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ENTREVISTA: "Há muitos anos que as orcas passam por Portugal"

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
Jornalista
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No Dia Internacional do Animal, a 4 de Outubro, um grupo de oito orcas foi avistado e registado pelas máquinas da ECCO Ocean. E não aconteceu por acaso.

Não há lisboeta que estranhe o avistamento de golfinhos por estas bandas. Os sadinos estão mais habituados a estas coisas, mas o Tejo tem o privilégio de ser visitado por golfinhos uma vez por ano. Mas algo mais inusitado aconteceu no Dia Internacional do Animal junto à foz do Tejo, quando foi registada a passagem de um grupo de orcas pela ECCO Ocean, uma empresa de investigação marinha fundada pelo biólogo Francisco Marinho e autofinanciada através de actividades de ecoturismo.

Falámos com ele para perceber afinal que visita foi esta. 

A que se deve esta visita inesperada?

As orcas que ocorrem na Península Ibérica demonstram movimentos de larga escala que estão associados à distribuição das suas diversas presas. Por exemplo, as orcas surgem em Gibraltar durante a migração do atum para o Mediterrâneo, e consoante os períodos de chegada e partida podemos prever quando as orcas poderão passar pela costa portuguesa. Por isso, elas ocorrem todos os anos. Este registo foi possível devido à cooperação entre várias empresas, como a Terra Incógnita, que suportou a logística, e a ECCO Ocean, que analisou ocorrências anteriores para prever esta visita.

Esta é uma boa ou má notícia, do ponto de vista da biologia?

É uma boa notícia porque significa que, apesar da sobrepesca que o atum que migra para o Mediterrâneo sofreu no século XX no Algarve, estas orcas ainda mantêm as incursões ao Sul da Europa para se alimentarem.

Já aconteceu anteriormente?

Sim, desde há muitos anos que as orcas passam por Portugal e os primeiros registos ocorreram nos anos 20. Por exemplo, existe um esqueleto de uma orca no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra que data de 1935. Relativamente a Lisboa, em 1971, mais propriamente em Belém, existe um registo de duas orcas que ali passaram. Desde então outros registos têm surgido, mas estão sempre dependentes da disponibilização das ocorrências.

Já foram avistadas novamente ou terão ido embora?

Sim, foram avistadas no dia seguinte. No entanto, como não têm as presas principais na costa portuguesa, deverão deslocar-se para outras latitudes.

Se alguém quiser ir à procura das orcas de barco, que conselhos dá?

Os animais marinhos não têm barreiras geográficas e, portanto, potencialmente podem deslocar-se livremente. Estes animais estão apenas de passagem na costa portuguesa e percorrem grandes distâncias, por isso existe uma uma probabilidade muito reduzida de avistamento. O mais adequado é não esperarem avistar orcas, mas se as avistarem apreciem o momento, que é raro, respeitando sempre estes animais selvagens.

ECCO Ocean

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