A Time Out na sua caixa de entrada

Procurar
Fernando Medina
Duarte DragoFernando Medina com um Vhils no seu gabinete

Fernando Medina: eléctrico rápido liga concelhos de Lisboa e Oeiras

Fernando Medina defende o alargamento do Metro até ao Alto de Santo Amaro e daí fazer uma ligação acima do solo para a Cruz Quebrada.

Hugo Torres
Escrito por
Hugo Torres
Publicidade

Lisboa está a mudar a um ritmo galopante. Há gruas e estaleiros por toda a parte. A Câmara tem uma miríade de projectos em marcha: terminar o Palácio da Ajuda, expandir o Hub Criativo do Beato, reconfigurar a Praça de Espanha, ligar o Parque Mayer ao Jardim Botânico e reabilitar a Doca da Marinha são alguns deles. A menina dos olhos de Fernando Medina tem, no entanto, outro nome: mobilidade. O presidente da autarquia quer mais pessoas a andar de transportes públicos, de bicicleta e a pé, e no seu horizonte já estão a conexão da Linha de Cascais com a Linha de Cintura, a expansão do Metro até ao Alto de Santo Amaro e a criação de um metro de superfície a partir daí.

Como vê Lisboa em 2030?
O caminho que queremos fazer para 2030 é o de uma cidade sustentável – do ponto de vista da criação de emprego e da vida económica, e da qualidade de vida. O que significa cuidar da dimensão ambiental e intervir na mobilidade com alternativas credíveis ao automóvel, criando condições para mais mobilidade em transporte público, mais meios de mobilidade suave e mais mobilidade a pé. Uma cidade com mais áreas verdes e devolução de zonas para as pessoas. Outra dimensão é a da sustentabilidade social. Uma cidade tem de ser para todos. Uma cidade em que os jovens encontram formação, educação, emprego, casa. Uma cidade inclusiva para os mais velhos, que devem poder deslocar-se com segurança, em pisos confortáveis, e ter acesso a equipamentos culturais e de lazer. E para a grande diversidade que Lisboa comporta: nacionalidades, religiões, orientações... Temos de ser um espaço de liberdade e tolerância onde todos se sintam bem.

Nos últimos quatro anos o que foi feito nesse sentido?
Foi feito um caminho muito interessante e credível na melhoria da qualidade de vida com os projectos do Uma Praça em Cada Bairro: a requalificação do Eixo Central, do Cais do Sodré, do Campo das Cebolas, da Avenida 24 de Julho, do Fonte Nova, do Largo do Calvário, do Largo de Alcântara. Obras que foram críticas, e que geraram tanto debate. Hoje há um reconhecimento de que mudaram a forma como as pessoas vivem a cidade. O espaço público é mais delas, a cidade é mais delas.

A rede de ciclovias também gerou desconfiança.
As ciclovias são uma conquista. Lembro-me da descrença com que eram olhadas. Hoje ninguém diz que as bicicletas não funcionam em Lisboa. Fala-se na nova realidade: como é que se compatibilizam bicicletas e trotinetas com quem anda a pé e com a circulação automóvel. Há uns anos não tínhamos este problema porque não tínhamos bicicletas. E o investimento nas ciclovias é claramente para continuar.

O que está a ser feito nos transportes públicos?
Todos os dias vemos a Carris melhor, com mais autocarros e mais oferta, que queremos que seja mais a tempo e horas. Vamos ter uma medida muito importante a partir de Abril: a diminuição muito significativa do valor dos passes. Vai revolucionar o sistema tarifário e diminuir muito significativamente os preços que se pagam para andar no transporte público, em particular para fora de Lisboa, mas também no coração da cidade. Uma família com um passe-família pagará duas vezes 30€ e todos os elementos do agregado passarão a estar abrangidos e a poder viajar sem mais encargos. Uma família com dois filhos, paga dois passes e tem direito a quatro. Se por acaso viver um avô nesse agregado familiar, ele também não pagará. 60€ é quanto uma família pagará, no máximo, para andar de transporte público em Lisboa. Também está em curso o investimento por parte do Metro, quer na aquisição de mais carruagens quer na mudança do sistema de segurança. A obra da linha circular melhorará a frequência e a eficácia do sistema, e estamos ainda a negociar a extensão da Linha Vermelha até Alcântara.

Estão a ser estudadas várias hipóteses de alargamento. O presidente do Metro de Lisboa disse que estavam a estudar a ligação Entrecampos-Aeroporto. Mas o Fernando Medina acha que seria melhor Campo Grande-Aeroporto.
Já tivemos oportunidade de transmitir ao Metro e de consensualizar com o Governo que o que tem de avançar com rapidez é a extensão da Linha Vermelha. O que está acordado, como é defendido por todas as forças da cidade, é fazermos a extensão São Sebastião da Pedreira-Campolide, em frente ao Hotel Dom Pedro, nas Amoreiras. Dali, Campo de Ourique e Alcântara. Depois defendemos que vá até ao Alto de Santo Amaro. E a partir dali o projecto que temos é um sistema de metro de superfície, desenvolvido pela Câmara de Lisboa em conjunto com a Câmara de Oeiras, que faça a meia encosta do Alto de Santo Amaro, vá à Ajuda, ao campus da Universidade, ao Hospital São Francisco Xavier, entre em Miraflores, Linda-a-Velha, desça à Cruz Quebrada e depois integre a linha do 15 [eléctrico que termina viagem em Algés mas que deve voltar a ir até à Cruz Quebrada]. No fundo, um metro de superfície que ligue toda a zona ocidental e entre por Oeiras, o que tem um enorme potencial para tirar carros de Lisboa.

