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"Todo o mundo é um palco", lê-se num dos monólogos de William Shakespeare e a casa de Ana Pérez-Quiroga mostra isso mesmo. Nas próximas semanas, o MAAT vai ser a casa de quem se candidatar a este alojamento artístico pelo Airbnb. O seu lar será APQHome — MAAT, a instalação de Ana Pérez-Quiroga que inaugura no Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia esta terça-feira e que vai ser a casa mais barata da capital nos próximos meses.
A casa também é espaço artístico e de representação e é essa ideia que a artista tem perseguido obsessivamente: o seu doutoramento é sobre o tema e vai defendê-lo dia 19 de Junho. O projecto Breviário do Quotidiano #8 – Os regimes acumulativos dos objetos e as suas determinantes começou em 2012 e não há maneira de parar, crescendo com a catalogação de cada um dos objectos que tem em casa. No seu site mostra tudo isso e as fotografias que passam em slideshow são as do seu lar — não há público nem privado aqui. Ou melhor, o privado é público e artístico também.
"Isto foi uma vontade do Pedro Gadanho [o curador da exposição]: sugeriu a imersão das pessoas numa experiência artística", conta Ana como o projecto saltou para o tamanho real. A instalação ocupa um grande espaço da Central, o que não só faz do seu visitante um performer como o pode pôr a pensar se a sua casa não poderá ser também uma instalação artística. "Lavar os dentes, fazer a nossa higiene, pentear o cabelo, todos esses pequenos gestos, por estarem neste contexto, ganham interesse de observação. É uma performatização dos gestos do quotidiano que nos leva a tomar consciência de cada acção", explica. É "estar no presente".
Não é suficiente que o visitante possa entrar e tocar em tudo, sentar-se, ler os livros, tratar das plantas. É preciso que assista ao gesto que é feito e por isso as candidaturas estão abertas para residências de 48 horas — artistas de qualquer área candidatam-se pelo Airbnb apresentando um projecto de reflexão e pagam 25 euros por noite para custear a manutenção desta casa. "Já se candidataram uns jovens estrangeiros que iam a um festival [NOSAlive] e como o museu fica perto dava jeito. Achei um máximo, mas expliquei-lhes muito polidamente que não era bem aquilo". Mas a verdade é que, se estiver a viver na Central e quiser ir a um festival de Verão pode. As regras são de quem habita esta casa que Ana Pérez-Quiroga desenhou ao pormenor, tendo como inspiração a sua casa ideal: fala-se com os visitantes, sai-se e entra-se à vontade, dorme-se certamente sossegado sem grande vizinhança. A primeira é Ana Pérez-Quiroga que faz de APQHome a sua casa desde esta terça-feira à noite.