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Levo a mochila ou os brincos?

Mauro Gonçalves
Escrito por
Mauro Gonçalves
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Um dilema de primeiro mundo nunca destoa na avenida (cada vez) mais cara de Lisboa. A mesma avenida onde os desenvolvimentos das últimas semanas dissipam todas as dúvidas: a anexação italiana não dá tréguas e as marcas com travo a alta sartoria começam a deixar bem claro que gostam é disto (de uma rua meio inclinada, em calçada anti-dondoca, entenda-se). Haja pasta ou, pelo menos, uma conta poupança pronta a ser saqueada.

Esta semana, foram precisamente as duas novas residentes da Avenida da Liberdade que nos puxaram para as compras (quais saldos da Zara, quais quê). Até porque não seríamos os primeiros nem os últimos a investir as poupanças numa peça de luxo, tão pouco as únicas aves raras com vontade de brincar aos milionários. A verdade é que tanto a Bvlgari como a Versace lhe vão abrir a porta da loja com todas as simpatias. É que o mundo mudou um bocado desde o filme Pretty Woman de 1990- o cliente impecavelmente vestido entra só para bisbilhotar o balcão de mármore da loja (nada de mal, apoiamos), o de cabelo oleoso e chinelos de cortiça leva a loja toda. O melhor é aparecer como bem lhe apetecer, de qualquer maneira, ninguém passa despercebido mesmo.

E eis que o brilho das jóias falou mais alto. Um lamiré pela montra e ala, que lá dentro há mais. Assim que o segurança fecha a porta, percebe-se a diferença entre entrar numa loja própria e pôr o pé num daqueles corners oficiais (a Bvlgari fechou o que tinha no El Corte Inglés). E o que se vê é uma versão mega luxuosa dos interiores italianos dos anos 60. As serpentes são um clássico da casa e, quanto mais cravejadas, melhor. Os preços chegam aos cinco dígitos, na boa, e o crescendo não abranda quando chegamos aos relógios, possíveis de categorizar em diferentes níveis de bling-bling. Pelo meio, há malas, carteiras, porta-cartões e perfumes. Ah, mas nada dos Omnias da vida. Aqui, onde até as noivas têm direito a uma salinha à parte (graças a Deus), as fragrâncias são exclusivas e vêm em ânforas de ar precioso, que certamente iríamos partir na primeira manhã em que acordássemos assarapantados e, logo a seguir, pisar os cacos, antes sequer de termos tempo de chorar sobre o perfume derramado. Ainda assim, sim senhor, muito bem esgalhado, Bvlgari.

É que é literalmente sair e entrar na porta ao lado, onde a recepção é igualmente calorosa, só que com mais gente de olhos postos na clientela. Esta loja então, é mesmo fresquinha. Abriu há duas semanas e, com muita pena nossa, não há sequer um retrato da Donatella a dar as boas-vindas a quem entra (pelo menos, nós teríamos apreciado esse bom presságio para 2017). Tirando a pequena falta, a Versace veio com tudo. Ou melhor, voltou com tudo, que a casa italiana já teve poiso no Chiado, assim há muitas eras atrás. Tal como muitas lojas da Avenida, não podemos julgá-la pela fachada. Há muito para desbravar lá dentro, entre acessórios e vestuário saído directamente dos desfiles da marca. Para elas e para eles, que a medusa dá para os dois lados. Lá em baixo, até encontrámos saldos, imagine-se. Provavelmente, o cantinho de oportunidades com menos ar de cantinho de oportunidades de Lisboa. Tudo o resto, é nova colecção. Os gostos mais sóbrios não se vão deixar impressionar, mas também já basta os que são chegadinhos num aparato. A esses, fica reservado o direito de cair em desgraça.

Boas compras.

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