillaume (Vincent Lindon), o pai de Florence, a quem ela quer apresentar o seu apaixonado. Dupieux dinamita esta historieta pondo os intérpretes a fugirem constantemente do guião e a falarem das suas vidas pessoais, amorosas e profissionais (há ainda um “secundário” tão nervoso que nem sequer consegue servir o vinho à mesa, e membros da equipa técnica que aparecem aqui e ali), e tornando O Segundo Acto numa charge gostosamente sarcástica ao meio do cinema, às vaidades, rivalidades e ridículos dos actores, ao wokismo e ao #MeToo, e ainda à Inteligência Artificial aplicada à produção de filmes, que nos deixa levemente arrepiados. E, mais uma vez, nos 76 minutos que os seus filmes costumam durar. Se não existisse, Quentin Dupieux tinha que ser inventado.

O Quarteto Fantástico: Primeiros Passos

Pedro Pascal, Vanessa Kirby, Joseph Quinn e Ebon-Moss Bachrach são os novos intérpretes do Quarteto Fantástico, em mais uma versão cinematográfica das aventuras destes super-heróis da Marvel. No cenário de um mundo retro-futurista inspirado nos anos 60, eles têm que proteger a Terra de um voraz deus espacial chamado Galactus, e do seu enigmático arauto, o Surfista Prateado. Também com John Malkovich, Natasha Lyonne e Mark Gatiss.

+ Os super-heróis querem regressar em grande

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A Uma Terra Desconhecida

Filme realizado pelo palestiniano Mahdi Fleifel e passado em Atenas. Dois refugiados palestinianos estão a poupar para comprarem passaportes falsos e saírem da Grécia, mas um deles perde o dinheiro devido ao vício das drogas. O outro vai então engendrar um plano arriscado para saírem da situação desesperada em que se encontram.

  • Filmes
  • Drama
  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

Marianne Jean-Baptiste é a principal intérprete da nova realização do britânico Mike Leigh, no papel de Pansy, uma dona de casa londrina que está muito longe de ser feliz, é atormentada por toda uma série de fobias e de pequenas paranóias, embirra violenta e amargamente com tudo e todos, e tem conflitos constantes com o muito paciente marido, que trabalha como canalizador, e com o filho, que passa o dia a preguiçar e se sente esmagado e tolhido por ela. Já a sua irmã Chantelle (Michele Austin), mãe solteira, é completamente diferente de Pansy em tudo. Leva uma vida estável e organizada, é dona de um próspero cabeleireiro e as filhas têm bons empregos.

Leigh não dirigia Marianne Jean-Baptiste desde Segredos e Mentiras (1996), e tira aqui dela uma interpretação notável de intensidade agressiva e de azedume em jacto contínuo, fazendo dela o oposto polar da sempre alegre e militantemente optimista Poppy de Sally Hawkins em Um Dia de Cada Vez (2008). Onde aquela é solar e o filme exuberante, Pansy é sombria e Verdades Difíceis crispado. Mike Leigh não nos decifra esta intragável personagem – decerto a mais problemática e antipática das várias deste tipo que já filmou, ficcionais ou reais –, embora no final deixe no ar algumas vagas pistas que poderão ajudar; nem nos pede compaixão para ela (temos pena é dos familiares, dos conhecidos e dos estranhos que ela atormenta e destrata ao longo da fita…) ou trata como um estereótipo de melodrama ou tragicómico, abstendo-se ainda de qualquer grande revelação emocional ou catarse libertadora final para Pansy.

Verdades Difíceis é um filme de personagens complexas e “difíceis” como Mike Leigh as sabe conceber, sempre em estreita, longa e elaborada colaboração com os intérpretes, contemplando também aquele naturalismo profunda mas discretamente verosímil em tudo, dos ambientes e diálogos às personagens, e à forma como vivem e se relacionam umas com as outras, que só o realizador de Raparigas de Sucesso, Topsy – Turvy ou Peterloo consegue construir, encenar e filmar no cinema contemporâneo. Este foi também o último trabalho do director de fotografia Dick Pope, que morreu após a sua conclusão.

