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Os 100 melhores filmes de terror de sempre

Tenha medo, muito medo. Estes são os melhores filmes de terror da história do cinema

Escrito por
Editores da Time Out Lisboa
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Escolher os melhores filmes de terror de todos os tempos é assustador, a todos os níveis. Sobretudo tendo em conta a atenção que o género tem recebido em anos recentes, à custa de obras como Foge ou Hereditário. Parece que, depois de anos nas margens, o cinema de terror está a passar por um momento de adulação crítica.

Ainda assim, quando chegou a altura de escolher os filmes mais assustadores de sempre, além dos críticos da Time Out, consultámos aqueles que nunca tiveram medo do terror. Desde o mestre Stephen King a um autor como Guillermo del Toro, passando por amantes do género como Simon Pegg ou o músico Alice Cooper.

O resultado é uma lista variada e que inclui, inevitavelmente, algumas escolhas polémicas. Será Alien, o Oitavo Passageiro, o clássico de ficção científica de Ridley Scott, um filme de terror? Faz sentido colocar O Silêncio dos Inocentes, de Jonathan Demme, na mesma lista que As Noites de Halloween ou O Exorcista? Os críticos e especialistas consultados acharam que sim. Eis os 100 melhores filmes de terror de sempre.

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Os 100 melhores filmes de terror de sempre

100. O Senhor Babadook (The Babadook, 2014)

Realizador: Jennifer Kent

Elenco: Essie Davis, Noah Wiseman

 

O território onde os filmes de terror se justapõem ao realismo social continua a não ser devidamente explorado pela maior parte dos realizadores. O terror tem sido, tradicionalmente, um género virado para o entretenimento – ainda que retorcido – e lembranças das tragédias do mundo real tendem a ter pouca graça. É por isso que devemos aplaudir o primeiro filme de Jennifer Kent, por nunca encarar de frente o tormento da sua personagem principal: porque sim, Amelia está a ser perseguida por algo sobrenatural. Mas nunca sabemos ao certo se isso tornou a vida da protagonista consideravelmente pior, por isso compreende-se que tenha sido um dos mais bem recebidos filmes de terror desta década.

99. Nevoeiro Misterioso (The Mist, 2007)

Realizador: Frank Darabont

Elenco: Thomas Jane, Marcia Gay Harden, Toby Jones

 

Frank Darabont já se tinha atirado à obra de Stephen King por duas ocasiões – em Os Condenados de Shawshank (1994) e À Espera de um Milagre (1998) – quando finalmente fez o seu primeiro filme assumidamente de terror. Uma adaptação erma da novela de King sobre um nevoeiro misterioso que cobre uma terriola, forçando os habitantes a abrigarem-se no supermercado local. De certa forma é quase nostálgico, um filme de monstros à antiga com tentáculos e tudo que ganha nova vida na reluzente e monocromática versão em DVD. Mas também é um drama ferozmente moderno, já que, desfazendo a estrutura política e social da América dos anos Bush, Darabont faz da câmara um microscópio com o qual analisa dogmas religiosos, divisões políticas e intervenções militares, num dos mais inteligentes, estimulantes e desoladores filmes de terror deste século.

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98. Martin (1976)

Realizador: George A. Romero

Elenco: John Amplas, Lincoln Maazel

 

Filmes de terror que encorajam o público a simpatizar com o monstro não são nada de novo, mas esse paradoxo raras vezes foi explorado de uma forma mais inteligente do que nesta obra-prima de antiterror de George Romero. John Amplas encarna a personagem que dá título ao filme, um adolescente solitário da Pensilvânia que o primo mais velho, um maluquinho religioso, acha que é Nosferatu. A força do filme reside nas suas ideias peculiares sobre a concretização de sonhos adolescentes e a forma como os mais novos reagem a imagens aterradoras – Martin quer desesperadamente acreditar que não é apenas mais um miúdo estranho e a sua vida interior é representada numa série de grandiosos, assombrados e belos quadros monocromáticos. Como fez nos seus filmes de mortos-vivos, Romero ergue o terror sobre uma realidade suja e complexa, e este também é um filme sobre a pobreza americana e as suas inesperadas consequências.

97. Foi Deus Quem Ordenou (God Told Me To, 1976)

Realizador: Larry Cohen

Elenco: Tony Lo Bianco, Deborah Raffin

 

Larry Cohen é, decididamente, um dos mais inventivos e idiossincráticos escritores/ realizadores americanos da década de 1970, com uma obra que vai do comentário social de baixo orçamento à blaxploitation e alguns dos filmes de terror mais politicamente engajados de sempre. Mas aqui estamos, passadas quatro décadas, e ele só consegue meter um filme no nosso top 100. Foi Deus Quem Ordenou é, sem dúvida, um dos mais escuros e estranhos filmes que se encontram nestas páginas, uma história de assassínios em série, clamor religioso e raptos extraterrestres rodada nalgumas das ruas mais mal frequentadas da Nova Iorque da década de 1970. Cohen merece ser mencionado ao lado de Carpenter e Craven no cânone do terror – e esta é capaz de ser a sua obra-prima, se bem que Terror Sobre a Cidade, O Monstro Está Vivo! (It’s Alive) e Substância Maldita andem lá perto.

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96. Vai Seguir-te (It Follows, 2015)

Realizador: David Robert Mitchell

Elenco: Maika Monroe, Keir Gilchrist

 

Não há nada de errado com um filme de terror feito às três pancadas – membros a voar, monstros de cartão, péssimas interpretações. Mas há algo de particularmente prazenteiro – e perturbador – num filme de terror em que cada plano, cada fala, cada batida foi minuciosamente pensada para assustar o espectador. Vai Seguir-te é um bom exemplo: o realizador David Robert Mitchell sabe perfeitamente o que pretende e para onde nos está a levar em cada segundo desta história sobrenatural suburbana, esparsa e precisa, mas multidimensional, sobre o desejo sexual e as suas consequências.

95. A Sociedade (Society, 1989)

Realizador: Brian Yuzna

Elenco: Billy Warlock, Devin DeVasquez

 

Uma história sobre como os ricos abusam dos pobres não apenas económica, espiritual e politicamente, mas também fisicamente. O tom pode ser insigne e luminoso, mas é um filme muito sério, e a forma como o estreante Brian Yuzna vai libertando a informação é deliciosamente subversiva. E depois há o final épico, um dos mais chocantes do cinema, uma espécie de A Grande Farra para maluquinhos dos efeitos especiais, com piadas de peidos e fisting até à morte.

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94. Gritos (Scream, 1996)

Realizador: Wes Craven

Elenco: Neve Campbell, Courteney Cox

 

O irónico e icónico slasher de Wes Craven não inventou o meta-terror com constantes piscares de olho ao espectador e à história do género – o realizador já tinha molhado o dedo do pé nessas águas um par de anos antes, com O Novo Pesadelo de Freddy Krueger –, mas contribuiu decisivamente para a popularidade deste subgénero nos anos de 1990. A partir da sequência inicial em que um totó mascarado aterroriza Drew Barrymore com um quiz slasher antes de espalhar as suas entranhas pelo relvado, damos de caras com um novo e divertido tipo de filme de terror, em que as referências partilhadas pelos personagens e pelo público conspiram para tornar tudo mais convincente – mesmo que nunca seja propriamente realista.

93. O Soro Maléfico (Re-Animator, 1985)

Realizador: Stuart Gordon

Elenco: Jeffrey Combs, Bruce Abbott

 

Algures entre o conto original de H.P. Lovecraft e A República dos Cucos, de John Landis, O Soro Maléfico é uma fita de terror cartoonesca, que entrelaça sangue e gargalhadas num desfile vertiginoso de imagética grotesca. Jeffrey Combs interpreta o perturbado anti-herói Herbert West (até a forma como pronuncia o nome tem piada), o cientista que descobre um soro ressuscitador verde fluorescente. O Soro Maléfico é estranho, louco, imprevisível e frequentemente tonto, o tipo de filme de terror esquisito e imaginativo que parece ter passado de moda.

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92. Henry: A Sombra de Um Assassino (Henry: Portrait of a Serial Killer, 1986)

Realizador: John McNaughton

Elenco: Henry Rooker, Tom Towles, Tracy Arnold

 

Com um tom frio e absorto reminiscente da adaptação do livro A Sangue Frio, de Truman Capote, por Richard Brooks, em 1967, este filme de uma inteligência feroz retrata os assassínios do psicopata Henry (Rooker) e do seu companheiro de prisão, Otis (Towles). Para começar, a violência é relativamente oblíqua: os anteriores homicídios são apresentados como uma série de quadros grotescos, acompanhados pelo som das vítimas à beira da morte. Mas, com o passar do filme, os assassínios tornam-se cada vez mais difíceis de ver.

91. Morte Cerebral (Braindead, 1992)  

Realizador: Peter Jackson

Elenco: Timothy Balme, Diana Peñalver, Elizabeth Moody

 

Antes de se render aos hobbits, Peter Jackson era um dos mais inventivos e ferozes realizadores independentes de filmes de terror de baixo orçamento, um sucessor digno de pioneiros do gore DIY, como George Romero ou Sam Raimi. O primeiro filme, Carne Humana Precisa-se, foi feito ao longo de quatro anos, aos fins-de-semana, por ele e uns quantos amigos, mas quando chegou a altura de fazer Morte Cerebral já tinha um orçamento (ou perto disso) e uma equipa de profissionais. O resultado é um dos mais incansáveis e desagradáveis filmes alguma vez estreados, com macacos mutantes, zombies devoradores de carne, cortadores de relva assassinos e padres que lutam kung-fu.

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90. Irmãos Inseparáveis (Dead Ringers, 1988)

Realizador: David Cronenberg

Elenco: Jeremy Irons, Genevieve Bujold

 

Mais do que qualquer outro filme de Cronenberg, Irmãos Inseparáveis testa os limites do terror. Tem sangue, ferramentas para operar mulheres mutantes e uma aura tensa, mas é sobretudo um estudo sobre a psicose doméstica em circunstâncias extremas. Também é um exercício de representação sem paralelo, com Jeremy Irons a interpretar ambos os protagonistas, os gémeos ginecologistas Elliot e Beverly Mantle. O que é assombroso é quão clara e facilmente o realizador os distingue: Elliot é uma personagem forte e tipicamente masculina; Beverly é mais passivo, cuidadoso, feminino.

89. Dia dos Mortos (Day of the Dead, 1985)

Realizador: George A Romero

Elenco: Lori Cardille, Terry Alexander

 

Muito boa gente ficou desiludida com a conclusão da trilogia dos Mortos-Vivos de Romero, por não ser tão inovadora como A Noite dos Mortos-Vivos nem tão satírica e divertida como Zombie: A Maldição dos Mortos Vivos. E aquilo que o realizador originalmente ambicionou para o projecto – um ataque à desigualdade dos anos Reagan – não foi possível de conceber por motivos orçamentais, apesar de muitas dessas ideias terem sido aproveitadas no seu sucessor, Terra dos Mortos. Não obstante, Dia dos Mortos continua a ser um filme espantoso, um ataque sensorial constante alimentado por uma sensação de desespero e um niilismo sem precedentes. A dada altura, é difícil saber por quem estamos a torcer, se pelos soldados lamuriosos, os supostos heróis, ou pelos seus prisioneiros zombies, humanizados pelo morto-vivo pensante Bub.

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88. O Homem Sem Braços (The Unknown, 1927)

Realizador: Tod Browning

Elenco: Lon Chaney, Joan Crawford

 

Cinco anos antes de A Parada dos Monstros, Tod Browning realizou outra história retorcida sobre atracções e artistas circenses que se apaixonam e separam, magoando-se uns aos outros. Nesta história de um estrangulador com dois polegares na mão esquerda, que se faz passar por um faquir sem braços para seduzir uma linda rapariga aterrorizada por mãos de homens, as pessoas aparentemente mais estranhas e diferentes são também as mais retorcidas. Não é por acaso que há quem considere que A Parada dos Monstros acaba por ser um pedido de desculpas por O Homem Sem Braços.

