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Nos anos 80 e 90, as iniciais ZAZ eram, em Hollywood, sinónimo de comédia nonsense de grande quilate. Entre 1980 e 1994, altura em que se separaram, David Zucker, Jim Abrahams e Jerry Zucker, irmão daquele, e amigos desde a infância, foram responsáveis (nalguns casos, também com a colaboração de Pat Proft), pela produção, escrita e realização de títulos de enorme sucesso comercial e de crítica como Aeroplano! (1980), paródia brilhante aos filmes-catástrofe de aviação, Ultra Secreto (1984), gozo pegado às fitas passadas na II Guerra Mundial e de espionagem (e de passagem, aos surf movies e aos musicais), e a uma trilogia, Aonde é que Pára a Polícia?. Esta reduzia jubilatoriamente a pó as séries e filmes policiais em todos os seus estereótipos, situações feitas, enredos preguiçosos e personagens tipificadas, e saiu de uma série de televisão também dos ZAZ, Polícias à Parte (1982), que teve apenas seis episódios e passou em Portugal na RTP.
Esta série, e os três filmes que se lhe seguiram, Aonde é que Pára a Polícia? (1988), Aonde é que Pára a Polícia? Parte 2 ½: O Aroma do Medo (1991) e Aonde é que Pára a Polícia 33 1/3 (1994), deram ao veterano Leslie Nielsen o papel do tenente Frank Drebin, da Polícia de Los Angeles, o agente da lei mais insondavelmente burro e inacreditavelmente desastrado da história do cinema cómico, émulo americano do Inspetor Clouseau de Peter Sellers. Depois de 15 anos de triunfos, e de terem associado os seus nomes ao melhor do cinema de comédia absurda, paródica e slapstick, David Zucker, Jim Abrahams e Jerry Zucker decidiram, em meados da década de 90, seguir cada um o seu caminho por razões fiscais e criativas, continuando a manter-se amigos, até à morte de Abrahams, em 2024.

A imensa popularidade da série de filmes Aonde é que Pára a Polícia? levou também ao lançamento de um jogo de vídeo homónimo, em 2012, e durante muitos anos ficou no ar a possibilidade de ser feita uma quarta fita das catastróficas desventuras do tenente Frank Drebin, desta feita para a televisão e intitulada The Naked Gun: What 4? Rhythm of Evil, em que Drebin (de novo interpretado por Leslie Nielsen) treina um agente novato da Polícia de Los Angeles. A Paramount decidiu então que o filme seria para cinema, ao mesmo tempo que os ZAZ procuravam impedir que o projecto fosse para a frente, por questões de direitos e alegando também a “falta de qualidade” do argumento. Em 2009, o filme foi cancelado, tendo Leslie Nielsen morrido no ano seguinte.
Mas em 2013, a Paramount voltou à carga com este quarto filme, e com Ed Helms no papel de Frank Drebin. Em 2017, David Zucker e Pat Proft começaram a colaborar na reescrita do argumento. A história era protagonizada pelo filho de Frank Drebin, agora um agente secreto e não um polícia, tendo a fita passado a ser uma paródia dos Missão: Impossível com Tom Cruise e intitulada Naked: Impossible. Até que em 2021, Seth MacFarlane entrou em cena e Zucker e Proft abandonaram o projecto. MacFarlane trouxe Liam Neeson para interpretar o filho de Frank Drebin, Frank Drebin Jr., e o filme passou a chamar-se The Naked Gun, remetendo assim para o início da saga, embora nenhum dos criadores originais desta esteja envolvido nele.

Realizado por Akiva Schaffer, que também assina o enredo, em colaboração com Dan Gregor e Doug Mand, The Naked Gun: Aonde é que Pára a Polícia?, apresenta-se como estando na continuidade do título anterior, Aonde é que Pára a Polícia 33 1/3, e tem um Frank Drebin Jr. que segue nas pisadas do pai em termos de incompetência e de burrice. Liam Neeson disse ter aceite o papel para poder mudar de registo de forma radical, do cinema policial e de acção para a comédia estapafúrdia que parodia este mesmo género, e é acompanhado no elenco por Pamela Anderson, Paul Walter Hauser, Danny Huston, CCH Pounder e Busta Rhymes. Falta só saber se Neeson tem dotes cómicos suficientes para conseguir – pelo menos – emular o insubstituível e inesquecível Leslie Nielsen. Ou seja, conseguirá Frank Drebin Jr. estar à altura do seu genialmente desastroso pai?
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