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Sopro estreia esta quinta-feira no Teatro Nacional D. Maria II

Escrito por
Miguel Branco
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A peça coloca Cristina Vidal, ponto do D. Maria II, fora da sombra. Vimos Sopro, que estreia esta quinta no D. Maria, e não nos esquecemos do texto.

O teatro está em ruínas. Aquele de que aqui se fala – invadido por ervas daninhas e trepadeiras alimentadas pela passagem do tempo – e os outros, com produções senhoriais, onde os pontos sempre sopram ao ritmo das brancas dos actores.

Em Sopro (espectáculo escrito e encenado por Tiago Rodrigues que depois da estreia no Festival d’Avignon chega, esta quinta, ao Teatro Nacional D. Maria II) a insistência da dicotomia real vs ficção é quase dictatorial. Dizem-nos que é sobre uma ponto que há 39 anos trabalha em teatro, dizem-nos que é sobre o desafio de persuasão de um director que quer escrever uma peça para essa ponto. E depois dizem-nos: “A peça não é biográfica, é bastante ficcional embora se inspire, muitas vezes, em episódios verídicos de bastidores de vários teatros”, garante Tiago.

Podem dizer à vontade, mas Sopro é Cristina Vidal, ponto do Teatro Nacional D. Maria II há 39 anos. Sopro é a forma como Cristina Vidal não olha o público, Sopro é a sua constante estadia no lugar menos iluminado do palco, Sopro é “colocarmos no centro aquilo que está ameaçado”, explica o encenador.

Apesar de já ter esta ideia na cabeça há alguns anos, foi quando surgiu o convite do Festival d’Avignon que Tiago Rodrigues pensou “que era interessante que no centro dessa criação estivesse alguém que simboliza a vida de uma grande instituição, de uma casa do teatro e numa profissão que já só se encontra nesta casa, bem como com uma ideia de teatro onde estes artesãos do palco, que estão em extinção, ainda existem”.

©Christophe Raynaud de Lage

Tentando não tropeçar na vegetação, em palco, cinco actores e uma ponto revisitam enredos (ora mais reais ora mais ficcionados) de bastidores. Uma directora de teatro com uma doença terminal, a história da ponto que com apenas cinco anos viu teatro pela primeira vez na caixa do ponto, o actor que dizia o texto sempre de forma diferente e errada.

Episódios que gravitam em torno da antipresença de Cristina Vidal, como se estivéssemos num ensaio de flashbacks do teatro português. Tanto que no limite diríamos que o espectáculo decorreu no café Ponto de Encontro, junto à entrada de artistas do Teatro D. Maria II, onde Tiago Rodrigues convenceu Cristina Vidal a escrever este texto para si. Mas, como tudo na vida, não assim tanto.

Cristina fez Tiago Rodrigues garantir que não seria actriz. E ainda que esteja na ficha técnica, Cristina Vidal não o é. Faz aquilo que costuma fazer na penumbra: pontar. “O facto de a Cristina ser vista é que transforma o olhar do público”, avisa. Olhe bem, caro espectador, olhe bem.

Teatro Nacional D. Maria II, Praça D. Pedro V. Qua 19.00, Qui-Sáb 21.00, Dom 16.00. 5€-17€. Até 19 de Novembro.

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