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Quem tem BoCA vai a Lisboa (e ao Porto)

Escrito por
Miguel Branco
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A BoCA – Biennial of Contemporary Arts foi ontem apresentada publicamente no Teatro Nacional D. Maria II. De 17 de Março a 30 de Abril as duas maiores cidades do país são palco de uma amálgama ambiciosa de artes

John Romão é louco. E melhor estaríamos se mais como ele por aqui andassem. Loucura que nestes dias se confunde com ambição, espécie de crime menor. O diretor artístico da BoCA – Biennial of Contemporary Arts – acontecimento que conhece a primeira edição de 17 de Março a 30 de Abril, em Lisboa e no Porto – teve a ousadia de propor criações inusitadas a artistas portugueses e estrangeiros. “O desconhecido é o lugar primordial dos artistas, onde queremos estar, e o conceito de programação da BoCA assenta na transversalidade”, afirmou na apresentação pública que decorreu ontem no Teatro Nacional D. Maria II. 

A dimensão é quase surreal: 38 instituições e mais de 30 projetos, entre 20 estreias internacionais e 15 nacionais. Romão fez um género de ensaio discursivo, no palco do Teatro Nacional, que situou a BoCA. Explorou a ideia de provisoriedade, visto que esta bienal – como quase todos os eventos deste género – acontecem num determinado intervalo de tempo. “Mais do que temporárias as coisas são transitórias, e podem, nesse caminho, tornar-se permanentes para cada pessoa”. 

A partir daqui já não se acham razões para se ter receio de ir ao dentista. O doutor Romão só trata bem de nós. A programação acresce saliva para a BoCA. Atente-se melhor. Há quatro artistas residentes. Salomé Lamas é uma delas, a cineasta que leva ao Pequeno Auditório do CCB (12 e 13 de Abril) o seu primeiro espetáculo de palco. Fatamorgana é uma paródia política cheia de actualidade. Depois o francês François Chaignaud, que se junta a Marie-Piere Brébant para estrear uma performance/instalação cujo objetivo era tocar, integralmente e ao vivo, toda a obra da teóloga e monja alemã Hildegarda de Bingen (1098-1179). São 69 melodias, e só deverão ser apresentadas as primeiras cinco, no dia 11 de Abril, em lugar a definir. 

Sobram ainda os Musa paradisiaca, dupla portuguesa interdisciplinar que para a BoCA deseja indagar a ténue linha entre homem e animal. Casa-animal é uma estrutura em metal, móvel, que será palco de apresentações, conversas, projecções ou meras visitas. Vai ocupar o Palácio Pombal em Lisboa e mais tarde os Jardins do Palácio de Cristal, no Porto.

A última mas não menos essencial artista residente é Tania Bruguera. A cubana que há mais de duas décadas vem invadindo galerias e museus com performances e instalações que debatem o conceito de poder, de vida privada e política, vem a Portugal (Mosteiro São Bento da Vitória, no Porto) realizar a sua estreia em teatro. Ela que diz odiar teatro. Endgame parte de Beckett e fará, através de uma estrutura gigante cilíndrica, com que o público veja a peça de cima para baixo. 

Há mais nomes a reter nesta programação: Romeu Castellucci, Jérôme Bel, João Pedro Vale & Nuno Alexandre Ferreira, Rodrigo García, Jan Martens, Héctor Zamora, Jenny Hval, Vhils. A lista (que envolve estéticas como artes visuais, performance, artes cénicas, música e teatro) é interminável. Quem tem BoCA vai a Lisboa e ao Porto. 

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