87. A Nona Sessão (Session 9, 2001)

Realizador: Brad Anderson

Elenco: Peter Mullan, David Caruso

 

Este filme independente americano praticamente sem orçamento tornou-se um objecto de culto. E não podia ambicionar mais: é tão sombrio, estranho e inquietante que nunca seria abraçado pela corrente dominante do cinema. Peter Mullan está incrível no papel de Gordon, o chefe de uma empresa de remoção de amianto encarregado de limpar e esvaziar um hospital psiquiátrico abandonado. Filmado integralmente em vídeo digital HD, tem um lustre sobrenatural, hiper-real, que contribui para uma atmosfera asfixiante.

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86. Salò ou Os 120 Dias de Sodoma (Salò o le 120 giornate di Sodoma, 1975)

Realizador: Pier Paolo Pasolini

Elenco: Paolo Bonacelli, Giorgio Cataldi

 

A derradeira película de Pasolini está longe de ser um filme de terror no sentido tradicional – mas é difícil imaginar algum filme desta lista a ultrapassar a sua concepção do desespero e a sua visão sombria e pessimista da humanidade. Inspirado nos escritos do Marquês de Sade e influenciado pelo Inferno de Dante, Pasolini imaginou quatro libertinos fascistas que prendem um grupo de jovens rapazes e raparigas num casarão italiano e os submetem a um inconcebível ciclo de terror. Violação, tortura, homicídio, pessoas obrigadas a comer merda – está tudo aqui. O filme ofendeu largos sectores da sociedade, mas hoje quaisquer comparações com pornografia parecem ridículas. Há uma total ausência de prazer neste retrato perturbador de uma sociedade feita em cacos.

85. Fantasma (Phantasm, 1979)

Realizador: Don Coscarelli

Elenco: Michael Baldwin, Reggie Bannister, Angus Scrimm

 

Espécie de ligação entre o baixo orçamento do cinema grindhouse dos anos 1970 e o terror americano da década seguinte, Fantasma é um filme idiossincrático que combina terror faça-você-mesmo inventivo e um enredo delirante que envolve anões espaciais assassinos, homens dos gelados heróicos, esferas voadoras que furam cérebros e, claro, o assustador Homem Alto. Ao longo de três selváticas sequelas, Don Coscarelli expandiria o seu bizarro universo de maneiras delirantes e imaginativas, mas nada se compara ao original.

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84. O Orfanato (El Orfanato, 2007)

Realizador: JA Bayona

Elenco: Belén Rueda, Fernando Cayo, Roger Príncep

 

O que é que pode ser mais assustador do que uma casa assombrada? Um orfanato assombrado, obviamente. Uma típica história de fantasmas, com soalho a ranger e uma atmosfera sombria, sobre uma mulher, Laura (Belén Rueda), que compra o orfanato onde passou parte da infância e vai para lá com o marido e o filho de sete anos, Simón (Roger Príncep), que não sabe que é adoptado e tem uma doença grave. Mas um dia, ao ler Peter Pan, a criança afirma que nunca vai crescer. Será que esteve a ouvir atrás das portas? Ele garante que não, que foi um dos amigos imaginários que lhe disse (amigos imaginários ou os espíritos dos anteriores residentes do orfanato?). E o posterior desaparecimento de Simon lança o filme numa direcção aterradora.

83. O Horror de Drácula (Horror of Dracula, 1958)

Realizador: Terence Fisher

Elenco: Christopher Lee, Peter Cushing, Michael Gough

A Hammer foi mais do que uma produtora. Foi um santuário erguido ao cinema de terror e um refúgio para os fãs do género nas décadas de 1950 e 1960. Com muito sangue, violência chocante e actores como Christopher Lee e Peter Cushing. A Máscara de Frankenstein, de 1957, mostrou a um público mais vasto o que a Hammer tinha para dar, mas foi O Horror de Drácula, um filme influente e um fenómeno à escola global, que cimentou o seu sucesso. É suficientemente impressionante que Lee tenha conseguido sair da sombra do imortal Bela Lugosi, interpretando um Drácula viril, sensual e vicioso. No entanto, o seu verdadeiro impacto só se sentiu mais tarde: não voltou a haver outra adaptação de Bram Stoker tão cativante.

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82. As Três Faces do Terror (I Tre Volti Della Paura, 1963)

Realizador: Mario Bava

Elenco: Boris Karloff, Mark Damon, Michèle Mercier

 

É difícil fazer uma boa antologia de terror, contudo na versão original italiana (quanto menos falarmos da vergonhosa versão americana melhor) de As Três Faces do Terror, Mario Bava consegue conferir uma coerência estilística a estas três histórias díspares, graças ao uso expressionista da cor e da luz. Il Telefono é uma história de um erotismo macabro em que uma prostituta parisiense é aterrorizada pelo telefonema de um ex-chulo vingativo. Sob a influência do folclore vampiresco russo, I Wurdalak começa com a descoberta de um corpo esfaqueado ao qual cortaram a cabeça, e progride com cenas atmosféricas de sangue a ser chupado, enquanto uma enfermeira que roubou um valioso anel a um cadáver é perseguida pela culpa em La Goccia d'Acqua.

81. A Invasão dos Violadores (Invasion of the Body Snatchers, 1978)

Realizador: Philip Kaufman

Elenco: Donald Sutherland, Brooke Adams, Leonard Nimoy

 

O original, realizado em 1956, por Don Siegel, pode ser mais directo e envolvente, mas a versão de Philip Kaufman, na década de 1970, é sem dúvida mais engraçada e mais consciente do seu disparatado enredo. Todavia existem razões para essa diferença que não vêm apenas das diferentes perspectivas estéticas dos seus realizadores, pois enquanto o filme original é (enfim, dependendo das fontes) uma observação sobre o conformismo da era Macartista ou sobre a infiltração comunista, a nova versão torna o entrecho mais estranho caminhando por territórios mais ubíquos, realçando a queda estrepitosa dos ideais dos anos de 1960, com o seu desfile de freaks e convertidos à psicoterapia.

80. Midsommar – O Ritual (Midsommar, 2019)

Realizador: Ari Aster

Elenco: Florence Pugh, Jack Reynor, Will Poulter

 

Depois do soturno, invernoso e sobrenatural Hereditário (que também aparece nesta lista), Ari Aster assina aqui um filme de terror pagão passado no pino do Verão e todo à luz do dia. Um grupo de estudantes universitários americanos vai para a Suécia assistir, numa comunidade rural, às celebrações do Solstício de Verão, mas aquilo que parecia ser umas férias idílicas transforma-se num pesadelo que brota do passado remoto e tradicional. Em Midsommar – O Ritual, o horror é lenta e pacientemente construído por Aster, num gradual mas seguro crescendo de inquietação e desconforto, sem sustos falsos nem sobressaltos gratuitos. Com a excelente Florence Pugh e Jack Reynor.

79. Um Lugar Silencioso (A Quiet Place, 2018)

Realizador: John Krasinski

Elenco: Emily Blunt, John Krasinski, Millicent Simmonds, Noah Jupe

 

Neste filme, o realizador acompanha os trabalhos de uma família para sobreviver num mundo pós-apocalíptico patrulhado por uma espécie de extraterrestres que caça através do som, como uma espécie de golfinhos satânicos. Embora produzido por Michael Bay, a película é, em muitos aspectos, antítese do seu cinema enquanto realizador: em vez de ruído está o silêncio; em vez de acção desenfreada encontra-se a quietude. O que ainda torna a experiência mais aterrorizadora. Na sua primeira longa-metragem, Krasinski apresenta um controlo da tensão narrativa quase hitchcockiano, onde cada estalo ou sussurro pode atrair as bestas voadoras varrendo o terreno em redor. Emily Blunt tem uma interpretação que supera largamente o resto do elenco. E, sim, a cena do parto é inesquecível.

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78. Tentadora Maldição (Ginger Snaps, 2000)

Realizador: John Fawcett

Elenco: Emily Perkins, Katharine Isabelle


O corpo feminino foi sempre fonte de fascínio do cinema de terror, desde a sexualidade animal de A Pantera, de Jacques Torneur, ao mais contemporâneo Dentes (para quem não viu, o título brasileiro, Vagina Dentada, é mais esclarecedor sobre o enredo desta espécie de panfleto contra a violência sexual), de Mitchell Lichtenstein. Entre os corredores da frente deste pelotão de filmes está, sem dúvida, esta artificiosa produção canadiana (já considerada a melhor película da subcategoria lobisomem adolescente) na qual a primeira menstruação de uma rapariga é imediatamente seguida pelo selvático ataque de um cão e de uma série de assustadoras transformações físicas. Outra razão para a importância deste filme é a forma como retrata a vida na adolescência antes de o trauma liceal e o terror sobrenatural se tornarem um lugar comum.

77. O Nevoeiro (The Fog, 1979)

Realizador: John Carpenter

Elenco: Adrienne Barbeau, Jamie Lee Curtis, Janet Leigh

 

Se As Noites de Halloween versava sobre um mito urbano tornado realidade, a sua continuação (por assim dizer) é uma facada de John Carpenter na fábula de acampamento. O filme até começa como uma história de princesa prometida, com três jovens escutando a narrativa de como, um século antes, um nevoeiro misterioso caiu sobre Antonio Bay, desencadeando uma onda de criminalidade que um dia voltará a assombrar a cidade. Sem a brutalidade sanguinária da sua película anterior, Carpenter percorre aqui um território feito de sombras, um pouco na tradição da fantasmagoria da era vitoriana.

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76. Foge (Get Out, 2017)

Realizador: Jordan Peele

Elenco: Daniel Kaluuya, Allison Williams, Bradley Whitford, Catherine Keener

 

O cinema de terror apresenta-se no seu melhor quando o medo emana da condição humana propriamente dita. É isso que faz do filme de Jordan Peele (vencedor do Óscar para Melhor Argumento Original) uma das obras essenciais da memória cinematográfica recente. Protagonizado pelo actor britânico Daniel Kaluuya, no papel de Chris, um fotógrafo que acompanha a namorada branca em visita à família num fim-de-semana que dá para o torto, o terror, nesta película, nasce da forma como a narrativa funciona como um espelho para o persistente racismo da sociedade. Na construção da obra, Peele subverte as expectativas, claramente traçando um novo nicho do género pela utilização de partes iguais de horror, comédia e comentário social.

75. Fogo Maldito (Hellraiser, 1987)

Realizador: Clive Barker

Elenco: Andrew Robinson, Clare Higgins, Sean Chapman, Doug Bradley

 

Da perturbada imaginação do fabulista inglês Clive Barker nasceu este pacto faustiano com atitude, envolvendo um misterioso quebra-cabeças, um doloroso renascimento e uma dieta de carne humana necessária para devolver a pele ao sensual corpo musculado do ressuscitado Frank. Ao resolver o quebra-cabeças, o protagonista entra num mundo de requintada crueldade dirigido por Pinhead e os seus Cenobitas – uns sádicos glamorosos com uma inclinação para infligir dor transcendental em corpos esfolados. Apesar da vontade de "abraçar o monstruoso" do autor, o apelo fetichista dos Cenobitas anda de mãos dadas com a atmosfera tenebrosa onde se desenvolvem as ambiguidades morais de Frank, principalmente na relação com a ex-namorada, Júlia (agora mulher do seu irmão), que ressoa no subtexto que ainda envolve Kirsty, a sua sobrinha adolescente.

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74. A Máscara do Demónio (La Maschera del Demonio, 1960)

Realizador: Mario Bava

Elenco: Barbara Steele, John Richardson


Para os estudiosos da ficção de terror, 1960 é sem dúvida o ano de A Vítima do Medo e Psico. Mas a monocromática obra-prima de Bava merece ombrear com essoutras obras-primas, pois onde Michael Powell e Alfred Hitchcock revolucionavam o género colocando o terror no interior do lar, Bava faz praticamente o contrário, criando um muito imaginativo e ousado mundo de sonho inspirado nos clássicos produzidos pelos estúdios Universal, ao mesmo tempo que utiliza efeitos especiais inovadores para assegurar que os horrores descritos no ecrã eram mais assustadores do que alguma vez foram. A Máscara do Demónio é um filme nascido de uma variedade do imaginário surrealista mais chocante, começando logo na primeira cena, na qual uma máscara de pregos é, digamos, atarrachada ao rosto da bruxa interpretada por Barbara Steele.

