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Sistelo
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Duas escapadinhas no interior de Portugal para desligar e reconectar

É hora de desacelerar. Descobrimos dois lugares perfeitos na região Norte do país para desligar e reconectar

Escrito por
Madalena Moreira de Sá
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Vamos admitir que andamos todos mais ou menos aos tropeções nas velocidades impostas pelas rotinas urbanas. Dispa-se de tudo o que acha que devia estar a fazer. Afaste-se do rebuliço do litoral e das espécies endógenas ou migratórias que lá se alapam durante a época balnear. E mergulhe fundo no interior – do país, e quem sabe também no seu. Na região transmontana e minhota vai encontrar riqueza em estado bruto, que rompe a terra, trepa montanhas, esverdeia a vista e corre em leitos. A natureza tem a habilidade de permear os sentidos. Mais do que turismo de natureza, aqui encontra turismo de proximidade, com a terra e com as pessoas. Descubra estas duas escapadinhas no interior de Portugal para a próxima vez que precisar de uma pausa.

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Um poema chamado Sistelo

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Embutida nos socalcos que ladeiam o rio Vez, no limite do Parque Nacional da Peneda-Gerês, a aldeia de Sistelo, de raízes medievais, parece resistir ao passar do tempo e simultaneamente acolher as modernidades necessárias à recepção dos visitantes que chegam em busca de uma lavagem de alma. Integrante da Reserva Mundial da Biosfera e considerada uma das 7 Maravilhas de Portugal, é candidata a Património Mundial da UNESCO. Mas quem sabe o maior património da humanidade não serão as pessoas – e Sistelo é o lugar ideal para resgatar a sua fé nelas. Converse com os moradores da aldeia, ouça-lhes as histórias e os silêncios, e deixe-se gargalhar com as coisas mais simples.

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Perca-se e encontre-se

Depois de encontrar os históricos espigueiros que permitiam a secagem e armazenamento 
do milho, sente-se na beira do fontanário no centro da aldeia, deslumbre-se com os milheirais banhados pelo sol das sete, visite a igreja paroquial e desça, é melhor, a sua magnífica e íngreme escadaria.

Respire o ar dos pássaros

Quem o aconselha é Álvaro, que sabe que em Sistelo as pessoas morrem na mesma, mas diz que são capazes de durar mais. Trilhe os Passadiços de Sistelo (uma hora, rota circular; mais informações em trilhos.arcosdevaldevez.pt), que integram a Ecovia do Vez (33 km) e vá descansando em pequenos recantos, quadros vivos emoldurados pelo recorte das árvores, ao som das aves canoras. No final, não deixe de mergulhar nas lagoas acetinadas do Vez. Com início em Sistelo, há muitos percursos com níveis de dificuldade variados, como o dos socalcos (PR24, 5,12 km, 2.30h) – diga olá às vacas cachenas e agradeça-lhes (serem) o jantar em antecipação.

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Nem pense em ir a Sistelo de passagem, isso é o que faz toda a gente. Faça diferente. Lembre-se, desacelere. A Casa da Teresina é uma boa opção de alojamento. É a das portas vermelhas e cortinas de renda, uma casa rural cuidadosamente recuperada que acomoda até seis pessoas (com a possibilidade de cama extra para crianças até 12 anos, 15€/ noite). Inclui tudo o que precisa para uma estadia tranquila, confortável, despretensiosa e autêntica na aldeia (Rua da Igreja. 96 374 1652. casadateresina@gmail.com. 150€/noite para 6 pessoas, mínimo 2 noites). Também tradicional, recuperada e espaçosa, a Casa da Avó fica bem perto do Castelo de Sistelo – que é, na verdade, um palácio revivalista do século XIX – tem vistas privilegiadas para os milheirais e socalcos e é o poiso perfeito para descansar, namorar, e tomar o pequeno-almoço na varanda. Tem televisão e Wi-Fi, mas já sabe o que vamos dizer, não sabe? (Lugar da Igreja. 25 893 1750. avo@aldeiasdeportugal.pt. 70€/noite para 2 pessoas, mínimo 2 noites, opção de cama extra para 2 crianças até 12 anos, 20€/noite.)

Provar

A tenra posta de cachena DOP – o bovino mais pequeno do mundo, dizem, estava em vias de extinção e tem sido preservado por produtores locais e através de iniciativas de reinserção – faz parte da gastronomia típica da zona e é servida com o caldoso arroz de feijão tarrestre, espécie cultivada nos socalcos das serras da Peneda e do Soajo. Prove também o bacalhau à lavrador – frito, como se comia quando começavam as lavradas antigamente. Opte pelas mesas corridas da tradicional Tasquinha da Ti’ Mélia (Rua do Visconde de Sistelo. 96 751 6796. Ter-Dom 08.00-23.00), no coração da aldeia, ou pelo Restaurante Cantinho do Abade (Igreja de Sistelo, Arcos de Valdevez. 25 856 3201. Sex-Ter 10.00-21.00, Qua 10.00-15.00), com uma varanda para que não se esqueça do paraíso onde está. Prove também a tarte de Sistelo, com amêndoa, maçã e canela, e os pastéis de feijão – docinhos, docinhos.