Em que ponto está esse projecto?
Está a ser trabalhado com a Câmara de Oeiras e também com o Governo.

Não tem datas?
Conto apresentá-lo ainda este ano. Tem de ser articulado com o projecto do Metro, que é para o metro de superfície arrancar no sítio onde acaba o metro enterrado. Mas temos também o plano de expansão das ciclovias. Estamos a falar de dezenas de quilómetros. Primeiro, uma ligação mais franca às ciclovias das Avenidas Novas, que descem pela Fontes Pereira de Melo. Precisamos de resolver melhor a ligação à Avenida da Liberdade e à Baixa, até à frente ribeirinha. Consolidar a frente ribeirinha e depois tratar das ligações que faltam para termos uma rede estruturante de circulação. A bicicleta não será um meio de mobilidade para todos, mas haver uma alternativa credível de bicicleta é bom para todos. Para quem a utiliza e para quem tem de utilizar o automóvel. Cada pessoa que deixa o automóvel em casa é menos um carro a congestionar. Para termos uma ideia: 2000 pessoas – que não é um número gigantesco – que deixem o carro em casa são dez quilómetros de fila que desaparecem. Uma fila compacta maior do que a distância entre Algés-Cais do Sodré. Desaparecem o trânsito e as necessidades de estacionamento à superfície.

Os lisboetas podem sonhar com uma Baixa sem carros?
Quando tivermos fechada a nossa proposta relativamente ao trânsito da Baixa, fica combinada uma conversa com a Time Out [risos].

Portanto, pode acontecer.
O ritmo da gestão da circulação automóvel está directamente ligado com a melhoria do sistema de transporte público. Senão, criamos um bloqueio. Felizmente, ao [bom] ritmo de entrada de novos autocarros na Carris sucederá a aquisição de mais eléctricos, dos tradicionais e dos articulados. Um dos projectos, aliás, é levar o eléctrico [15] a Santa Apolónia e ao Parque das Nações. Tudo isto cria um quadro para haver alterações. Mas é um tema que tem de ser anunciado com tudo estudado.

Qual é a obra que mais gostaria de ver sair do papel?
Não me peçam para escolher a favorita. Mas há algumas que gostaria de destacar. Há quatro obras centrais, por exemplo, na área da cultura. A mais importante de todas é a do fecho do Palácio da Ajuda, que está inacabado há mais de 200 anos.

Faltou dinheiro.
Faltou tanta coisa! Houve épocas em que terá faltado dinheiro, épocas em que o país teve dinheiro e faltou a capacidade de decidir, vontade de decidir e de tornar aquilo prioritário. Orgulho-me muito de podermos fazer essa obra. Não é todos os dias que se resolve um problema com 200 anos.

A obra de um Palácio Nacional não deveria ser feita pelo Estado?
Dever, dever... É muito relativo. Deveria ser do Estado central, mas durante 200 anos o Estado central não o fez. Por isso, tomámos uma decisão. Fico muito satisfeito que a tenhamos tomado, mobilizámos os recursos da taxa turística e investimos numa obra central para a cidade. É extraordinário que o possamos fazer. A nossa previsão é que esteja pronto em 2020.

Outra obra central seria...
A recuperação da Sul e Sueste, cujas obras começaram agora. Trata-se de uma estação emblemática. Fazia a ligação das linhas férreas para quem ia de comboio para o Sul. Uma estação que estava abandonada e cujo arquitecto, Cottinelli Telmo, tem uma obra muito marcante na cidade. Depois da recuperação do Terreiro do Paço, do Campo das Cebolas, da Ribeira das Naus, do Cais do Sodré, olhava-se para ali e dizia-se: mas como é que isto está aqui? O Governo foi muito exigente na negociação em que esse edifício transitou para o município.

O facto de o projecto ser de Ana Costa [neta de Cottinelli Telmo] revela um lado afectivo na escolha da arquitecta para esta obra de reabilitação?
Sim. É um projecto muito bonito porque recupera na íntegra o original, adaptando-o às valências que a estação terá, com zonas de restauração. Será o centro dos barcos turísticos no Tejo, que podem fazer percursos desde Belém ao Parque das Nações, ou visitas ao estuário, permitindo uma utilização mais intensiva deste rio extraordinário. E há mais duas obras: o Torreão Poente e o Museu da Descoberta, que tem sido suficientemente discutido e com o qual queremos avançar.