73. Férias Assombradas (Black Christmas, 1974)

Realizador: Bob Clark

Elenco: Olivia Hussey, Keir Dullea, Margot Kidder


Versão canadiana de baixo orçamento do subgénero slasher sazonal lançado por Halloween, o perversamente imaginativo filme de Clark atrai para uma casa decrépita um grupo de universitárias, que logo são aterrorizadas por um telefonema obsceno antes de começarem a ser despachadas uma a uma. Neste trabalho, o realizador antecipa muito do que hoje são convenções familiares a qualquer cinéfilo, nomeadamente o recurso ao ponto de vista do assassino psicopata, reforçado por um desenho de som dissonante e concluído com uma floreada reviravolta final de grande efeito.

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72. Aliens: O Recontro Final (Aliens, 1986)

Realizador: James Cameron

Elenco: Sigourney Weaver, Michael Biehn


James Cameron dirige esta feroz primeira sequela do filme de Ridley Scott a que já se chamou épico de guerra, filme de acção, mas raramente cinema de terror. É verdade que o universo Alien é como uma cornucópia em constante produção de arrepiantes novidades, no entanto continua a ser uma película sobre criaturas escondidas na escuridão, e, apesar da investida das tropas especiais no interior abandonado de LV-426 recordar mais cinema de guerra, a violência do contra-ataque está mais conforme ao universo do terror. David Fincher, no terceiro tomo da série, havia de regressar aos princípios básicos do género, porém nenhuma das sequelas teve a intensidade impressa por Cameron.

71. A Velha Casa Sombria (The Old Dark House, 1932)

Realizador: James Whale

Elenco: Boris Karloff, Ernest Thesiger, Charles Laughton


Durante mais de 30 anos andou este filme perdido até, em 1968, ser encontrado nos cofres dos estúdios Universal. E ainda bem, pois seria uma tragédia perder-se esta deliciosamente mórbida comédia de, por assim dizer, costumes. A obra foi adaptada do romance de J.B. Priestley, Benighted, e apresenta um jovem casal, ela corista, ele um veterano de guerra e um rude industrialista que se fez a si próprio a partir de baixas origens, os quais, por mor de uma tempestade, se abrigam numa mansão que já teve melhores dias. Os seus habitantes, a família Femm, estão indiscutivelmente do lado dos doidos, principalmente o chefe de família, Horace, em constante conflito com a sua irmã surda. Nesta contagem deve ainda incluir-se o velho de 101 anos acamado no andar de cima, e Saul, o irmão piromaníaco aferrolhado no sótão, sem esquecer Morgan, o mordomo louco interpretado por Boris Karloff embebedando-se na cozinha. Na sua ácida lucidez e indiscutível graça, A Velha Casa Sombria é filme definitivamente a não perder.

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70. Operação Medo (Operazione Paura, 1966)

Realizador: Mario Bava

Elenco: Giacomo Rossi-Stuart, Erika Blanc

 

A assustadora história de fantasmas em cidade pequena e afastada criada por Mario Bava para esta película pode parecer ligeira entre a esquisitice explícita deste filme inovador. No entanto, Operação Medo é um trabalho radical e perturbador, onde um médico legista é chamado para autopsiar o corpo de uma donzela. No seu labor o homem encontra uma moeda de prata incrustada no coração da rapariga, e vem a descobrir que a cidade tem sobre si uma antiga maldição; pior: que os que dela falarem rapidamente encontram o seu fim. Aproveitando a oportunidade de filmar a cores, o realizador cria um mundo de pesadelo, que muito viria a inspirar o trabalho de Dario Argento e Lucio Fulci, particularmente explícito na cena em que o herói parece perseguir uma visão de si próprio, que, a bem dizer, antecede, plano a plano, o perturbante final da segunda temporada de Twin Peaks, de David Lynch.

69. O Gabinete do Dr. Caligari (Das Cabinet des Dr. Caligari, 1920)

Realizador: Robert Wiene

Elenco: Werner Krauss, Conrad Veidt

 

História de hipnotismo, histeria e múltiplos assassínios situada numa retorcida e folclórica paisagem alemã filtrada pela imaginação transtornada de um louco, com as suas paisagens fracturadas refletindo a mentalidade de uma nação derrotada, ao mesmo tempo anunciando mais desgraças no caminho, esta obra-prima de terror artístico dirigida por Robert Wiene é um caso raro no cinema de terror. Quase um século depois, mantém toda a sua importância cinematográfica e permanece genuinamente assustadora, principalmente na cena em que uma indefesa jovem é atacada por um estranho e tremelicante sonâmbulo, ou no final, transformando o mundo num manicómio, como se o realizador perguntasse quem é realmente são de espírito.

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68. 28 Dias Depois (28 Days Later, 2002)

Realizador: Danny Boyle

Elenco: Cillian Murphy, Naomie Harris and Christopher Eccleston

 

Cada geração tem os zombies que merece. E, segundo Danny Boyle, os desta geração estão carregadinhos de raiva. Senão vejamos: um grupo de militantes pela libertação dos animais liberta de um laboratório chimpanzés infectados por um vírus fatal, doença que rapidamente se espalha pela população do Reino Unido transformando as pessoas em zombies tarados. Um mês depois deste acontecimento, num hospital londrino, Jim, um ciclista estafeta, acorda do seu estado de coma para encontrar a cidade envolvida num estranho e profundo silêncio. Daqui em diante, cenas há de arrepiar a espinha, como aquela em que um bando de ratos foge aterrorizado pela autêntica maré de mortos-vivos que os persegue. Mas o verdadeiro terror chega quando Jim e o bando de sobreviventes que encontrou procura assegurar a sua segurança juntando-se a um grupo de soldados barricados numa mansão.

67. A Noite do Demónio (Night of the Demon, 1957)

Realizador: Jacques Tourneur

Elenco: Dana Andrews, Peggy Cummins, Niall MacGinnis


Jacques Tourneur nunca quis mostrar o monstro que aterroriza A Noite do Demónio. Mas o produtor Hal E. Chester muito insistiu e a besta flamejante lá faz duas aparições nesta fábula onde um psicólogo norte-americano, o doutor Holden, um céptico do paranormal conhecido em todo o planeta, está em Londres para desmascarar um culto demoníaco, julgando que o seu líder, o doutor Julian Karswell, é um inofensivo aldrabão. Tourneur tinha razão quanto ao monstro, mas o realizador francês que tanto trabalhou nos Estados Unidos, sabia do ofício e criou um manual de como assustar uma audiência apenas colocando uma mão sobre um corrimão.

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66. Haute Tension – Alta Tensão (Haute Tension, 2003)

Realizador: Alexandre Aja

Elenco: Cécile De France, Maïwenn Le Bosco, Philippe Nahon

 

O estilo retro deste filme-choque francês mostra um prodigioso conhecimento do cinema de terror da velha escola, do slasher ao giallo, misturado com uma sensibilidade cinematograficamente moderna, que acrescenta horror neste filme em que as personagens de Cécile De France e Maïwenn Le Bosco se entretêm a aterrorizar estudantes em férias. Desde o princípio que se percebe que as coisas não vão acabar bem: basta ver a personagem interpretada por Philippe Nahon fazendo um felácio a si próprio com a cabeça decepada de uma mulher. Esta imaginativa nojice, mais os não menos arrepiantes assassínios e cenas de perseguição são o suficiente para dar cabo dos nervos aos mais experientes, mas o realizador acrescentou um desenho de som a dar para o psicótico e, assim, ainda mais amplia a tensão, levando a coisa até quase ao insustentável. O problema é que, depois, o provocativo e mal engendrado argumento atira o filme por terra, ajudado, aliás, pela tendência de Aja para o chauvinismo da velha guarda que não consegue esconder.

65. Kairo (2001)

Realizador: Kiyoshi Kurosawa

Elenco: Kumiko Aso, Haruhiko Katô, Koyuki

 

Neste conto filosófico, Kurosawa usa o ambiente familiar da distopia própria da ficção científica misturado com o terror sobrenatural para explorar um mundo onde a comunicação na internet levou à erosão da coesão social, substituindo as relações e a comunicação entre humanos por uma solidão alienada. Neste universo, fantasmas sugadores de almas invadem a rede e espalham-se como vírus. Seduzidos pela estranha mensagem “Queres conhecer o fantasma?”, utilizadores obsessivos da internet abandonam família e amigos e colegas, afastando-se do mundo, tornando-se letárgicos, deprimidos e, finalmente, suicidas, fazendo de Tóquio um lugar de decadência espiritual – de que a sequela assinada por Jim Sonzero, em 2006, com produção de Wes Craven, apenas mantém a atmosfera mórbida e o final apocalíptico.

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64. As Sete Portas do Inferno (L'aldilà, 1981)

Realizador: Lucio Fulci

Elenco: Katherine MacColl, David Warbeck

 

Fora o cinema de autor, o terror é o único género onde surrealismo em estado puro não é apenas aceitável como até desejável, e existem bastante mais exemplos disponíveis do que este amalucado banho de sangue criado por Lucio Fulci. O enredo é bastante vulgar e, nele, uma mulher, ainda jovem, herda um hotel que tem o pequeno problema de ter sido construído sobre uma passagem para o inferno. Isto, porém, é apenas uma moldura desengonçada que o realizador depressa desfaz, no processo horrorizando a audiência com um desfile de rostos a derreterem-se sem explicação, tarântulas arrancando línguas humanas, mortos-vivos a levantarem-se das campas, ou olhos a serem repetidamente arrancados das respectivas órbitas. O resultado é uma variedade de pesadelo difícil de encontrar em qualquer outro filme desta lista, uma verdadeira descida às profundezas do imprevisto e do aterrorizadoramente belo terror.

63. O Segredo do Lago Mungo (Lake Mungo, 2008)

Realizador: Joel Anderson

Elenco: Rosie Traynor, David Pledger

 

Este filme é uma surpreendente presença na lista, mas sem dúvida que se reconhece a esta produção australiana de muito baixo orçamento a razão porque levantou tantas ondas quando apresentada na programação de cinema do festival SXSW. Embora mais ou menos imediatamente desaparecida dos radares, isto é, das salas, o seu efeito foi suficiente para aqui chegar, com certeza resultado de um culto subterrâneo mas activo de seguidores. Realizado como um falso documentário, o filme conta a história de estranhos e provavelmente sobrenaturais acontecimentos ocorridos na muito remota cidade australiana de Ararat em consequência da trágica seca do reservatório de água que servia a cidade. Nada por aqui é esteticamente inovador ou surpreendente, mas a fotografia é maravilhosa, as interpretações sólidas e os momentos de inquietude são manipulados com arrepiante destreza.

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62. A Sombra do Caçador (The Night of the Hunter, 1955)

Realizador: Charles Laughton

Elenco: Robert Mitchum, Shelley Winters, Lillian Gish

 

O único e excelente filme realizado pelo actor Charles Laughton pode ser aterrorizador, mas é realmente um filme de terror? A incerteza da resposta é com certeza uma explicação para estar tão mal colocado nesta lista, mas não há dúvida de que estamos perante cinema em estado puro. Seja como for, existem fortes laços com o género nesta obra em que Robert Mitchum interpreta Harry Powell, um padre assassino cuja busca pelo pecado o leva a perseguir e caçar um par de órfãos desvalidos. Porém, mais de meio século depois da estreia, a obra de Laughton continua a resistir às tentativas de a enquadrar num género ou categoria, pois se é um filme de terror é igualmente uma história de aventuras, um policial, um drama sobre rituais de passagem e um conto de fadas. Certo, apenas, é ser uma obra-prima do cinema.

61. As Diabólicas (Les Diaboliques, 1955)

Realizador: Henri-Georges Clouzot

Elenco: Véra Clouzot, Simone Signoret

 

Há muito divertimento neste intrincado filme liceal dirigido pelo cineasta francês Henri-Georges Clouzot, armadilhado por um cómico sentido de provocação com o bónus de uns bons sustos. Em primeiro lugar por conta das personagens grotescas, cada qual horrorosa à sua maneira, desde o nervoso reitor até à sua enervante esposa, passando pela sua agressiva amante, assegurando que não foi por acaso que Clouzot foi crismado como o “Hitchcock francês”. É uma comparação compreensível, pois, como o realizador inglês, também Clouzot soube distribuir na justa medida a sua porção de divertimento com bom número de sustos entre o público.