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Sei o que Fizeste no Verão Passado

Jennifer Kaytin Robinson assina o novo filme da série de thrillers de terror iniciada com Sei o que Fizeste no Verão Passado (1997), e continuada com Ainda Sei o que Fizeste no Verão Passado (1998). Houve ainda uma terceira fita, Vou Sempre Saber o que Fizeste no Verão Passado (2006), que foi directamente para home video, e uma série de televisão. Este quarto filme conta com a participação de alguns intérpretes dos dois primeiros, caso de Jennifer Love Hewitt e Freddie Prinze Jr. 

+ ‘Sei o que Fizeste no Verão Passado’: o assassino do gancho não desiste

Superman

James Gunn assina esta nova incarnação no cinema de Super-Homem, agora interpretado por David Corenswet. O realizador de filmes como Esquadrão Suicida e a série Guardiões da Galáxia assina também o argumento de Superman, que procura refrescar a personalidade do histórico super-herói criado por Jerry Siegel e Joe Schuster, apresentando-o como uma personagem guiada pela compaixão e pela crença na bondade da humanidade, mas que percebe que está num mundo em que tais valores são vistos como antiquados. Rachel Brosnahan interpreta Lois Lane e Nicholas Hoult é Lex Luthor.

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  • Filmes
  • 3/5 estrelas
  • Recomendado

Os filmes de terror sobre exorcismos são todos devedores, inevitavelmente, de O Exorcista, de William Friedkin. E nenhum dos muitos já feitos depois conseguiram alçar-se ao nível deste, mesmo quando tentaram contornar ou inovar a pauta narrativa, estilística e emocional que a fita de Friedkin estabeleceu (ver, por exemplo, o recente O Exorcismo, de Joshua John Miller, com Russell Crowe).

Em O Ritual, passado no interior dos EUA nos anos 20 e alegadamente baseado em factos reais, como é habitual nestes filmes, David Midell recorre às situações, convenções e personagens tipificadas que este subgénero do terror sobrenatural consagrou, mas consegue ao mesmo tempo escapar-se ao espartilho do formato, ao dar tanta atenção ao exorcismo em si como à erosão física, à inquietação psicológica e à perturbação espiritual sentida pelos dois padres que o estão a fazer, e pelas freiras do mosteiro em que se encontram.

Midell tem ainda uma abordagem visual e gráfica mais elíptica e comedida do que o habitual às sequências de possessão e de exorcismo, que rima com a interpretação invulgarmente contida de Al Pacino no frade capuchinho exorcista, bem coadjuvado por Dan Stevens no jovem padre perturbado pelo recente suicídio do irmão, e que sente a sua fé abalada. Aliás, uma das sequências mais conseguidas e arrepiantes de O Ritual não é de exorcismo, mas sim aquela em que a personagem de Pacino é visitada, de noite, por uma entidade demoníaca, que fica na sombra a proferir as suas ameaças.

Ler Lolita em Teerão

A história verdadeira de uma professora de literatura que junta secretamente, na sua casa de Teerão, um pequeno grupo de alunas mais empenhadas, para que possam continuar a ler os clássicos da literatura ocidental que os fundamentalistas religiosos do seu país e a Polícia da Moralidade Islâmica querem apreender e obrigar a deixarem de ser ensinados. As raparigas depressa removem véus e esquecem constrangimentos, e as suas histórias começam a cruzar-se com as das heroínas dos romances de Nabokov, Jane Austen ou Henry James. Na realização, Eran Riklis.

+ ‘Ler Lolita em Teerão’: a literatura contra a teocracia iraniana

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Mundo Jurássico: Renascimento

Scarlett Johansson, Mahershala Ali, Rupert Friend e Jonathan Bailey são os principais intérpretes de Mundo Jurássico: Renascimento, de Gareth Edwards, que se passa cinco anos após os acontecimentos do filme anterior desta série Mundo Jurássico: Domínio (2022). Entretanto, a ecologia tornou-se madrasta para os dinossauros sobreviventes, limitados a habitar regiões isoladas e tropicais. Chega então uma equipa que vem numa expedição para recolher material genético das criaturas pré-históricas. Mas a missão complica-se dramaticamente.

