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Os “Lírios” de Van Gogh dançaram na minha barriga

Escrito por
Miguel Branco
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Estive na inauguração de “Van Gogh Alive – The Experience”, exposição multissensorial que fica até Agosto na Cordoaria Nacional. E sobrevivi para contar

O aviso estava feito, e logo no nome: “Van Gogh Alive – The Experience”. Claramente não é um nome de exposição comum, daquelas com paredes brancas, ocupadas por quadros alinhados. Isto pressupõe um ingrediente secreto, um o-segredo-está-na-massa. Meto um pé lá dentro e a primeira garantia é: isto não tem nada a ver com pizzas. No entanto, não deixa de soar a encomenda, uma proposta artística inédita em Portugal, que a Cofina Eventos tratou de trazer para a Cordoaria Nacional. 

Uma escadaria depois e estamos noutro planeta. Ponho em prática, eu e todos os presentes, a posição sagrada de quem entrou numa igreja. O tecto não tem detalhes manuelinos, mas obriga a olhar atentamente, tal é a projecção de imagens relativas a Van Gogh, que aliás percorrem todo o espaço entre telas gigantes em vários ângulos. São obras, dados biográficos, frases do holandês. Tudo acompanhado por uma banda sonora que desafia os tímpanos e quase me obriga a sentar, a perceber o que me rodeia. É que isto, para quem tem vertigens desde que visitou o Cristo Rei em miúdo, pode-se revelar uma experiência complexa. 

Há algo de magnânimo, que me obriga a controlar a respiração antes de perceber o que há aqui de Van Gogh para levar para a posteridade. Mas há, e muito.

Na salinha mais convencional, como estamos habituados a consumir em galerias e museus, podemos espreitar grande parte das obras presentes, como “Auto-retrato com Orelha Ligada” (1889) ou “A Vinha Encarnada” (1888). Sim, que “Van Gogh Alive – The Experience” centra-se sobretudo na década de 1880 a 1890, quando Van Gogh viveu em Arles, Sanit Rémy e Auvers-sur-Oise. 

A melhor forma de explicar esta experiência é enquadrá-la como um Van Gogh 360º. “Lírios” (1889) e “Os Girassóis” percorrem-me a barriga, onde até percebo que gostem de se refugiar. Daqui a uns anos, quando se inventarem jardins botânicos cinematográficos (ou apenas projectados, com aromas da vegetação para ser tudo mais fiel à realidade), vou lembrar-me desta exposição inovadora. 

E como bom português que sou, se é evolução, se é coisa nova e tecnológica, tenho que questionar, tenho que duvidar do seu interesse para a existência humana. Vale a pena experimentar, porque a ignorância é dos piores inimigos do homem. Mas também lhe digo que a velocidade a que mudam as imagens e a música questionam, por certo, o conceito de observação de arte, em que, por norma, gosto de me deixar estar, de perder o tempo que acho necessário em cada peça. 

Uma última nota: cuidado com os torcicolos. 

Cordoaria Nacional (Torreão Poente), Rua da Junqueira, 342. Dom-Qui 10.00-20.00, Sex-Sáb 10.00-21.00. 9,50€

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