60. [Rec] (2007)

Realizador: Jaume Balagueró e Paco Plaza

Elenco: Manuela Velasco, Ferrán Terraza, David Vert

 

Poucos, entre os grandes filmes de terror, espalham tão pouco sangue como [Rec]. Mas voltemos um pouco atrás. Se O Projecto Blair Witch foi um momento determinante para a popularidade do subgénero imagens-encontradas-por-acaso-que-dão-um-filme assustador, a longa-metragem de Jaume Balagueró e Paco Plaza é uma feliz apropriação transferida para o universo do pesadelo zombie e legitimadora do formato digital como meio de criação ficcional. No filme, os espectadores acompanham a infernal jornada de uma repórter de televisão e do seu operador de câmara, saídos para a noite de Barcelona para acompanhar uma equipa de bombeiros chamados a um suspeitosamente sossegado prédio de apartamentos para depararem com um circo de horrores. No entanto, o mais importante é a forma como este filme deu início a um movimento e fez nascer uma mão-cheia de cineastas, mesmo que ainda em regime de prestação de provas.

59. Vampiro (Vampyr, 1932)

Realizador: Carl Theodor Dreyer

Elenco: Julian West, Jan Hieronimko, Sybille Schmitz

 

Costuma-se dizer que a primeira dentada é a mais profunda. Pois, em 1932, sem ser o primeiro filme sobre vampiros, Vampiro deixou uma cicatriz que ainda hoje se nota. E, no entanto, após a estreia, o crítico do The New York Times que escreveu sobre a obra não ficou nada impressionado. “Vampiro foi um dos piores filmes que vi”, escreveu. Apesar disso, acrescentou que a realização de Carl T. Dreyer é garantidamente “diferente”. E, de facto, é um filme diferente como mais nenhum outro até então. Dreyer monta o seu pesadelo cinematográfico a partir de dois contos de Sheridan Le Fanu. O protagonista é interpretado por Nicolas de Gunzburg (um aristocrata russo que financiou a rodagem, no genérico referido com o nome Julian West), um jovem obcecado com o oculto que visita uma aldeia francesa atormentada por um vampiro. No interim, o senhor da mansão e manda-chuva do sítio morre e a filha fica gravemente doente, apresentando misteriosos sinais de dentadas no pescoço. A vontade de Dreyer, disse o realizador dinamarquês, era “criar um sonho acordado no ecrã e mostrar que o horrível não se encontra entre nós, mas sim no nosso inconsciente”.

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58. Kwaidan (1964)

Realizador: Masaki Kobayashi

Elenco: Tatsuya Nakadai, Rentarô Mikuni, Michiyo Aratama

 

A partir de contos tradicionais japoneses e filmado sobre espantosos cenários pintados à mão, estas quatro histórias, com a mulher de cabelo negro como um corvo, belos espectros femininos, monges cegos cantores e fantasmas de guerreiros samurais, criam o enquadramento para grande parte do cinema sobre o sobrenatural que se seguiria. A estilização da cor por Kobayashi, por seu lado, é mais simbólica do que naturalista e alinhada com a banda sonora vanguardista de Toru Takemitsu, que também inclui gravações de sons naturais e cria uma atmosfera sombria e uma boa porção de arrepios.

57. O Homem Que Queria Saber (Spoorloos, 1988)

Realizador: George Sluizer

Elenco: Bernard-Pierre Donnadieu, Gene Bervoets

 

Nenhum género cinematográfico tem mais propensão para o sombrio e para finais ambíguos do que o terror, mas a derradeira cena de O Homem que Queria Saber ultrapassa provavelmente tudo o resto. Sem a revelar – o que seria uma maldade para quem não viu – basta dizer que é daquelas coisas mesmo inesperadas. O resto da película é igualmente bastante pujante, e nela Gene Bervoets interpreta um jovem cuja namorada foi raptada numa área de serviço, em França, por um assassino em série. Sem vontade de ficar sem namorada, o protagonista encontra a pista do seu némesis, todavia é colocado perante um terrível dilema. Gelado, seco e arrepiantemente directo, este marcante filme de Sluizer tem no entanto o problema de o realizador o ter remontado, horrivelmente, em Hollywood, cinco anos depois da estreia.

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56. O Sexto Sentido (The Sixth Sense, 1999)

Realizador: M. Night Shyamalan

Elenco: Bruce Willis, Haley Joel Osment, Toni Colette

 

É um dos filmes mais parodiados de sempre e, depois dele, a carreira do realizador M. Night Shyalaman nunca mais foi a mesma. Porém, O Sexto Sentido deu preciosa contribuição de sustos e arrepios a um vasto público que tornou a obra um êxito mundial. Sem revelar a reviravolta final, basta dizer que força do enredo deriva de ser, realmente, um lúcido, embora estranho, estudo sobre a perda, a dor e a queda. Protagonizado pelo muito jovem Haley Joel Osment, no papel de um rapaz que vê e fala com mortos (a frase "Eu vejo pessoas mortas" tornou-se um clássico), enquanto Willis interpreta o psicólogo que tenta diagnosticar a sua situação, a eficácia narrativa da película vem da maneira como o realizador manobra de maneira a não revelar a verdade até mesmo ao final e, principalmente, por a tornar crível e não enfiada ali a martelo.

55. Repulsa (Repulsion, 1965)

Realizador: Roman Polanski

Elenco: Catherine Deneuve

 

Polanski disse numa entrevista que Repulsa é um dos filmes que dirigiu por "azar do destino". Neste caso, devido a estar falido, em Londres, e ter surgido a oportunidade de realizar um filme de terror. Pode ter sido o acaso e a necessidade, mas o certo é a película ser um verdadeiro ensaio sobre o colapso mental. Catherine Deneuve tem o papel de uma mulher belga, jovem e reprimida, Carole, que vive em Londres com a irmã exercendo a profissão de manicura. "Dê-me com o fogo e o gelo da Revlon", diz-lhe uma das suas peculiares clientes às tantas. E fogo e gelo pode muito bem ser a descrição da presença da actriz no ecrã, com o seu distanciamento frio e secretivo. Tudo isto se passa enquanto, à volta da protagonista, Londres vive tempos de agitação boémia e, no seu apartamento, começam a surgir misteriosas rachas nas paredes que levam Carole a uma deriva psicológica e finalmente à psicose propriamente dita, com a realização manipulando habilmente os diversos estados de consciência e o que permanece recolhido no subconsciente.

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54. No Céu Tudo É Perfeito (Eraserhead, 1977)

Realizador: David Lynch

Elenco: Jack Nance, Charlotte Stewart

 

A maioria dos filmes de David Lynch foi mencionada pelo menos uma vez na elaboração desta lista, mas só No Céu Tudo É Perfeito aqui chegou (apesar de Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer ter andado por perto). Inspirado pelo nascimento da sua própria filha, Jennifer, Lynch cria um ambiente de quase insustentável medo ao representar o recém-nascido mais como uma espécie de monte de carne do que como um bebé humano. Filmado ao longo de cinco anos com um micro-orçamento, o filme entrou directamente na filiação do cinema de vanguarda norte-americano, até porque como muito dos seus companheiros (Kenneth Anger, por exemplo) namora com a imagética do horror em tom tão doentio como fascinante – o que é mais do que suficiente para integrar esta lista.

53. O Mistério da Casa Assombrada (Profondo Rosso, 1975)

Realizador: Dario Argento

Elenco: David Hemmings, Daria Nicolodi

 

Os fãs de Argento dividem-se geralmente em dois campos: os que preferem os relativamente simples gialli dos primeiros tempos e aqueles que tendem para a beleza surrealista dos filmes-sonho pós-SuspiriaO Mistério da Casa Assombrada é a película que une as duas facções, combinando uma narrativa intrigante com cenas de mortandade mais elaboradas e expressionistas do que qualquer outro realizador antes tentara, graças em grande parte às interpretações de Hemmings e Nicolodi, no papel de investigadores amadores na pista de um assassino em série.

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52. Os Diabos (The Devils, 1971)

Realizador: Ken Russell

Elenco: Oliver Reed, Vanessa Redgrave

 

Em mãos menos firmes, a selvagem teatralidade e a estilização camp desta história de perseguição religiosa e possessão demoníaca no século XVII francês faria de Os Diabos uma histérica orgia carnal e visual. Porém, o que é brilhante no filme é Russell construir um verdadeiro sentido do medo e de claustrofobia em paralelo com um ambiente exuberantemente lunático. Em grande parte isto acontece por conta da contida interpretação de Oliver Reed – pelo menos em comparação com a loucura que o rodeia. Quando a sua personagem, o padre Grandier, é finalmente torturada, o espectador sente verdadeira repulsa pelo governo corrupto que manda naquelas terras e pelo fervor religioso que incentiva. Dito isto, a película é verdadeiramente engraçada, desde o esmagador cenário criado por Derek Jarman, até à vulnerável interpretação de Vanessa Redgrave como freira possuída.

51. A Descida (The Descent, 2005)

Realizador: Neil Marshall

Elenco: Shauna Macdonald, MyAnna Buring, Natalie Mendoza

 

O que podia ser um daqueles filmes rotineiros sobre miúdas e montanhas, torna-se obra de extrema profundidade emocional ao jogar com a complexa dinâmica de um grupo de seis raparigas, explorando grutas nos Apalaches, que descobrem não estar sozinhas e que a companhia é do piorio. Além do frio, da escuridão e da claustrofobia, elas encontram velhos, cegos e ferozes predadores com um particularmente evoluído olfacto. Enquanto tentam sobreviver, têm também de lidar com os seus respectivos segredos, aumentando a tensão entre o grupo até ao ponto de as lealdades se desintegrarem.

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50. A Vítima do Medo (Peeping Tom, 1960)

Realizador: Michael Powell

Elenco: Karlheinz Böhm, Moira Shearer, Anna Massey

 

Produzido no mesmo ano que Psico, de Alfred Hitchcock, este foi o filme que levou a carreira de Michael Powell a um final prematuro, tão perturbados ficaram os seus contemporâneos com a história do jovem fotógrafo e cineasta que esconde uma arma na câmara para mais facilmente matar as mulheres que caem no seu ardil. Em retrospectiva, Mark Lewis (Karlheinz Böhm) permanece como um dos mais assustadores criminosos nascidos para o ecrã e as suas mortes filmadas são intrinsecamente cruéis, em particular a da personagem interpretada por Moira Shearer num estúdio de cinema vazio. Mas decerto foram os elementos mais modernos da película – a sugestão de que a câmara em si é invasiva e predatória, ou a ideia instilada de que o protagonista está a representar um trauma vindo de infância – que mais espectadores afugentaram das salas e que fizeram os críticos do realizador resmungarem por mor da sua representação de prostitutas seminuas.

49. Ring – A Maldição (Ringu, 1998)

Realizador: Hideo Nakata

Elenco: Nanako Matsushima, Miki Nakatani

 

É com certeza uma das mais assustadoras cenas da história do cinema: um homem vê um vídeo no qual uma figura fantasmagórica, vestida de branco com uma longa cabeleira negra caída sobre o rosto, rasteja de maneira nada humana de um poço e depois continua, atravessando o televisor, até ao mundo real… Não é só por isto, mas Ring – A Maldição é uma obra-prima de medo e terror atmosférico, em que um jornalista investiga um boato que se espalha como fogo entre os adolescentes sobre uma amaldiçoada cassete VHS. Todos os que vêem o vídeo, diz a história, morrem sete dias depois. A muita profunda escuridão simbólica e visual que Hideo Nakata despeja sobre o seu filme é decerto uma das principais razões para a película ser a mais rentável na história do cinema de terror do Japão.

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48. A Terra em Perigo (Invasion of the Body Snatchers, 1956)

 

Realizador: Don Siegel

Elenco: Kevin McCarthy, Dana Wynter

 

Já vai sendo altura de uma análise a este arrojado filme proto-indie ir além da alegoria política banal – é uma narrativa anticomunista ou subtilmente anti-Macartista? Num ano dominado por monólitos hollywoodescos como Os Dez Mandamentos, de Cecil B. DeMille, e A Volta ao Mundo em 80 Dias, de Michael Anderson, Kevin McClory e Sidney Smith, o thriller de baixo orçamento de Don Siegel foi uma pedrada no charco. Uma cidade californiana é invadida por extraterrestres que à vista desarmada conseguem passar por pessoas – a pele, o cabelo, o andar – mas não conseguem replicar a sua complexidade interior. Uma ansiedade que ressoa junto de qualquer pessoa sufocada pelo conformismo, seja o habitante do subúrbio ou um artista. Muito à frente do seu tempo, a película deixava antever o espírito livre que estava para vir.