  • Filmes
  • 3/5 estrelas
  • Recomendado

Grande produção norueguesa passada durante a II Guerra Mundial, Comboio do Ártico é realizada por Henrik Martin Dahlsbakken. O filme acompanha, no Verão de 1942, os 35 navios civis que formam um comboio que transporta, pela perigosa rota do Árctico, material bélico e abastecimentos vitais para a União Soviética invadida pelos alemães. De súbito, há ordens para o comboio ser desfeito e os cargueiros optarem para continuarem a seguir para Murmansk, o seu destino, ou regressarem à Islândia, de onde partiram. Dahlsbakken passa então a centrar a acção num barco que fica isolado e à mercê das minas e dos ataques dos submarinos e aviões inimigos. Comboio do Ártico transforma-se então num filme de suspense eficaz e muito realista, e passa a focar-se nos conflitos, nas tensões e nas relações entre os membros da tripulação, que não deixam de fora o comandante. Este quer prosseguir na rota definida mas o imediato é da opinião que se deve ou regressar, ou ir para águas geladas mais seguras. A fita foi rodada num velho barco de transporte de carvão que participou nas duas guerras mundiais e foi preservado, o que contribui muito para a autenticidade da atmosfera vivida a bordo.

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F1: O Filme

Sonny Hayes (Brad Pitt) é um antigo piloto de Fórmula 1 que decide regressar às pistas para integrar uma nova equipa, a Apex, experimentar um novo carro e correr ao lado de um piloto mais novo e inexperiente, a que irá servir de mentor. Parte da rodagem de F1: O Filme decorreu durante o Grande Prémio de Inglaterra de 2024, e a fita contou com a participação de todos os pilotos da modalidade. Os carros da equipa de Pitt são de Fórmula 2 com equipamento de Fórmula 1. Lewis Hamilton é um dos produtores da fita, Joseph Kosinski realiza.

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A Vida Luminosa

Filme do português João Rosa centrado em Nicolau, um rapaz de 24 anos que vive com os pais em Lisboa, está refém de um sonho de ser músico que não se concretiza e preso à figura da ex-namorada que o deixou há um ano e que não voltou a ver. E sente-se incapaz de seguir em frente com a vida.

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  • Filmes
  • 3/5 estrelas
  • Recomendado

Tom Hiddleston interpreta o papel do título nesta adaptação de uma novela de Stephen King, uma história contada em sentido cronológico inverso e três partes, que começa com o fim da vida de Chuck Krantz, um homem comum que nunca saiu da pequena cidade dos EUA em que viu a luz do dia e cresceu, mas à qual está ligada o destino do universo, e depois recua no tempo para ver como ele a viveu.

Realizado por Mike Flanagan, que já assinou outras duas adaptações de livros do escritor, Jogo Perigoso (2017) e Doutor Sono (2019), A Vida de Chuck assenta um pé no fantástico e outro no realismo (que Stephen King também cultiva ocasionalmente), a sua decifração assenta num poema de Walt Whitman que é referido por um par de vezes durante a história, e assemelha-se ao resultado da junção do espírito de um filme de Frank Capra como Do Céu Caiu Uma Estrela com o da série The Twilight Zone.

Tem alguma sacarina, mas que não chega para ser enjoativo, e a “mensagem” é evidente, embora não pese demais, e a primeira parte, quando se começam a manifestar os sinais do fim do universo associados à agonia de Krantz, quase que vale por toda a fita, que tanto pode ser entendida metaforica (a morte de um homem é também a de todo um universo que ele contém) como literalmente (a existência do universo está, de forma inexplicável, ligada à de um indivíduo anónimo e aparentemente sem importância). Mark Hamill interpreta o papel do avô de Chuck.

28 Anos Depois

O realizador Danny Boyle e o argumentista Alex Garland regressam ao mundo pós-apocalíptico e povoado por zombies de 28 Dias Depois (2002) e 28 Semanas Depois (2007). Em 28 Anos Depois, um grupo de sobreviventes do vírus devastador vive há quase três décadas numa pequena ilha. Quando um dos seus membros vai numa missão ao continente, descobre segredos e horrores que causaram mutações não só nos infectados, como também em outros sobreviventes. Interpretações de Ralph Fiennes, Aaron Taylor-Johnson e Jodie Comer.

+ ‘28 Anos Depois’: regresso ao mundo pós-apocalipse

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  • Filmes
  • Comédia
  • 3/5 estrelas
  • Recomendado

Pouco antes da actual moda dos “Starter Packs” na Internet, houve outra, que embora breve, foi bastante significativa para os cinéfilos: a dos falsos trailers de filmes de sucesso mundial, tal como teriam sido realizados por Wes Anderson, gerados por Inteligência Artificial (IA) e feitos por fãs do realizador de Um Peixe Fora de Água, Moonrise Kingdom e O Grande Hotel Budapeste. Entre os melhores destes trailers brincalhões, todos eles pastiches impecáveis do inconfundível estilo visual de Anderson e que podem ser encontrados no YouTube, estão os de franchises como Guerra das Estrelas, The Matrix, O Senhor dos Anéis e Harry Potter.

