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Na toca do lobo livro onde vinha a imagem
©DRPassaporte de Dusco Popov

O verdadeiro James Bond

Entrevista a Larry Loftis, autor de 'Na Toca do Lobo', o livro sobre Dusco Popov, o verdadeiro James Bond

Escrito por
Eurico de Barros
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Ele foi mais Bond do que o próprio James Bond. Dusco Popov inspirou o agente secreto mais famoso do mundo da literatura e do cinema e ainda assim era muito melhor do que ele, garante Larry Loftis, autor de Na Toca do Loboo novo livro sobre o jugoslavo e playboy, agente duplo e triplo durante a II Guerra Mundial.

No Hotel Palácio do Estoril, onde Popov passou boa parte do seu tempo em Portugal, conversámos com Larry Loftis sobre a biografia do agente, a forma como desinformou os alemães sobre o desembarque na Normandia, a sua vida boémia e de trabalho em Lisboa e no Estoril, sem pausas para dormir. Parte da entrevista está na Time Out Lisboa desta semana.

Aqui revelamos mais, incluindo o segredo para o agente aguentar o soro da verdade.

©Álvaro Torres/Cliché

Como é que foi o encontro no Estoril entre Ian Fleming e Dusko Popov?

O Ian Fleming sabia tudo sobre Popov, sabia quem ele era. O Fleming estava nos serviços secretos navais e era o secretário pessoal e o homem de confiança do almirante Godfrey, que os dirigia. E o Fleming era muito bom nas suas funções. Ora Godfrey sabia tudo o que Popov fazia, porque era ele que aprovava os planos todos. Conhecia o Plano Midas, uma ideia de Popov para extrair dinheiro aos alemães, que acabou por financiar o orçamento do MI5 durante a guerra. Logo, contou tudo sobre Popov a Fleming, frisando que ele era um playboy à solta mas também um agente extraordinário. Quando Fleming voltou de Washington com o seu amigo David Eccles, Popov estava no Hotel Palácio e podem ter-se encontrado no bar, mas nenhum deles alguma vez falou disso, claro. Num dos primeiros dias de Agosto, Popov e Fleming cruzam-se no hotel e claro que se reconhecem mutuamente, embora Popov não saiba se Fleming será um espião inglês ou alemão. Nesse dia de manhã, Popov recebeu o dinheiro dos alemães, 30 mil dólares, que em 1941 era uma fortuna, e tinha-o consigo porque não achava seguro pô-lo no cofre do hotel.  Popov acabou por achar que Fleming era um agente inglês e que estava a vigiar o dinheiro. E apesar de não saber ainda quem ele era, sabia que ia estar a segui-lo. Popov, que tem também com ele dinheiro de um cliente, num total de 50 mil dólares, decide brincar um bocado com aquele agente. 

E o que fez ele?

O Popov gostava de bacará, um jogo de casino que era então muito popular, ou chemin-de-fer (a versão francesa), e o que vai acontecer, foi mais tarde recriado por Fleming em Casino Royale. Havia três pessoas: Bond, Mathis, o outro agente, que está a assistir, e o vilão, Le Chiffre. Na vida real, em 1941, Popov era Bond, Fleming era Mathis e um sujeito chamado Bloch, que identifico no livro, era Le Chiffre, só que Bloch estava com os alemães e não com os russos, como o Le Chiffre. E Bond joga com o dinheiro do MI6, tal como Popov jogou. Em Casino Royale, o Splendid, onde Bond está, é o Hotel Palácio do Estoril. Fleming recriou em Casino Royale aquilo a que assistiu no Palácio e no Casino Estoril (na imagem). É uma coisa extraordinária. E quando Popov fez aquela aposta com o dinheiro todo, olhou para Fleming e ele estava verde. Era dinheiro do MI6, e ele estava a apostá-lo, podia evaporar-se em 30 segundos! Mas Popov era tão bom e tão controlado, que sabia ser uma aposta segura - Bloch, apesar de rico, não tinha tanto dinheiro. Quando recuperou o dinheiro, olha para trás de forma gozona, para um Fleming já aliviado, que percebe que foi tudo um espectáculo montado por Popov.

©DR

Ele não tinha medo que lhe injectassem soro da verdade?

Sim, por isso praticou com soro da verdade, aqui mesmo, no Hotel Palácio do Estoril. O Popov pediu ao seu contacto local do MI6 que lhe arranjasse um médico, mas português, que não fizesse perguntas, e que viesse ao quarto dele e o injectasse com soro da verdade – nessa altura, em 1941, o soro da verdade, que é pentatol de sódio, era uma coisa nova, quase ninguém sabia que existia. E vem um Dr. Pinto, que faz o que o Popov lhe pede, mas nada acontece, porque o Popov era um grande bebedor, estava cheio de álcool e o soro não resulta. Horas mais tarde, vendo isto, ele pede ao Dr. Pinto uma dose dupla de soro. E o contacto do MI6 pratica um interrogatório com ele, igualzinho ao dos alemães, perguntando-lhe desde se ele odeia Hitler até se é um agente duplo dos ingleses. 

E o que aconteceu?

Isto durou toda a noite, e o Popov já não sabia o que dizia. Quando foi acordado no dia seguinte, porque tinha um encontro com o supervisor alemão, já eram cinco da tarde e comunicaram-lhe que tinha corrido tudo bem e que não tinha revelado nada. Portanto, tomou um banho, comeu um bom bife e saiu.

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©DR

Larry Loftis, o autor de Na Toca do Lobo (Vogais, 19,99€)
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