47. A Dança da Morte (Dead of Night, 1945)

Realizador: Alberto Cavalcanti, Charles Crichton, Basil Dearden, Robert Hamer

Elenco: Michael Redgrave, Googie Withers, Ralph Michael

 

É de Michael Redgrave, no papel de ventríloquo possuído pelo seu próprio boneco, de quem toda a gente se lembra nesta antologia de horrores produzida pela Ealing Studios e organizada com uma série de histórias contadas por convidados de um chá numa remota casa de férias. A qualidade das histórias varia, neste filme que é a primeira produção de terror após a II Guerra Mundial, período durante a qual o género andou desaparecido em Inglaterra. Mas o talento envolvido, isto é, a nata daquela importante produtora, continua a impressionar. Além do episódio do ventríloquo, um dos mais fortes segmentos é It Always Rains on Sunday, realizado por Robert Hamer, em que um espelho reflecte outro tempo e outro lugar. Nesta história, um marido (Ralph Michael) possuído é arrastado para o espelho, que o leva a tentar matar a mulher (Googie Withers).

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46. Os Outros (The Others, 2001)

Realizador: Alejandro Amenábar

Elenco: Nicole Kidman, Christopher Eccleston

 

Nicole Kidman encarna o papel de mãe de duas crianças, ambas portadoras de doença foto-sensitiva que as obriga a permanecerem em casa nesta história de fantasmas para adultos situada na ilha de Jersey em 1945. Com ecos de Os Inocentes, dirigido por Jack Clayton, em 1961, por sua vez baseado no romance A Volta no Parafuso, de Henry James, muito à vista, o argumentista hispano-chileno Alejandro Amenábar perturba o equilíbrio desta família peculiar introduzindo um trio de novos criados, com os quais chegam também uma série de pequenos e eventualmente sobrenaturais fenómenos. O medo, aqui, é mais sugerido do que físico, com as suas portas que fecham sozinhas ou o piano de desata a tocar por sua aparente iniciativa, o que faz desta uma película psicologicamente madura e inteligente assente na experiência recolhida nos clássicos da velha guarda.

45. O Silêncio dos Inocentes (The Silence of the Lambs, 1990)

Realizador: Jonathan Demme

Elenco: Jodie Foster, Anthony Hopkins

 

"Não lhe diga nada de pessoal. Você não quer Hannibal Lecter dentro da sua cabeça", é o aviso feito à agente estagiária do F.B.I. Clarice Starling (Jodie Foster) antes do seu encontro com o assassino em série, o doutor Hannibal Lecter (Anthony Hopkins), encarcerado numa prisão de segurança máxima. Mas, claro, Clarice não resiste a Hannibal, o Canibal, e, em abono da verdade, nem os espectadores. É verdade que ninguém o deseja ter como psiquiatra, mas tal como a sombra malévola de Sherlock Holmes, a inteligência do doutor Lecter faz toda a gente parecer idiota por comparação. Criado a partir do romance de Thomas Harris, O Silêncio dos Inocentes é, em parte, um filme policial e, por outro lado, cinema de terror, daquele tipo que se infiltra até criar nós no estômago, a tensão em constante crescendo pintalgada por pinceladas de humor negro. Embora seja difícil imaginar o papel do assassino psicopata interpretado por outro actor que não Hopkins, a verdade é que o realizador pensou inicialmente em Daniel Day-Lewis para o papel.

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44. O Inquilino (The Tenant, 1976)

Realizador: Roman Polanski

Elenco: Roman Polanski, Isabelle Adjani

 

Qual é a atracção de Roman Polanski por espaços fechados? Em Repulsa, A Semente do Diabo e finalmente nesta película situada em Paris, o realizador polaco mostra-se um mestre na arte de transformar um humilde apartamento em aterrorizador território doméstico. Aqui, o cineasta interpreta o homem que se movimenta no interior de um apartamento vazio, anteriormente ocupado por uma mulher (Isabelle Adjani) que tentara suicidar-se, para dar por ele no centro de uma tempestade paranóica na qual os outros inquilinos do prédio passam o tempo a acusá-lo, colocando-se abertamente contra ele. Isto, naturalmente, não lhe faz bem nenhum à saúde, tornando o seu estado mental ainda pior e deixando-o cada vez mais confundido com o que é real e o que não é. Apesar de passado no presente, é difícil não encontrar nesta obra sinais dos horrores por que passou Polanski durante a infância no gueto de Varsóvia.

43. A Hora do Lobo (Vargtimmen, 1967)

Realizador: Ingmar Bergman

Elenco: Max von Sydow, Liv Ullmann

 

É difícil ver o actor sueco Max von Sydow como um artista torturado, neste retrato de Ingmar Bergman de um homem em profunda crise existencial, sem pensar no papel do pintor atormentado que desempenhou em Hannah e as Suas Irmãs, realizado por Woody Allen quase duas décadas depois. Mas há as suas diferenças. Neste filme do cineasta sueco, os demónios com que lida a personagem e, digamos, o temperamento da obra é dado em grande parte pela narrativa da mulher (Liv Ullmann), recordando esse terrível período da vida do marido e as suas implicações na sua própria vida. Congeminado ao mesmo tempo que A Máscara, aqui Bergman cria em toda a sua desesperante beleza o esgotamento de um artista e o arrastamento de um casamento, tudo apresentado como um pesadelo gótico, com personagens andando no tecto, homens surgindo como pássaros numa alucinação, e o violento regresso ao passado em que a personagem de von Sydow recorda como atacou um miúdo com uma pedra. Apesar deste terror artisticamente apresentado, realmente assustador é saber como o argumento emergiu dos demónios pessoais do realizador durante uma depressão em meados da década de 1960.

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42. Nas Costas do Diabo (El Espinazo Del Diablo, 2001)

Realizador: Guillermo del Toro

Elenco: Marisa Paredes, Eduardo Noriega

 

Desde o primeiro e arrebatador plano de abertura no compartimento de bombas de um avião, fica-se logo a saber que estamos perante um mestre do ofício de aterrorizar através do cinema. Aqui, Del Toro regressa à sua língua materna, o castelhano, logo depois do desapontamento que foi Predadores de Nova Iorque, realizada em Hollywood em 1997 e muito remontada pelos produtores, demonstrando como, trabalhando sem interferência externa, o realizador mexicano consegue fazer cinema de elevada qualidade – como, aliás, mais tarde, demonstrou ainda melhor em O Labirinto de Pan. Caso evidente nesta obra sobre os trabalhos passados por um grupo de rapazes vivendo num orfanato assombrado durante a Guerra Civil de Espanha.

41. Possessão (Possession, 1981)

Realizador: Andrzej Zulawski

Elenco: Isabelle Adjani, Sam Neill, Heinz Bennent

 

Até os filmes mais extremos têm, a espaços, o seu momento de repouso, de maneira a permitir ao público retomar o fôlego. Excepto PossessãoA película de Zulawski começa de maneira relativamente calma: um casal expatriado, vivendo em Berlim, dá com o seu casamento a cair aos bocados e, para ajudar à sua completa destruição, são esgrimidos variados argumentos, como traições, ocorrências inexplicáveis, satiricamente bizarras interrupções e cenas de de terror extremo desenvolvidas até se tornarem insuportáveis. As interpretações são do tipo inesquecível – principalmente quando Isabelle Adjani se passa dos carretos numa estação de metro –, aliadas a um argumento que é, ao mesmo tempo, politicamente ousado e emocionalmente esgotante.

40. BZ – Viagem Alucinante (Jacob's Ladder, 1990)

Realizador: Adrian Lyne

Elenco: Tim Robbins, Elizabeth Pena, Danny Aiello


Adrian Lyne não é realizador que geralmente se associe ao cinema de terror ou ao psicadelismo, o que torna a sua presença neste rol uma surpresa, provavelmente até para ele. Mas BZ – Viagem Alucinante é o que é: uma daquelas películas sobre o regresso do soldado traumatizado do Vietname (subgénero que depois de uns anos em desuso, voltou com outras guerras e mais traumas), na qual Tim Robbins faz o papel de Jacob, um veterano de guerra com o cérebro como que a fragmentar-se assim que o conflito termina. Está Jacob a ficar maluco, ou existem outras forças a manobrar no escuro? Como uma belíssima fotografia, o filme parece um pedaço de experimentalismo pós-hippie concebido para a geração que então tinha a MTV como referência. O que lhe falta em profundidade e subtileza é compensado com a sua surpreendente imprevisibilidade, tudo equilibrado pela desembestada prestação de Robbins.

39. Holocausto Canibal (Cannibal Holocaust, 1980)

Realizador: Ruggero Deodato

Elenco: Francesca Ciardi, Perry Pirkanen

 

O Projecto Blair Witch ainda nem sequer era uma ideia e já Ruggero Deodato explorava o filão do bocado de película (cassete, cartão de memória) perdida e encontrada por acaso revelando a verdade por detrás de acontecimentos horríveis. E não o faz com paninhos quentes. Aliás, é a intensidade visceral deste falso documentário sobre uns exploradores testemunhando as barbaridades praticadas por uma tribo da Amazónia, a sua crueza, que não poupa o espectador a ver um feto arrancado do ventre da mãe, nem aligeira as violações nem os assassínios que mantêm o filme em circulação e fazem dele o modelo do falso documentário de terror.

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38. Olhos Sem Rosto (Les Yeux Sans Visage, 1959)

Realizador: Georges Franju

Elenco: Edith Scob, Pierre Brasseur, Alida Valli, Juliette Mayniel

 

A Pele Onde Eu Vivo, de Pedro Almodóvar, é parcialmente inspirado neste filme clínico e monocromático sobre um professor de cirurgia plástica particularmente obsessivo realizado por Georges Franju. Com o auxílio da sua amante/ assistente pessoal, Louise (Valli), o professor Génessier (Brasseur) rapta e esfola a pele dos rostos das raparigas que apanha. O objectivo de tal prática é aplicar a pele recolhida na face desfigurada da filha, menina que vive protegida por uma máscara de plástico. Na verdade prisioneira do pai, que se sente responsável pelo acidente de automóvel que a deixou naquele estado, a infantilizada Christiane é como uma cria de pássaro a tentar aprender a voar. Conta-se que alguns espectadores se foram abaixo durante as cenas de cirurgia facial, mas para o realizador a obra é mais sobre a angústia do que sobre a vontade de aterrorizar o público.

37. Frankenstein, o Homem que Criou o Monstro (Frankenstein, 1931)

Realizador: James Whale

Elenco: Colin Clive, Boris Karloff, Mae Clarke

 

A porta abre-se e dela assoma o monstro dando os seus primeiros e inseguros passos. Ele vive! Mas quando vira o rosto para a câmara nota-se uma sombria mortandade no seu olhar. A maneira como imaginamos o monstro criado por Frankenstein foi aqui definida pelo trabalho do maquilhador Jack Pierce, da sua imaginação saindo aqueles parafusos no pescoço, a cabeça achatada, os olhos profundos. Embora o público esperasse ver Bela Lugosi no papel de Monstro, o actor foi rejeitado pelos produtores. O que foi uma oportunidade preciosa para o ainda pouco conhecido Boris Karloff, que deu tão boa conta do recado que não mais abandonou o género e se tornou num dos seus ícones.

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36. O Sacrifício (The Wicker Man, 1973)

Realizador: Robin Hardy

Elenco: Edward Woodward, Christopher Lee, Britt Ekland

 

Assim, à primeira vista, este horror sacado ao folclore por Robin Hardy parece inofensivo. Mas esta produção dos estúdios Hammer, com Christopher Lee, então um dos maiores astros do cinema de terror, esconde algo próximo do pesadelo debaixo da superfície, coisa perceptível mal o polícia presbiteriano interpretado por Edward Woodward aparece em cena para investigar o desaparecimento de uma miúda de 12 anos. Nada impressionado com o regime de bacanal pagão vivido por aquelas partes, é certo que se deixa rapidamente encantar pela filha do senhor da terra, Willow (Britt Ekland), o que o leva por caminhos esconsos e perigosos que, na verdade, muito contribuem para a película ser hoje um clássico do cinema de terror inglês.