Já antes o célebre programa Saturday Night Live tinha feito um sketch com a forma de um trailer de um falso filme de terror de Anderson, intitulado The Midnight Coterie of Sinister Intruders, onde Edward Norton finge ser Owen Wilson, um dos actores favoritos e regulares do realizador. Estas novas brincadeiras digitais em redor da peculiar estética de Wes Anderson levaram ao aparecimento de alguns artigos sisudos sobre os perigos da IA na sua aplicação ao cinema. Mas não se pode negar aos autores dos ditos trailers conhecimento dos tiques cinematográficos do cineasta, muito menos sentido de humor. E Anderson não reagiu mal aos ditos, sentindo-se até lisonjeado.

Eles são, aliás, uma manifestação da enorme popularidade do realizador e do culto que o rodeia. Os seus idiossincráticos filmes podem irritar muita gente e ser aclamados por outra tanta, mas nunca deixam os cinéfilos impassíveis ou desinteressados. O Esquema Fenício teve estreia mundial no Festival de Cannes, onde competiu pela Palma de Ouro, e foi feito após uma publicidade cómica assinada por Anderson para comemorar os 100 anos de um modelo das canetas Montblanc, que também interpretou, juntamente com Jason Schwartzman e Rupert Friend.   

Passado nos anos 50 e descrito pelo próprio Wes Anderson como “uma mistura de filme sobre a relação entre um pai e uma filha, e uma história negra de espionagem global”, O Esquema Fenício foi escrito pelo realizador e por Roman Coppola, marcando a sexta colaboração entre ambos em termos de escrita de argumentos. Anderson disse também que a principal inspiração para o filme foi o nascimento da sua filha Freya. E que a sua mulher havia previsto que o feliz acontecimento, e o facto de ser pai pela primeira vez, de certeza o conduziria a fazer uma fita envolvendo um pai dedicado e a sua desvelada filha – ambos consideravelmente excêntricos, como não podia deixar de ser.  

Em O Esquema Fenício, Benicio Del Toro interpreta Zsa-zsa Korda, um magnata das indústrias de armamento e de aviação apaixonado por arte clássica, e cuja vida é marcada por acontecimentos peculiares e características insólitas. Entre eles estão o ter sobrevivido a seis acidentes de aviação e ter dez filhos (com os quais não vive). A sua filha favorita, Liesl (Mia Threapleton) é uma freira noviça que se interessou e envolveu nos negócios da família, e que acompanha o pai para toda a parte, depois de ambos terem retomado contacto, muitos anos após a morte da mãe e de ela ter ido para o convento, e com a qual aquele se quer reconciliar. Com eles segue também o novo secretário/tutor artístico de Zsa-zsa, Bjorn (Michael Cera), um norueguês apaixonado por entomologia.

Zsa-zsa é execrado e vigiado de perto pelas grandes potências mundiais, e está empenhado em concretizar o “Esquema Fenício” do título, que ele concebeu para salvar as suas finanças, e para o qual precisa de deter a maioria do capital, partilhado por sócios mais ou menos suspeitos e por familiares que ou não o têm em grande conta, ou que o odeiam tanto que o querem matar. Mas o intrincado e bizarríssimo enredo de O Esquema Fenício é, mais uma vez, um cabide que Anderson utiliza para pendurar o seu formalismo a régua e esquadro, o gosto pelas encenações visuais inatacavelmente arrumadinhas, a simetria rigorosa, os dioramas em tamanho grande e “vivos”, e dominados pelas cores pastel, e a pormenorização microscópica. 

