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Thurston Moore de regresso a Lisboa

Luís Filipe Rodrigues
Escrito por
Luís Filipe Rodrigues
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O indie rock americano não seria o mesmo sem Thurston Moore.

Ao lado de Kim Gordon e Lee Ranaldo, nos discos e concertos dos Sonic Youth, Thurston Moore ajudou a inventar e delimitar um género musical e uma cultura. Foi por isso que o fim da banda, em 2011, teve o impacte que teve. É por isso que nada que ele tenha feito desde então teve (nunca poderia ter) a mesma pertinência. É uma maldição que também acaba por ser uma benção. Hoje, pode fazer o que quer, com a confiança de quem não tem nada a provar. É essa liberdade que vamos ouvir esta quinta-feira no Lux, numa programação da ZDB fora de portas.

É tambem essa liberdade que se ouve em Rock n Roll Consciousness, o mais recente disco em seu nome, editado este ano. Acompanhado pelo guitarrista James Sedwards, a baixista Debbie Googe, dos My Bloody Valentine, e o baterista Steve Shelley, parceiro musical de longa data, ao seu lado desde o tempo dos Sonic Youth – a mesma formação que gravou o anterior The Best Day, em 2014 –, Thurston Moore é um músico seguro de si, a fazer o que gosta e o que quer. Com honestidade e sem temor.

Rock n Roll Consciousness é um trabalho inspirado e inspirador, mais até do que muitos dos últimos discos dos Sonic Youth. Optimista, ainda que aparentemente melancólico (ou pelo menos reflexivo), pode não ter a fúria de antanho, mas acredita com a mesma intensidade. Acredita, entenda-se, no potencial emancipatório da canção popular, uma crença transversal à música que ele vem a produzir e ouvir desde sempre.

A caminho dos 60 anos, Moore é uma eminência parda do rock, mas parece um puto a cantar e a tocar. Ao contrário de um puto, porém, a sua música carrega o peso e o saber do tempo. Oiça-se, por exemplo, “Exalted”, a abrir o novo álbum. Os seus 12 minutos guardam lá dentro uma vida de música e militância, moram lá Glenn Branca, os Velvets e o panteão pop californiano, está lá o rock colegial dos 80s e o drone maldito dos Swans, os Sonic Youth assombram cada segundo mas são um fantasma apaziguado. É uma canção maior do que a vida. É maior do que muitas vidas.

Noutro disco qualquer, “Exalted” seria um cume que o grupo não voltaria a escalar. Neste caso é apenas o tiro de partida para uma longa escalada, o princípio de algo de verdadeiro e verdadeiramente especial, que se desenrola ao longo das faixas seguintes e reacende nos mais cínicos a esperança e a crença na música. No rock. Na pop.

São essas canções (mais uma ou outra do anterior The Best Day) que se vão ouvir no Lux. E ainda bem. Seria fácil para Thurston Moore revisitar as velhas malhas de Sonic Youth, e outros cederiam à tentação. Ele não. Repita-se: é um homem sem nada para provar, já fez o que tinha a fazer e garantiu o seu lugar nos livros; há até um livro em que a história do rock americano e a história dos Sonic Youth se confundem – Psychic Confusion: The Sonic Youth Story, de Stevie Chick. Ouvi-lo tocar o que quer, com quem quer, no ano de desgraça de 2017 não é apenas um privilégio. É uma benção.

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