35. O Circo das Almas (Carnival of Souls, 1962)

Realizador: Herk Harvey

Elenco: Candace Hilligoss, Frances Feist, Sidney Berger

 

O trabalho de Herk Harvey não é decerto o mais assustador filme alguma vez realizado, mas é um dos mais estranhos. Um insidioso circo de horrores barato que parece projectado directamente dos nossos pesadelos, o enredo traçando o esqueleto da história de uma mulher que perde uma corrida conduzindo para fora de uma ponte e caindo com estrépito no rio. Ela sobrevive, mas sem qualquer memória do que aconteceu. É aí que as coisas se tornam verdadeiramente esquisitas, com o realizador criando um purgatório sem saída onde cada tentativa de escapar leva ainda mais longe na escuridão. Há quem diga que, no processo, Harvey abriu caminho para obras como Eraserhead – No Céu Tudo É Perfeito, de David Lynch, e outros filmes de terror experimentais com orçamentos minúsculos.

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34. A Noiva de Frankenstein (Bride of Frankenstein, 1935)

Realizador: James Whale

Elenco: Boris Karloff, Colin Clive, Elsa Lanchester, Ernest Thesiger

 

É A Noiva de Frankenstein o melhor filme inspirado na arrepiante obra oitocentista de Mary Shelley? O painel de peritos reunido pela Time Out diz que sim. O realizador, James Whale, tentou baldar-se a dirigir uma continuação do seu filme de 1931, Frankenstein, mas perante as pressões do estúdio, cedeu. E desta cedência nasceu uma obra recheada de humor camp, e o regresso de Karloff ao papel de Monstro é quase comovente. Diz o entrecho que o doutor Frankenstein abandonou o seu papel de fazer de Deus e manipular cadáveres, mas o seu desonesto mentor, Praetorious, chantageia o cientista e obriga-o a criar uma parceira para o monstro. Mais uma vez, o lendário maquilhador Jack Pierce faz maravilhas com a caracterização da Noiva, o que, aliado à representação de Elsa Lanchester, torna este filme memorável.

33. Hereditário (Hereditary, 2018)

Realizador: Ari Aster

Elenco: Toni Collette, Gabriel Byrne

 

Quando Hereditário foi exibido no Festival de Sundance as comparações com O Exorcista, a bem dizer, choveram. O que não é de todo exagero, quando se mede a qualidade de um filme de terror pela quantidade de sustos que provoca, embora o argumento não tenha nada a ver com esse filme seminal de William Friedkin. A comparação deve-se ao ambiente de perigo permanente, por um lado, e principalmente à forma como Ari Aster se atira ao assunto, com grande colaboração de Toni Collette e Gabriel Byrne, não deixando esquecer que entre a espectacularidade do horror está uma família de luto. Uma família em perda, com verdadeiras emoções e angustiantes medos sublinhados por uma soberba banda sonora.

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32. A Pantera (Cat People, 1942)

Realizador: Jacques Tourneur

Elenco: Simone Simon, Kent Smith

 

A ideia do terror como um acto de subversão política e cultural decerto ganhou força na década de 1970, mas já andava por aí há muito tempo. O que é Frankenstein, na versão original de Mary Shelley, senão uma sátira ao sistema de classes inglês? A mensagem de Jacques Tourneur no estranho e belo A Pantera pode ser mais subtil, mas é igualmente persuasiva: este filme é um estudo do poder intrínseco da sexualidade feminina e de como esse poder pode levar por inesperados e perigosos caminhos. Aqui, Simone Simon interpreta Irena, uma imigrante sérvia com uma infância reprimida – envolvendo, subentende-se, abusos sexuais –, o que a leva a transformar-se numa perigosamente mortal pantera em momentos de excitação sexual. A força da película vem da maneira como o realizador subtilmente explora estes temas sem nunca cruzar a linha invisível do bom gosto nem perder de vista a tragédia emocional que está na origem da história.

31. Experiência Alucinante (Videodrome, 1982)

Realizador: David Cronenberg

Elenco: James Woods, Sonja Smits, Debbie Harry


O mais presciente filme de David Cronenberg explora – através do olhar e da mente alterada pelo excessivo consumo dos media do programador de uma estação de televisão por cabo rasca Max Renn (James Woods)– um mundo perigoso, imaginado por censores, no qual a exposição a imagens de violência extrema retira ao espectador a capacidade de distinguir entre a realidade plastificada e a fantasia perversa. Enquanto a violenta imagética do canal nocturno Videodrome distorce a percepção de Max da realidade, somos forçados pela realização a partilhar o seu subjectivo ponto de vista. Assim, não podemos saber até que ponto a sua relação sadomasoquista com Nicki Brand (interpretada pela cantora dos Blondie, Debbie Harry) é mais real do que o orifício em forma de vagina que se abre no estômago dela. Para mais porque quando Max enfia uma cassete vídeo nesta abertura, carne e tecnologia tornam-se unas. "É preciso aprender a viver com uma estranha e nova realidade", proclama o auto-nomeado evangelista dos media Brian O’Blivion. Pois…

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30. O Desvendar de um Mistério (The Changeling, 1980)

Realizador: Peter Medak

Elenco: George C. Scott, Trish Van Devere, Melvyn Douglas

 

Antiquado, no melhor sentido da palavra, é como se pode definir o muito negligenciado policial sobrenatural em que o realizador Peter Medak usa cinematografia em estado puro para fazer um tipo… Enfim, borrar-se todo. No filme, o magistral George C. Scott interpreta um conhecido compositor que, depois da morte da mulher e do filho num acidente de viação, aceita um lugar de professor em Seattle e muda-se para uma arrepiante e assombrada casa vitoriana. Para se ter uma ideia, até cenas habitualmente xaroposas de vulgaridade, como a sessão espírita em que se tenta contactar o irrequieto espírito do rapaz morto, são montadas com grande habilidade e convicção emocional para parecerem pelo menos verossímeis.

29. Os Pássaros (The Birds, 1963)

Realizador: Alfred Hitchcock

Elenco: Tippi Hedren, Rod Taylor

 

A par de Psico, esta muito livre adaptação do romance de Daphne du Maurier, marca o domínio de Hitchcock no território do terror. Os Pássaros mostra como perniciosos bandos de aves perseguem a louraça interpretada por Tippi Hedren desde São Francisco até uma cidade costeira meio adormecida no seu rame-rame quotidiano. O realizador, mais de uma vez, praticou o susto por sugestão, mas quando os corvos pousam no cabo telefónico e o ruído se torna arrepiantemente intenso, antecipando o iminente ataque aéreo, atingiu um pico desta arte. Psicologicamente, Os Pássaros é talvez não o melhor filme de Hitchcock, mas certamente aquele em que o entrecho é mais poroso e mais interrogações provoca no espectador, principalmente quando se tenta compreender a relação entre o romance das personagens de Hedren e Rod Taylor, a claustrofóbica relação deste com a mãe (Jessica Tandy) e o perigoso e assustador ataque aviário.

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28. A Noite dos Mortos-Vivos (The Evil Dead, 1981)

Realizador: Sam Raimi

Elenco: Bruce Campbell, Ellen Sandweiss


O horror faça-você-mesmo de baixo orçamento já era uma força a considerar em 1981, como aliás demostraram os criadores de Massacre no Texas, uns anos antes, ao fazerem milhões de dólares na bilheteira, trabalhando com uma câmara velha, alguns amigos entusiastas e ferramentas de jardinagem. Mas o filme que levou este movimento para um nível superior foi sem dúvida este, que marca a estreia de Sam Raimi na realização de longas-metragens. Adaptando a sua curta Within the Woods, o amigo de infância Raimi, o produtor Robert Tapert e o actor Bruce Campbell conseguiram financiamento de comerciantes locais e enfiaram-se na floresta das redondezas criando o mais feroz, original e implacável filme de terror do seu tempo. É verdade, agora a coisa parece um bocadinho tosca, mas A Noite dos Mortos-Vivos permanece como inspiração para novos cineastas testarem o poder da plasticina, da cola e do descaramento.

27. Projecto Blair Witch (The Blair Witch Project, 1999)

Realizadores: Daniel Myrick, Eduardo Sánchez

Elenco: Heather Donahue, Michael C. Williams, Joshua Leonard

 

Apesar de Holocausto Canibal, rodado quase duas décadas antes, antecipar com estrépito o falso documentário de terror, o filme de Myrick e Sánchez tornou estes realizadores numa espécie de modernos pais fundadores do subgénero. Filmado com 50 mil dólares em apenas oito dias, propositadamente editado em imagem fartamente granulada, como se de uma filmagem à mão de inexperientes estudantes universitários se tratasse, o filme mostra como Heather, Josh e Michael se entregaram à busca e à investigação da lenda da bruxa de Blair nos arrabaldes de Burkittsville, no estado de Maryland. Entrevistas com os habitantes, o trio perdido na floresta e os seus cada vez mais histéricos argumentos e justificações para o que lhes sucedia, mais as cenas nocturnas no interior da tenda foram a matéria-prima e a mais-valia deste filme que marca um importante momento para o cinema de terror.

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26. Poltergeist, o Fenómeno (Poltergeist, 1982)

Realizador: Tobe Hooper

Elenco: JoBeth Williams, Heather O’Rourke, Craig T. Nelson

 

Ainda existem casas assombradas nas feiras, ou tornaram-se obsoletas nesta era de porno-tortura e centopeias humanas? Seja como for, as casas assombradas do passado são um modelo perfeito de comparação com o que se passa em Poltergeist, o Fenómeno, um filme que deixa o espectador em modo pele de galinha durante um par de horas, embora em regime de estranha felicidade, principalmente por nada de especialmente mau acontecer ao longo da película, pelo menos quando se compara com – sabe-se lá? – Hostel. A grande questão que ainda rodeia o filme é, claro, quem realmente dirigiu a película: o realizador creditado, Tobe Hooper, ou Steven Spielberg, o produtor que mete o bedelho em todas as cenas? Não há dúvida que parece uma obra saída da mão de Spielberg, em que a típica família suburbana transfere a angústia de classe média para o sobrenatural, mas é verdade que a ferocidade habitual em Hopper também deixa a sua marca, pelo que o melhor é dizer que foi uma feliz colaboração.

25. O Génio do Mal (The Omen, 1976)

Realizador: Richard Donner

Elenco: Gregory Peck, Lee Remick


A crianças podem ser pequenos demónios, mas Damien Thorn é na realidade o Anticristo que abre as portas do Inferno assim que chega aos cinco anos. Não se encontra uma mancha de vomitado verde nem uma simples cabeça em rotação acelerada no filme de Richard Donner, mais dado ao suspense neste vagamente bíblico clássico do cinema de terror, onde corvos e rottweilers são irresistivelmente atraídos pela carinha de bebé de Damien. E seja quem for que comece a fazer perguntas – uma ama inocente, um padre em modo cruzada, um jornalista céptico – é despachado em grande estilo. Tal como em O Exorcista, a produção deste filme foi atribulada, como que vítima de uma praga, com fogos, acidentes variados e até doenças, o que ajudou a criar a lenda de um filme amaldiçoado. Mesmo que O Génio do Mal, no contexto da moda do cinema satânico no final da década de 1960 e início da seguinte, não se compare com O Exorcista ou Semente do Diabo, não é por isso que deixa de causar considerável dose de sustos e arrepios.