Só que desta feita, o filme é melhor que os dois anteriores (excluindo o quarteto de contos de Roald Dahl que Wes Anderson adaptou para a Netflix, A Incrível História de Henry Sugar), o atravancadíssimo Crónicas de França do Liberty, Kansas Evening Sun (2021) e sobretudo o árido e amaneirado Asteroid City (2023), porque mais narrativo, menos distante e mais “vivo” emocionalmente. Isto devido, por um lado, à relação entre pai e filha e à sua evolução, e pelo outro à personagem de Zsa-zsa, decalcado de magnatas como Giovanni Agnelli, Aristóteles Onassis ou Calouste Gulbenkian, e que Benicio Del Toro preenche com consistência, humor e riqueza interior, tornando-a em algo mais do que uma das marionetas unidimensionais e extravagantes típicas do realizador.    

No elenco de O Esquema Fenício, longo e muito variado, como também é habitual nos filmes de Anderson, encontramos nomes que já têm senha de presença neles, caso de Bill Murray (que faz de Deus bíblico), F. Murray Abraham, Rupert Friend, Willem Dafoe, Benedict Cumberbatch ou Scarlett Johansson. E que são acompanhados por estreantes no universo andersoniano como Tom Hanks, Charlotte Gainsbourg, Hope Davis, Jeffrey Wright ou Mathieu Amalric, uns com mais que fazer que outros, mas cujas personagens são todas obedientes à batuta do seu estrambótico demiurgo. Se não agradar totalmente aos que andam desiludidos com Wes Anderson desde Grand Budapest Hotel (e com a excepção da citada fita da Netflix), O Esquema Fenício poderá ser o primeiro para passo para uma reconciliação futura.

Elio

O pequeno Elio, herói da nova longa-metragem animada da Pixar, é um menino fascinado pelo espaço e por vida extraterrestre, e com uma imaginação muito fértil, que se vê envolvido numa complicada aventura cósmica em que vai fazer amizade com criaturas alienígenas.

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Marés Vivas

Jia Zhangke, realizador de títulos tão importantes do cinema chinês contemporâneo como Plataforma, O Mundo, Se as Montanhas se Afastam ou China – Um Toque de Pecado, centra este novo filme numa rapariga que parte numa viagem para se juntar ao namorado, anos depois de este a ter deixado numa grande cidade e haver prometido vir buscá-la, quando tivesse ganho dinheiro suficiente para poderem encetar uma vida em comum. 

  • Filmes
  • Acção e aventura
  • 3/5 estrelas
  • Recomendado

Chega finalmente aos ecrãs a segunda parte, e oitavo título, daquele que será o derradeiro filme desta série de espionagem e acção protagonizada por Tom Cruise desde o primeiro, estreado em 1996, há quase 30 anos. Ethan Hunt e a sua equipa, mais alguns aliados que apanham pelo caminho, continuam a tentar anular a Entidade incorpórea (o vilão digital da fita) que se quer apoderar de todos os arsenais nucleares mundiais e desencadear um holocausto atómico no planeta, bem como Gabriel (o segundo vilão, este humano), que pretende, pelo seu lado, controlar a Entidade e ser ele a mandar no planeta.

Embora com menos e menos variadas sequências de acção do que o anterior, Missão: Impossível – Ajuste de Contas – Parte Um (2023), e um pouco mais de palha de explicações e de exposição, sobretudo na primeira meia hora, Missão: Impossível – O Ajuste de Contas Final, realizado com mão firme e visão panorâmica por Christopher McQuarrie (no seu quarto filme da série), continua à altura dos pergaminhos desta saga que passou a ocupar o lugar central no cinema do género (sobretudo depois que James Bond deixou de se manifestar), e Tom Cruise, à beira de fazer 63 anos, afirma-se mais uma vez, e em simultâneo, como superprodutor, “estrela” de primeira grandeza e como o actor mais trabalhador, entusiasmado, profissional e que mais arrisca – a própria vida, mesmo, já que dispensa os “duplos” – para dar o maior, melhor, mais arrebatador e inédito espectáculo do mundo aos espectadores. A longa sequência final do duelo entre os biplanos dos anos 30, pilotados por Hunt e por Gabriel (Esai Morales) fica desde já para a história do cinema de acção, juntando-se à do comboio na Parte Um.

