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Casa de São Lourenço: uma Estrela na Serra

A Serra da Estrela renasceu pela mão de um casal que caiu de amor pela montanha. Criaram um hotel de charme, depois recuperaram uma fábrica de burel e agora lançaram-se no segmento de luxo com a Casa de São Lourenço, um refúgio para todo o ano.

Escrito por
Nelma Viana
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No dia 1 de Agosto de 1881, partia da capital a primeira expedição científica à Serra da Estrela. Precisamente 138 anos depois, reproduzimos os passos da comitiva de 23 carruagens onde seguiam Brito Capello, Sousa Martins e Mouzinho de Albuquerque, entre muitos outros representantes da Sociedade de Geografia de Lisboa, e subimos aos 1200 metros de altitude para uma visita cronológica à antiga estância sanatorial do país.

No lugar da velhinha Pousada de São Lourenço, construída na década de 40 para ser “um hotel que não se parecesse com um hotel” e onde os hóspedes não podiam pernoitar mais do que cinco noites seguidas devido à enorme procura de quem subia atrás do ar puro da serra, nasceu há menos de um ano o primeiro hotel de montanha de cinco estrelas.

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Com uma vista única sobre o Vale Glaciar, a Serra da Estrela e a vila de Manteigas, a Casa de São Lourenço – Burel Panorama Hotel, anuncia logo no nome aquilo a que vem: dar continuidade a um projecto sustentável de valorização do património local sob a asa da marca Burel Mountain Originals.

João Tomás e Isabel Costa não trocaram Lisboa pela serra, mas é lá que passam grande parte do tempo, entre o hotel de design Casa das Penhas Douradas, uns metros acima, e a Burel Factory, em Manteigas, que devolveu à localidade a produção de um tecido ancestral feito a partir da lã de ovelhas bordaleiras.

E a história, claro está, repetiu-se: João, grande adepto de longas caminhadas pelos trilhos selvagens da serra, apaixonou-se pela paisagem e rapidamente decidiu que teria de criar ali qualquer coisa. Ao mesmo tempo, a mulher, Isabel, começou a pôr em marcha um plano para reactivar a antiga fábrica de lã da vila, usando apenas as máquinas e os teares originais.

De repente, a Serra da Estrela, na ressaca dos tempos de glória do turismo de montanha da década de 50, ganhou três projectos ambiciosos que mudaram para sempre aquele pedaço de terra esquecido. Da antiga pousada ficou a estrutura do edifício principal, a memória preservada da obra de Rogério de Azevedo e o mobiliário dos anos 40, desenhado à medida por Maria Keil, cujos desenhos icónicos do lobo, da estrela e da flor foram replicados e aproveitados para a identidade da nova casa. A entrada já não se faz pelo mesmo sítio e os três aposentos iniciais multiplicaram-se em 17 quartos e quatro suítes virados para a serra.

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Lá dentro convivem harmoniosamente alguns originais, como as lareiras de pedra e a sala de estar em madeira com peças contemporâneas de designers portugueses – a cadeira Shell, de Marco Sousa Santos, é o exemplo mais óbvio, mesmo para quem não se aventura muito nos meandros da arte. O burel é usado como elemento agregador de uma estética exemplar e isso só é possível quando a matéria-prima está logo ali à mão de semear. Não é por isso de estranhar que se encontrem paredes e móveis forrados a burel, tectos adornados com fitas que aproveitam os desperdícios da fábrica, quadros floridos cosidos à mão e uma cúpula convertida em saleta com lareira coberta de lã.

Aproveitando o privilégio da altitude e os bons ares da serra, o spa é uma continuação da história do hotel e traz para dentro de portas uma piscina panorâmica aquecida, com passagem para o exterior e onde apetece ficar de molho a ver a serra, mesmo nos dias mais rigorosos de Inverno. Logo ao lado, para eliminar qualquer vestígio de stress, há salas de massagens, sauna e banho turco.

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À hora das refeições, importa dizer que não vai querer sair do hotel. Não só porque os 11 km que distam até Manteigas são penosos para quem enjoa em trajectos de curva-contracurva, mas sobretudo porque o chef Manuel Figueira tratou de desenhar uma carta que olha para os sabores tradicionais da Beira como ponto de partida para uma abordagem mais contemporânea e criativa, mantendo porém a autenticidade da gastronomia local. Os pastéis de massa tenra recheados com cabrito desfiado são obrigatórios, mas avisamos já que são altamente viciantes, pelo que o mais provável é querer repetir a dose em todas as refeições. Chegam à mesa aos três e são óptimos para acompanhar com um copo dos muitos (e bons) vinhos disponíveis na garrafeira.

Casa de São Lourenço
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E porque ainda é Verão e ainda estamos longe de chegar àquela altura do ano em que a neve toma conta da paisagem, vale a pena dar corda aos sapatos e ir explorar os trilhos traçados à volta do hotel. Há os oficiais, demarcados por estacas de madeira, e os outros, descobertos por João Tomás, e que seguem um rigoroso e organizadíssimo trajecto orientado por mariolas (aqueles montinhos de pedras que se encontram pelo caminho e que eram usados pelos pastores como ponto de referência). Num deles, com duração de cerca de duas horas, respira-se a paisagem moldada pelos glaciares, descobrem-se formações rochosas surpreendentes, antigos sanatórios e lagoas de água azul-turquesa onde vai querer parar para mergulhar. No Vale do Rossim, fica a dica, a temperatura da água ronda os 24 oC e a toda a volta há pequenas enseadas de pedra para desdobrar a toalha e estender o farnel. Antes de se pôr a caminho, peça na recepção um mapa e uma cesta de piquenique. Também há calçado de caminhada para quem, como nós, se esqueceu dos ténis em casa.

Já de regresso ao hotel, sirva-se do lanche preparado para os hóspedes, ocupe uma das mesas do terraço e deixe-se ficar no embalo da paisagem até ao sol se pôr e a vila de Manteigas se transformar num carreiro de luzinhas que dão o dia por terminado.

Refúgios para todo o ano

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