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Colectivo Coral

  • Coisas para fazer
  • São Vicente 
  • 3/5 estrelas
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  1. Associação Cultural, Colectivo Coral, Anjos
    ©Gabriell VieiraColectivo Coral
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A Time Out diz

3/5 estrelas

O apoio aos artistas e criadores independentes é a primeira missão deste colectivo criado há poucos meses, que vem provar que a união faz a força. Três negócios deram origem ao Coral: as pastas artesanais do Café Mortara, a programação e as pizzas do Valsa e a cerveja da Artesanalis. O colectivo nasceu para dividir custos, mas depressa se transformou em algo maior, que transmite uma mensagem de união e inclusão num bairro multicultural. “O princípio do colectivo é juntar coisas diferentes, num encontro de outros bairros, até porque estamos na parte mais alta. A ideia do encontro define bem os Anjos. É um bairro central, multicultural. Tem essa dinâmica de reunir coisas diferentes”, diz Thiago Rocha, o mestre piazzolo. Esta semana, para celebrar o Oktoberfest, o Coral vai ter pratos especiais até domingo e mais referências de cerveja alemã no cardápio.

Por Renata Lima Lobo

Crítica

O eixo entre a Graça e a Penha de França está sempre a dar-nos coisas novas. Nem tudo o que ali brota perdura, mas faz parte do encanto essa precariedade, tantas vezes feita ao ritmo de chegadas e partidas. Muitas das viagens têm, cada vez mais, como origem o Brasil.

O Coral Colectivo é obra de jovens imigrantes brasileiros, entre eles a dupla do Café Mortara, já aqui glosada em tempos, mas também a Valsa, que começou em Santos, a cidade do Brasil, e que se mudou para ali, onde os Anjos encontram a Graça, já este ano. A sua actividade principal é a programação de cultura independente com causas: feminismo, anti-racismo e activismo LGBTQIA+.

Fui lá numa noite movimentada, quando estava a decorrer a apresentação de um livro. Cá fora, pessoas de copo na mão, a morderem pizzas e a rirem. Há uma primeira porta onde funciona a sala de espectáculos, a Cardume, e um barzinho de onde sai cerveja a rodos. A cerveja é uma das razões para lá ir, porque tem curadoria de Martha Varella, dona da Artesanalis Bottle Shop, pequena loja de Alvalade de cerveja artesanal mesmo – e não dessa que produz milhões de litros por ano.

Acabei por entrar na segunda porta, a verdadeira cantina do colectivo. O espaço é simples, mas colorido e simpático, ao fundo o balcão onde a apertada cozinha acontece. Há duas estações, a de Thiago Rocha, de onde saem pizzas de fermentação lenta; e a das massas frescas do Café Mortara, logo ao lado, sem compartimentações.

Lá dentro, não se via empregados a servir às mesas, mas viam-se sorrisos e um caos descontraído. O caos descontraído funciona para quem está no espírito caos descontraído, mas para quem está no espírito sóbrio-escriba pode não ter piada. Fomos pelas recomendações da casa, depois de uma abordagem directa ao pizzaiolo, com duas pizzas carnívoras a abrir.

A Nduja tem como estrela a nduja, enchido picante da região da Calábria, no sul de Itália, mas leva ainda tomate, mozarela, grana padano e mel de rosmaninho. Rodelas de tamanho pequeno, mas com massa grossa e arejada nas bordas, bem assada, ao centro fina. O mel, infelizmente, obliterou tudo o resto, como é costume. A segunda pizza era de pancetta (barriga de porco curada) com chutney de figo, outra vez o doce, ainda que aqui mais discreto.

No final da ronda das pizzas, os lugares apertaram-se. Um casal colou-se a nós, de tal forma que o cotovelo da pessoa tocava no meu cotovelo sempre que levava os orecchiette à boca. Os orecchiette são umas massas em forma de orelha, muito populares na região da Apúlia. Aqui vinham com salsicha e guanciale (“bacon” de bochecha de porco), devidamente contrabalançadas com a frescura da sálvia e o verde dos espinafres.

No final, a avaliação é positiva e fiquei com vontade de voltar, noutras circunstâncias. O Coral Coletivo, mais do que um restaurante, parece-me uma festa brasileira com comida, libertina e intelectual, mas sempre genuína. Há contudo uma ideia, comum a alguma oferta que vai abrindo na cidade, que não me agrada assim tanto: a do laboratório. No caso, o Coral anuncia-se como “laboratório para artistas independentes”. Ora, os laboratórios são locais de experiências, de testes. Em parte, existem para que o erro não passe para o público.

No caso dos melhores restaurantes, eles investem bom dinheiro a prepararem-se. Experimentam ingredientes, combinações, treinam o serviço, pensam a configuração da sala ao detalhe, ouvem opiniões. O laboratório existe, mas não se vê, nem se paga. Talvez falte ainda essa afinação, esse compromisso com o serviço e o conforto do cliente. Nada que seja difícil de alcançar para um grupo de pessoas generosas, livres e apaixonadas.

*Os críticos da Time Out visitam os restaurantes de forma anónima e pagam pelas refeições.

Alfredo Lacerda
Escrito por
Alfredo Lacerda

Detalhes

Endereço
Rua Angelina Vidal, 13
Anjos
Lisboa
1170-270
Horário
Qua-Sáb 12.00-22.00, Dom 17.00-22.00
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