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  • Filmes
  • Comédia
  • 3/5 estrelas
  • Recomendado

Vencedor dos Césares de Melhor Primeiro Filme e Revelação Feminina, Amor e Queijo, de Louise Courvoisier, centra-se Totone, de 18 anos, que após a morte do pai, um queijeiro e fazendeiro, tem de abdicar da sua vida despreocupada de adolescente e cuidar da irmã mais nova e da quinta da família, em difícil situação financeira. Para conseguir ganhar dinheiro, o rapaz decide entrar num concurso para eleger o melhor queijo Comté, produzido artesanalmente naquela região do Jura. Feito com a ajuda da família e actores não profissionais, este modesto mas sincero e afectuoso filme de estreia de Louise Courvoisier está enraizado na identidade, na paisagem e nas realidades da região em que a realizadora nasceu, sem precisar de ademanes “pitorescos” nem de sublinhar a autenticidade, e a sua história valoriza a família, a amizade e o esforço, mesmo que as coisas não corram bem logo à primeira.

  • Filmes
  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

Vencedor do Grande Prémio do Júri no Festival de Veneza, e candidato pela Itália à nomeação ao Óscar de Melhor Filme Internacional, Vermiglio, escrito e realizado por Maura Delpero, passa-se entre 1944 e 1945, na remota vila montanhosa do título, à qual chegam certo dia dois desertores do exército transalpino, que ali se refugiam, dividindo as opiniões dos locais: alguns, apoiam o que eles fizeram, outros, reprovam a sua fuga ao dever. Um dos soldados, siciliano, envolve-se amorosamente com a filha mais velha do respeitado professor local, Cesare, que tem uma família numerosa. Engravida-a e casam-se, mas a guerra acaba entretanto e o rapaz tem que regressar à sua Sicília natal para regularizar a sua situação militar. Maura Delpero remete para o cinema dos irmãos Taviani, e muito especialmente de Ermanno Olmi, com este filme em que recria meticulosa e placidamente, sem pressupostos político-“sociológicos”, e com uma reserva emocional que não impede a empatia com as personagens, o quotidiano de uma distante comunidade rural italiana nos meados da década de 40 e finais da II Guerra Mundial, e a vida dos membros de uma família que faz parte daquela, os Graziadei, cada qual uma pequena história em si.

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  • Filmes
  • Drama
  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

Depois de dez anos na prisão, Lang (Eddie Peng) regressa à sua remota cidade natal, no noroeste da China, agora muito degradada e que vai ser demolida em grande parte para dar lugar a um complexo de fábricas, no âmbito do esforço de desenvolvimento nacional quando dos Jogos Olímpicos de Pequim de 2008. Lang apenas arranja emprego a apanhar cães vadios e abandonados, que estão por toda a cidade, e acaba por ficar com um cão preto que o mordeu e pelo qual havia uma grande recompensa, após ter estado isolado com o animal para evitar a eventual propagação do vírus da raiva. E desenvolve-se uma amizade entre eles.

Há toda uma vasta filmografia sobre os laços e o companheirismo entre o homem e o cão, e a lealdade, a fidelidade e mesmo o espírito de sacrifício que decorrem deles, e Cão Preto, de Guan Hu, vai mesmo lá para o topo da lista. Além de contar a lacónica mas tocante história da ligação entre o solitário e individualista Lang, e o animal igual a ele em feitio que adopta, e que é o seu correlativo canino, Hu recria também, na desolada cidade em que se passa o enredo, um momento fulcral da história colectiva recente da China, longe da fachada de optimismo propagandístico e de auto-congratulação estridente do Estado central e do Partido Comunista. E fá-lo harmonizando um realismo áspero e uma fantasia de recorte surreal, com uma câmara de vistas amplas que capta e incorpora na narrativa a vastidão esmagadora das paisagens da região, remetendo quer para os westerns e para os road movies do cinema ocidental, quer para a tradição do filme épico, de aventuras e histórico chinês.

Cão Preto ganhou a secção paralela Un Certain Regard do Festival de Cannes 2024 e, para rematar com final feliz fora da tela, o actor Eddie Peng ficou com o cão após a rodagem. 

Filmes em estreia no streaming

O Maluco do Golfe 2

Continuação da comédia de 1996 interpretada por Adam Sandler, que regressa aqui ao papel do jogador de golfe do título. Agora reformado, Gilmore vê-se obrigado a voltar a pegar nos tacos e a competir, para poder pagar as lições de ballet da filha. Ben Stiller, Julie Bowen, Dennis Dugan, Christopher McDonald e Benny Safdie também estão no elenco do filme, que conta ainda com a participação de grandes nomes do mundo do golfe profissional.

Netflix. Estreia a 25 de Julho

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