Parque Biológico de Vinhais: Um convite sensorial à consciência

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Inserido no Parque Natural de Montesinho, altamente focado na sustentabilidade, na preservação da biodiversidade e na consciência ambiental, o Parque Biológico de Vinhais é uma amostra da diversidade de fauna e flora existentes na região. Tem três centros interpretativos – o do Lobo Ibérico, o das Raças Autóctones Portuguesas e o Micológico, que organiza dois workshops por ano para dar a conhecer cogumelos selvagens e como os cozinhar. Há ainda uma piscina biológica que honra a paisagem transmontana pela forma, funcionamento ecológico e acabamentos em materiais da serra, como a pedra ultrabásica e a madeira.

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Passear – ainda se lembra como se faz?

Calce uns sapatos confortáveis, abasteça-se de água e parta numa jornada por entre carvalhais, fetos e urzais de reconhecimento de cheiros, texturas e sons que vêm de perto e de longe. Escolha entre vários percursos de pequena rota, que podem ser feitos a pé ou de bicicleta (pode alugá-la por 2€/hora), como o Trilho da Barragem de Prada (5,9 km, circular) ou o Trilho da Cidadelha (3,2 km, linear). Ou rume ao Alto da Cidadelha, um dos polos complementares do parque – diz quem sabe que é lá que as borboletas vão acasalar.

Conheça os animais

Há 30 espécies para descobrir, como o dócil, prolífico e (desculpe-nos a comunidade vegetariana) muito saboroso porco bísaro, o cordeiro bragançano, a cabra preta de Montesinho (o parque foi pioneiro na recuperação deste caprino francês, que estava praticamente extinto) ou a maternal e suculenta (é a última vez, prometemos) vaca mirandesa. Os animais selvagens incluem javalis, veados, corsos, raposas, águias, bufos (a maior ave de rapina nocturna na Europa, em vias de extinção) e o milhafre, uma ave com responsabilidade cívica nula que persegue outras aves e ataca ninhos de garças para lhes roubar alimentos. Crianças até 12 anos podem passear de burro mirandês – o incansável fiel, inteligente, e muito meigo companheiro de agricultores (Seg, Qua & Sex 15.00-17.00; Ter, Qui, Sáb & Dom 10.30-12.00 & 15.00-17.00; 3€/ 10 min) – ou participar na hora da papinha, com o acompanhamento de um profissional (Seg, Qua & Sex 17.00-18.30; Ter, Qui, Sáb & Dom 09.00-10.30 & 17.00- 18.30), basta marcar. Pode ainda confiar o passeio aos cavalos e percorrer o território a passo, trote, galope ou...de charrete (Centro Hípico: aberto todos os dias 09.00-12.00 & 15.00-19.00; actividades mediante marcação prévia). No final de tudo, pode até apadrinhar um animal, assim terá mais uma razão para voltar.

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Nesta fase do campeonato, já percebeu que a ideia é desacelerar. Vire um hobbit transmontano e pernoite num dos bungalows ou pods do parque (bungalows 65€- 140€/noite, pods a partir de 40€/noite, T0-T4). Se vier em grupo, pode também optar por ficar na Hospedaria, um solar setecentista a 3 quilómetros do parque, com várias camaratas. Para uma exposição máxima aos elementos, fique no parque de campismo rural, numa tenda, caravana ou autocaravana.

Provar

Os alojamentos estão todos devidamente equipados. A nossa sugestão para uma experiência imersiva? Venha aprovisionado e prepare petiscos caseiros que pode consumir na tranquilidade do seu eco-lar ou no Parque de Merendas. Alternativamente, o bar do Parque Biológico de Vinhais serve refeições com marcação prévia, pequenos-almoços e petiscos da região (aberto todos os dias, 09.00- 20.00). Prove as compotas caseiras – de melão, cereja ou figo, por exemplo –, e abasteça-se de enchidos e vinho local (Alto da Cidadelha. 27 377 1040/ 93 326 0304; geral@parquebiologicodevinhais.com. Recepção: 09.00-20.00. Visitas: Abril a Setembro 09.00-18.00, Outubro a Março 09.00-17.00. Preços: entre 1€ e 2,50€; grátis para crianças até aos 6 anos e pessoas com deficiência; com guia acresce 1€ a 3€ por pessoa consoante o número de pessoas).

Outras sugestões de escapadinhas

  • Coisas para fazer

Diz-se escapadinha de uma viagem de curta duração, normalmente assente nos alicerces de uma ponte de feriado ou construída sobre uns dias subtraídos às férias grandes – mas  não negamos que também podem ser as férias uma grande escapadinha. O que interessa aqui é que passámos em revista o último ano e escolhemos as melhores novidades de hotéis, turismos rurais e guesthouses de norte a sul do país, ilhas incluídas. Deixamos-lhe assim uma sugestão de 19 novos turismos que valem a viagem. Já escolheu a sua escapadinha de Lisboa? Agora faça o favor de ir dar uma volta e diga que vai daqui. 

  • Coisas para fazer

É para ir e voltar (a opção de ficar a dormir é por sua conta, e também vale a pena) com estes destinos que não ficam a mais de uma hora de distância de Lisboa. De Cascais a Óbidos, siga algumas sugestões para ir num pé e voltar noutro. Apontamentos culturais, sugestões carregadas de história, mesas simpáticas. Está tudo à mão de semear de Lisboa, para ir e voltar no mesmo dia, e ainda assim mudar de ares. Tome nota desta lista de escapadinhas e diga-nos afinal qual vai ser afinal a desculpa para não passear?  

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