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24. A Parada dos Monstros (Freaks, 1932)

Realizador: Tod Browning

Elenco: Olga Baclanova, Harry Earles

 

Um filme de terror? Tentem antes uma terna e humaníssima história de amor e traição. O realizador, Tod Browning, que no seu tempo fugiu da escola para se juntar a um circo ambulante, reúne neste filme uma colecção de bizarras criaturas (e também soberbos actores) para contar como a linda trapezista Cleo (Olga Baclanova) casa com o anão Hans (Harry Earles) pelo seu dinheiro e o envenena na primeira oportunidade. Browning narra a vida na estrada com grande afeição e sentido de humor, como se pode ver na cena em que um homem casa com uma irmã siamesa, mas é incapaz de suportar a outra porque, por exemplo, não quer ver a mulher de cama com a ressaca da irmã. O que faz A Parada dos Monstros (o muito sensível título português) cinema de terror é o seu final indiscutivelmente macabro, quando os "monstros" caçam Cleo e o seu gigante e forte amante na floresta. Por estas e por outras a exibição foi proibida no Reino Unido durante mais de 30 anos.

23. Nosferatu, o Vampiro (Nosferatu: A Symphony of Horror, 1922)

Realizador: F. W. Murnau

Elenco: Max Schreck, Greta Schröder

 

A livre e não oficial adaptação do romance de Bram Stoker, Drácula, por F. W. Murnau não foi o primeiro filme de terror (honra por ventura pertencente a Le Manoir du Diable, de George Meliés), mas é decerto a mais influente película do género tantas são as ideias que formataram o cinema de terror que se seguiria. Por exemplo: a utilização da luz e da sombra, da ameaça e da tensão, da beleza e da fealdade de um homem grotescamente maquilhado atraindo e aterrorizando uma mocinha inocente… Porém, o que é ainda mais notável, é como a obra se mantém perturbadora tantos anos passados. A impecável prestação de Schreck e a sua assustadora maquilhagem podem ser a imagem icónica desta obra-prima cinematográfica, mas a cena da praga de ratos é de levar qualquer um à beira de um ataque de nervos – e só podemos imaginar o seu efeito num público acabado de sair dos horrores da I Guerra Mundial.

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22. A Casa Maldita (The Haunting, 1963)

Realizador: Robert Wise

Elenco: Julie Harris, Claire Bloom, Richard Johnson


Com alguns filmes de terror é tudo uma questão de contexto. Ver A Casa Maldita numa tarde bem iluminada é como ver uma velharia encarquilhada um bocadinho tonta. Mas ver esta película de noite, a sós, já é como ver a melhor história de fantasmas da história com a sensação de certeza de que os maiores perigos não estão no exterior, mas antes ali mesmo, junto a nós, ou pelo menos no interior do nosso cérebro. A utilização de ângulos amplos é muito bem manipulada pela direcção de Robert Wise, claramente um estudioso do trabalho de Orson Welles, cujo estilo descaradamente domina o filme.

21. Anjo ou Demónio (Ōdishon, 1999)

Realizador: Takashi Miike

Elenco: Ryo Ishibashi, Eihi Shiina, Jun Kunimura

 

Quem é o verdadeiro vilão neste policial frígido do realizador japonês Takashi Miike: o viúvo de meia-idade que monta uma falsa audição para um filme para atrair mulheres solteiras e ingénuas e cai de quatro perante o jeito de gueixa de uma das candidatas a actriz? Ou a referida jovem que debaixo daquela atraente aparência esconde um sério segredo? Pronto, é ela, e a personagem continua, ainda hoje, como uma das mais memoráveis psicopatas na história do cinema. Mas a obra-prima de Miike não dá tréguas ao desonesto sedutor, fazendo de Anjo ou Demónio uma autópsia exaustiva da masculinidade em versão japonesa.

20. Pesadelo em Elm Street (A Nightmare on Elm Street, 1984)

Realizador: Wes Craven

Elenco: Heather Langenkamp, Robert Englund, John Saxon

 

Um monstro que invade os nossos sonhos, estraçalhando a nossa psique com as suas luvas-navalhas é, sem dúvida, um dos melhores achados do cinema de terror. E mesmo que os filmes seguintes da série tenham optado por um tom de auto-paródia (por exemplo, colocando à venda bonecos de Freddy Krueger dirigidos ao público pré-adolescente), o original permanece como um dos mais desafiantes, inventivos e realmente aterrorizadores filmes-choque do século XX. O controlo de Wes Craven sobre o material filmado e a montagem final foi absoluto, e não serão meia-dúzia de efeitos especiais rascas a minar a importância deste pesadelo esteticamente vanguardista. Por outro lado, convém não esquecer, esta é a película que deu dimensão à New Line Cinema. Na altura em que os produtores deram 1,8 milhões de dólares a Craven para realizar a sua delirante visão, a empresa não era mais do que um grão de areia entre os estúdios independentes norte-americanos. Sete sequelas de Pesadelo em Elm Street depois e pouco mais de uma década passada sobre a estreia, a New Line Cinema financiou a trilogia Senhor dos Anéis. É obra, Freddy.

19. Deixa-me Entrar (Låt den rätte komma in, 2008)

Realizador: Tomas Alfredson

Elenco: Kåre Hedebrant, Lina Leandersson

 

Um clássico instantâneo? Por duvidosa que seja a categorização, se a posição deste filme de Tomas Alfredson no top 20 quer dizer alguma coisa, então sim, este enredo assustador, assente em manto de tristeza, sobre o ritual de passagem que é a primeira paixão, é um clássico instantâneo. Aos 12 anos, Oskar (Kåre Hedebrant) cai de amores pela rapariga da porta ao lado, Eli (Lina Leandersson). Ele diz-lhe que gosta do cheiro dela e empresta-lhe o seu cubo de Rubik (estamos em 1981). Mas a doce oferta torna a rapariga doentiamente violenta e os olhos dela sangram se for a casa dele sem convite. Quer dizer: Eli é uma vampira, o que fica claro quando ela diz ao rapaz: "Já tenho esta idade há muito tempo". Como o realizador não queria interpretações polidas e perfeitas contratou actores não-profissionais. E o resultado é exemplar.

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18. A Mosca (The Fly, 1986)

Realizador: David Cronenberg

Elenco: Jeff Goldblum, Geena Davis

 

Eis a delirante recriação por David Cronenberg da velha história do cientista experimentando teletransporte, experiência que dá para o torto e descamba numa nojenta mistura genética. A Mosca não é apenas um dos melhores filmes de terror de sempre, é também um dos mais trágicos romances da história do cinema. Com o seu argumento elegante e particularmente bem escrito, a relação inicial entre as personagens interpretadas por Jeff Goldblum e Geena Davis assenta nos mais básicos princípios do romance, o que ainda torna a transformação física e a degradação mental de Goldblum mais horrível de aguentar. Nas mãos do realizador canadiano, a doença genética torna-se numa poderosa metáfora para tudo o que de mau existe, seja cancro, sida ou o envelhecimento, passando pelo amor despedaçado. Embora um pouco doentio, o filme é simultaneamente belo e apaixonante, exaltante e selvagem, inspirador e inspirado, isto é, cinema humanista dirigido por um cineasta no seu melhor momento.

17. A Morte Chega de Madrugada (Evil Dead II, 1987)

Realizador: Sam Raimi

Elenco: Bruce Campbell, Sarah Berry

 

Eis a película em que Bruce Campbell se tornou na resposta da geração Fangoria (uma antiga revista norte-americana dedicada às artes inclinadas ao terror) a Buster Keaton. A Morte Chega de Madrugada tem indiscutivelmente humor, mas, lá no fundo, e principalmente depois de três cenas de violação, é ainda mais assustador, rapidamente abafando o riso que provoca. Na verdade, o facto de Sam Raimi e Campbell terem começado as suas carreiras alternando entre curtas-metragens de terror e imitações de Os Três Estarolas pagou grossos dividendos, pois esta é, sem dúvida, a mais bem sucedida mistura de horror e comédia, e um clássico do género. O momento definitivo é quando a mão da personagem interpretada por Campbell é possuída por um espírito demoníaco, levando a obra até algumas das mais espantosas cenas de humor negro. Ou melhor, vermelho, pois Raimi não se esquece de manter a sangueira constante, com membros a voar através do ecrã, olhos explodindo, já para não falar do que se passa na cabana…

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16. Um Lobisomem Americano em Londres (An American Werewolf in London, 1981)

Realizador: John Landis

Elenco: David Naughton, Jenny Agutter, Griffin Dunne

 

Esta perspectiva estrangeira da maneira de ser britânica podia ser ofensiva se não fosse tão furiosamente engraçada, inteligente, assustadora e brilhante. A obra de John Landis é seca, esquiva e ainda inclui imensas tiradas notáveis. Em jeito de bónus, os efeitos especiais, mesmo nesta era de apurados efeitos digitais, são de elevada categoria, de que é bom exemplo a transformação do rapaz em lobisomem.

15. Carrie (1982)

Realizador: Brian De Palma

Elenco: Sissy Spacek, Piper Laurie, Amy Irving

 

Mesmo sem ser a favorita do realizador para o papel, é difícil imaginar este filme sem a interpretação de Sissy Spacek. Stephen King teve a ideia para o romance original, o seu primeiro, no vestiário feminino de uma universidade onde trabalhava como encarregado de limpeza. Raparigas adolescentes podem ser o demónio em estado puro e é num vestiário que conhecemos Carrie, que acabou de ter o seu primeiro período e com quem as meninas más gozam sem piedade. Mal sabem elas que a jovem tem poderes de telecinesia e que esses poderes, que permitem mover objectos de um lado para outro apenas com a interferência da mente, estão à beira de provocar um apocalipse durante o baile de fim de ano lectivo. Quanto à cena do sangue de porco que lhe cai sobre o corpo, enfim, por muitas vezes que se veja, não há uma única em que não se deseje que o balde não caia. Já agora, apesar de a actriz se ter prontificado a ser coberta com verdadeiro sangue de porco, a mistela que lhe cai em cima não passa de uma mistura de xarope e corante.

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14. Os Inocentes (The Innocents, 1961)

Realizador: Jack Clayton

Elenco: Deborah Kerr, Michael Redgrave, Pamela Franklin

 

As crianças já são assustadoras que chegue na vida real, com a sua moral flexível e aquelas mãos pequeninas. No entanto, o cinema consegue torná-las ainda mais arrepiantes. Tido como um dos mais estranhos e assustadores filmes à face da Terra, Os Inocentes foi adaptado, nem mais nem menos, do que por Truman Capote, a partir de do romance de Henry James The Turn of the Screw, e o tema é o da governanta contratada para educar um par de pestinhas aristocráticas que podem muito bem esconder um negro e sobrenatural segredo. Procurando manter a sua película o mais longe possível do estilo operático dos Estúdios Hammer, Jack Clayton criou uma obra-prima de contenção, muito por conta da grande interpretação de Deborah Kerr e da subtil banda sonora alimentada por música electrónica.

13. Aquele Inverno em Veneza (Don't Look Now, 1973)

Realizador: Nicolas Roeg

Elenco: Donald Sutherland, Julie Christie

 

As aparências iludem, o que sendo um lugar comum é também a síntese perfeita desta obra que um painel de peritos da Time Out considerou, em 2010, o melhor filme britânico de sempre. A adaptação por Nicolas Roeg do conto de Daphne Du Maurier é uma obra-prima do cinema de terror, assim como uma película de uma beleza espectral. Sendo esta uma lista de filmes de terror, passamos à frente a – para a época – ousada cena de sexo – para muitos a mais bem filmada de sempre – e passamos já para as partes assustadoras, como as irmãs psicóticas e, principalmente, a arrepiante sucessão de marteladas no final.

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12. A Noite dos Mortos-Vivos (Night of the Living Dead, 1968)

Realizador: George A. Romero

Elenco: Duane Jones, Judith O’Dea, Marilyn Eastman

 

Aqui está um exemplo de filme que mudou tudo, que levou o terror para territórios outros que o do susto primário ou o da ciência mentalmente transtornada até à dura luz dos tempos modernos. George Romero insiste que o que fez a sua estreia na realização percorrer caminhos tão inovadores – o trabalho de câmara em estilo documentário, os interiores sem adornos e as pouco elaboradas interpretações – foi apenas resultado de um orçamento perto do zero. Mas esse argumento não vale para a abordagem progressista às políticas raciais e de género da obra, nem à sua montagem sobre o fio da navalha, ou a constante violência, como quando a rapariga morta se ergue para se alimentar da mãe já sem remédio.

11. Suspiria (1976)

Realizador: Dario Argento

Elenco: Jessica Harper, Stefania Casini, Flavio Bucci

 

Esta elegantemente coreografada dança de morte, dirigida pela lenda do terror italiano Dario Argento, é sem dúvida uma tentativa de fazer o filme mais assustador de sempre sem quaisquer outras preocupações. Por assim dizer, pela janela fora vão enredo, desenvolvimento das personagens e senso comum, trocados pelo esplendor visual e uma antilógica praticamente infantil. O resultado pode ser o mais belo filme de terror (mais um) alguma vez realizado – e decerto um daqueles que assombram sonhos, pelo menos durante umas semanas.

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10. Tubarão (Jaws, 1975)

Realizador: Steven Spielberg

Elenco: Roy Scheider, Robert Shaw, Richard Dreyfuss

 

Ao princípio é como outro filme qualquer de adolescentes que vão curtir para a praia à noite. Rapaz conhece rapariga, enrolam-se um bocadinho, a rapariga escapa-se para dentro de água largando a roupa pelo caminho… E de repente é puxada para o fundo no meio de grande gritaria e basta sangueira. Bem-vindos à turística ilha de Amity. Tubarão quebrou todos os recordes de bilheteira, mas a produção correu tão desastrosamente que as saborosas histórias dos membros da equipa sobre as filmagens parecem não terminar. O tubarão parecia falso, os efeitos ainda pior e Spielberg fez o milagre, na mesa de montagem, de recentrar a atenção do público nas reacções das personagens e na rapidez da acção e não no bicho propriamente dito. No processo, decerto sem querer, o realizador inventou o filme-pipoca, que entretanto se tornou a corrente comercialmente dominante do cinema neste século.

9. Zombie: A Maldição dos Mortos-Vivos (Dawn of the Dead, 1978)

Realizador: George A. Romero

Elenco: Ken Foree, Gaylen Ross, David Emge

 

Agora, depois de se tornar uma fábrica de zombies (com pouco retorno na bilheteira, acrescente-se), é difícil recordar como George Romero estava, ao princípio, relutante quanto à ideia de dirigir uma sequela do seu filme de 1969, A Noite dos Mortos-Vivos. Mas depois de o seu projecto mais pessoal, e provavelmente a sua obra maior, Martin, cair com estrépito na bilheteira, o realizador decidiu engolir o sapo, o que aliás resultou no reavivar da sua carreira. Embora o original tenha mudado o cinema de terror, esta é a película que se recorda como a mais selvagem e delirantemente excitante obra sobre mortos-vivos, que, a bem dizer, define o conceito de consciência social e astúcia política no cinema de terror. A sua influência faz-se sentir desde então, mesmo em séries de televisão como The Walking Dead, permanecendo como um dos melhores exemplos de porrada de criar bicho no ecrã – como se costuma dizer.

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8. As Noites de Halloween (Halloween, 1978)

Realizador: John Carpenter

Elenco: Donald Pleasence, Jamie Lee Curtis

 

Cinéfilos snobes estarão sempre disponíveis para relembrar que Uma História de Natal, de Bob Clark, deu início ao subgénero slasher, mas foi este estrondoso êxito de John Carpenter (isto é, 70 milhões de dólares de receita para um orçamento de 300 mil dólares) a obra que confirmou o potencial destes filmes. Portanto, esqueçam-se todos os mascarados ambiciosos com uma catana na mão à solta nos subúrbios que vieram depois, e observem-se os movimentos de câmara criados por Carpenter, a cuidada elaboração das sombras num quase sofisticado claro-escuro, a presença do vilão que Michael Myers interpreta como um assassino tão eficaz como o tubarão em Tubarão, para verificar como, quatro décadas depois, o filme permanece à beira da perfeição.

7. A Semente do Diabo (Rosemary's Baby, 1968)

Realizador: Roman Polanski

Elenco: Mia Farrow, John Cassavetes, Ruth Gordon

 

Já é difícil mudar para um novo apartamento e começar uma família, quanto mais ainda ter de lidar com a suspeita de que os novos vizinhos podem ser satanistas empenhados em criar uma criança demoníaca através de uma mulher alheia à trama. Ora, é mesmo através desta inteligente e subtil face do terror que Polanski reduz os pormenores do enredo ao mínimo possível, deixando os espectadores a especular sobre o que se passa na cabeça da personagem criada por Mia Farrow, à medida que ela cada vez mais acredita ser a sua gravidez produto de alguma força oculta. Um punhado de cenas – como uma potencial violação e um clímax arrepiante – servem bem o propósito de deixar os espectadores em pele de galinha, e, convenhamos, um bocadinho de pé atrás, quando vêem uma grávida. As interpretações de Farrow e Cassavetes como um casal em acelerada desagregação servem bem o desejo do realizador em retratar a rotina da vida familiar como um pesadelo carregado de simbolismo.

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6. Veio do Outro Mundo (The Thing, 1982)

Realizador: John Carpenter

Elenco: Kurt Russell, Wilford Brimley

 

Viajar no tempo oferece múltiplas possibilidades, mas uma das mais agradáveis seria decerto regressar a 1982 e dizer a John Carpenter que o seu filme havia um dia de se classificar em sexto lugar na lista dos 100 melhores filmes de terror, batendo até o seu icónico As Noites de Halloween. Como outros clássicos de horror futurista, Veio do Outro Mundo foi praticamente odiado na altura da estreia, descartado como um clone de Alien, o Oitavo Passageiro mais interessado em ultrapassar as limitações dos efeitos especiais de então do que no desenvolvimento das personagens ou na criação de tensão. Foi um desastre financeiro e pôs em causa a reputação do realizador como mestre do cinema de terror. O que é difícil imaginar, agora, com o benefício da distância (e repetidos visionamentos), pois Veio do Outro Mundo, neste oceano cinematográfico, emerge como um dos mais poderosos filmes de terror modernos, combinando arrepios com paranóia e incerteza em relação ao outro.

5. Psico (Psycho, 1960)

Realizador: Alfred Hitchcock

Elenco: Anthony Perkins, Janet Leigh

 

Há alguns anos, em The Moment of Psycho, David Thomson argumentava que esta comédia quase negra com assassino em série incluído não mudara apenas o cinema, mas a sociedade em si mesma. Ao confrontar o espectador com terrores quotidianos, manipulando-o subtilmente para simpatizar com o assassino, oferecendo uma heroína adúltera e amoral para depois a abandonar sem remorso ao seu destino; também ao satirizar a psicologia freudiana e os pomposos profissionais que a exerciam; mais, caracterizando a América como um labirinto social povoado por assustadores polícias e simpáticos psicopatas; e ainda por insinuar (o que agora parece não fazer sentido nenhum, mas então…) que as mulheres também utilizam o quarto de banho e não apenas para retocarem a maquilhagem, o realizador ajudou a pavimentar o caminho para os tremores de terra culturais e respectivas revisões morais da década que se iniciava e que culminou, muito apropriadamente, com o Verão do Amor. A teoria pode ser um bocadinho rebuscada, mas…

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4. Alien, o Oitavo Passageiro (Alien, 1979)

Realizador: Ridley Scott

Elenco: Sigourney Weaver, John Hurt, Ian Holm

 

O que se dizia era que a Twentieth Century Fox contratara Ridley Scott para fazer Tubarão no espaço. Mas em troca recebeu um dos mais estilizados, subversivos e indiscutivelmente belos filmes quer de terror quer de ficção científica. O golpe de mestre foi, claro, contratar o meio tresloucado H.R. Giger para criar o viscoso, nojento e cruel monstro. Mas não deve ser menosprezado o trabalho do argumentista Dan O’Bannon, e menos ainda a qualidade do elenco capitaneado por Sigourney Weaver.

3. Massacre no Texas (The Texas Chain Saw Massacre, 1974)

Realizador: Tobe Hooper

Elenco: Gunnar Hansen, Marilyn Burns

 

"Será que sobrevivem… e em que estado?" É a questão que tanto diz respeito à audiência do filme de perseguição e esquartejamento de Tobe Hooper como às suas amaldiçoadas e indefesas personagens. O cinema de terror nunca fora tão cru, e bem se pode argumentar que apesar de muitas tentativas nunca mais conseguiu ser, digamos, tão arrepiante na sua sucessão de sustos, cada um maior do que o outro, mais sádico do que o anterior, enfim, mais brutal e inimaginável que nunca. Por outras palavras: horror em estado puro criado de maneira completamente inesquecível. Sequelas e novas versões têm nascido como mato, mas nenhuma chega sequer aos calcanhares deste primeiro encontro com uma serra eléctrica e um assassino passado, mas mesmo passado dos carretos.

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2. Shining (The Shining, 1980)

Realizador: Stanley Kubrick

Elenco: Jack Nicholson, Shelley Duvall

 

Shining é um filme icónico, uma obra-prima de assassinato e claustrofobia. Mas, diga-se desde já que Stephen King, autor do romance aqui adaptado, não ficou nem um bocadinho impressionado, pois, segundo afirmou, Stanley Kubrick, além de céptico em relação a fantasmagorias, era homem que pensava demais e sentia pouco. Para King, o cineasta tinha extirpado os elementos sobrenaturais da história, ao caracterizar Jack Torrance (Jack Nicholson) como torturado pelo alcoolismo e não por fantasmas. Para outros, provavelmente a maioria, a obra de Kubrick é um arrepiante estudo sobre o caminho para a insanidade e a frustração do falhanço.

1. O Exorcista (The Exorcist, 1973)

Realizador: William Friedkin

Elenco: Ellen Burstyn, Linda Blair, Jason Miller, Max von Sydow

 

Pelos anos da década de 1970 o cinema de terror dividia-se em dois campos. Por um lado existiam os terrores da vida real vindos de Psico e A Noite dos Mortos-Vivos, filmes que trouxeram o medo para o território do real, tornando-se assim ainda mais assustadores. No outro lado estavam os mais provocadores, e mais populares na Europa, filmes nascidos nos Estúdios Hammer, no Reino Unido, e o cinema de Mario Bava e Dario Argento, em Itália, películas marcadas pela pretensão artística, estranheza e terror explícito. O primeiro filme a tentar juntar os dois lados foi A Semente do Diabo, ao qual Polanski acrescentou um ponta de surrealismo. No entanto, o primeiro a chegar a esse desiderato foi, sem qualquer dúvida, O Exorcista – o que é um excelente argumento para justificar o primeiro lugar nesta lista.

Passando dos barulhentos bazares do Iraque para as ruas sossegadas de Georgetown através de sequências preenchidas por pedaços de sonhos e comovente e crível drama humano, Friedkin criou um filme de terror como nenhum outro: brutal e belo, artístico e especulativo, sempre explorando estranhos conceitos religiosos em confronto com o desejo de precisão científica do cientista agnóstico. E não se deixem enganar, pois apesar de pejado de ideias fartamente discutidas nos meios científicos e religiosos e capaz de um poder de observação extremo sobre os sentimentos humanos, O Exorcista é um verdadeiro filme de terror, já que o seu propósito é sempre chocar, assustar, horrorizar o mais possível a plateia – ou alguma vez a corrente dominante do cinema criou uma cena mais perturbadora do que a do crucifixo?

Os melhores filmes de sempre

Os 100 melhores filmes de ficção científica de sempre
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O potencial cinematográfico (e não só) da ficção científica é quase infinito. É nestes filmes que os nossos maiores pesadelos podem tornar-se realidade e os nossos sonhos concretizar-se, ao mesmo tempo que é dito e posto em causa algo sobre o nosso presente. A pensar nisso, elegemos os 100 melhores filmes de ficção científica de sempre.

Os 100 melhores filmes de comédia de sempre
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Qualquer lista de melhores filmes de comédia de sempre é discutível (mas qual é que não é?), que isto do humor varia muito de pessoa para pessoa. Então como é que se escolhem os 100 melhores? Com seriedade e abrangência. E consultando os peritos, desde cómicos a actores, realizadores e escritores.

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Os melhores filmes clássicos de sempre
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Comédias e westerns, policiais e melodramas, ficção científica e fantástico, sem esquecer o musical, há de tudo nesta lista preenchida com 75 dos melhores filmes clássicos. Nela encontramos obras de alguns dos melhores realizadores da história do cinema, como Fritz Lang, Akira Kurosawa, Ingmar Bergman, John Ford, Federico Fellini ou Jean-Luc Godard, entre muitos outros. 

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