Já foram definidos prazos e local?
Estamos a estudar várias soluções e vários modelos. Contamos ter isso definido nos próximos meses. Ainda neste âmbito, gostaríamos de avançar relativamente ao Parque Mayer, uma vez feito Entrecampos. E fazer um projecto em que o Parque Mayer pudesse ter valorizada a dimensão de espaço cultural.

Existe o projecto para o Teatro Variedades.
A obra foi interrompida por falência do empreiteiro. Está a fazer-se a mudança do empreiteiro para prosseguir a obra. Mas falta toda a envolvente. Espero poder discutir no primeiro trimestre de 2019 uma solução, que deve valorizar o espaço de natureza cultural, e não tanto comercial, e a ligação ao Jardim Botânico e à Escola Politécnica. Aquela ligação é absolutamente essencial numa zona extraordinária.

Como está o Hub Criativo do Beato?
Em franco desenvolvimento. Contamos ter um acordo nos próximos meses para a ala Norte da [antiga] Manutenção Militar, que é ainda maior do que a ala Sul.

Está decidido o que será feito na ala Norte?
Não será o mesmo programa que temos na ala Sul, tem de ser complementar. Um programa que permita maior abertura à freguesia e aos residentes, aproveitando as valências únicas que tem, como um teatro com capacidade para centenas de pessoas. É uma réplica da sala do [antigo] Monumental. É enorme. Entram lá e ficam [de boca aberta]. É uma preciosidade. Também tem uma creche.

Na área económica, o que mais está previsto?
A ampliação da FIL e do Centro de Congressos, e o desenvolvimento do projecto de Entrecampos, que não é municipal na sua parte de construção, mas tem na base um projecto municipal. Tem uma enorme componente de escritórios, com grande importância para o emprego e para a sustentabilidade económica da cidade.

Entrecampos vai mudar substancialmente. Não será criada uma pressão sobre aquela zona difícil de gerir?
Não. É uma zona totalmente consolidada. Muito especializada no terciário, com muitos escritórios e serviços, e uma área residencial na parte de trás. O que é estranho é precisamente a existência daquele terreno não urbanizado.

Estava a pensar no trânsito. São vias com muito tráfego.
Sim, mas é a zona da cidade que está, porventura, mais bem servida de transportes públicos. Está na confluência do metro e colada a uma estação de comboios. Há pouco não lhe falei: um projecto importante é a ligação da Linha de Cascais à Linha de Cintura, com o seu enterramento ali em Alcântara.

A ideia de fazer uma ligação subterrânea entre Alcântara-Terra a Alcântara-Mar não está parada?
Não. O projecto está aprovado pelo Governo no âmbito do Programa Nacional de Investimentos 2030.

O projecto de transformação da Segunda Circular continua em cima da mesa?
Está em estudo. Mas têm vindo a ser feitas obras de manutenção.

Nos espaços verdes...
Há vários projectos emblemáticos, como o da Praça de Espanha, que está muito avançado. Vai nascer ali um jardim com uma área igual à do Jardim da Estrela. Depois temos o corredor verde de Alcântara. Tem ciclovia, zona verde e pedonal. Há a nova Feira Popular. Falta uma pequena parte de modulação de terrenos e depois a empreitada da construção do parque verde. Estamos a falar de 20 hectares. É quatro vezes maior do que a antiga feira. A diferença é que, em vez de ser uma zona compacta sem árvores, será um grande parque urbano, onde está inserida uma parte de diversões, como os modernos parques por essa Europa fora. Será um local extraordinário com uma estação de metro acessível – a da Pontinha. Mais avançado está o Parque Ribeirinho Oriental. Vai dar origem a um jardim extraordinário que vai ligar a zona do Braço de Prata até ao Parque das Nações.

Falta lançar a segunda fase [na zona da Matinha].
Para já, é metade. Mas durante este mandato avançará, certamente, a outra metade.

Essa será uma diferença fundamental na Lisboa de 2030? Haverá finalmente uma continuidade entre Santa Apolónia e o Parque das Nações?
Sem dúvida. Essa é talvez a grande marca de uma mudança nas oportunidades da cidade. Havia este intervalo entre o Parque das Nações, recuperado no tempo da Expo-98, e a Baixa, que entrou num processo de reabilitação em particular nos mandatos de António Costa, com as obras no Terreiro do Paço e na Ribeira das Naus. Nós prosseguimos com o Cais do Sodré e o Campo das Cebolas. E vamos continuar – com a Doca da Marinha e o reperfilamento da Infante D. Henrique, ligando ao terminal de cruzeiros. Aqueles edifícios e o muro vão desaparecer, e a frente da Doca ficará aberta. Estamos a trabalhar com a Marinha, e creio que chegaremos a acordo para ficar ali em permanência o Creoula, quando estiver a funcionar como navio-escola.

Lisboa será a Capital Verde Europeia em 2020, agora passou a integrar o C40 [grupo que junta 94 das maiores cidades do mundo no combate às alterações climáticas]...
Acabámos de ser admitidos.

… mas os lisboetas têm a imagem de uma cidade suja e com um problema de higiene urbana. São questões separadas, ou estas realidades cruzam-se?
São algo separadas. É verdade que o sistema não está bem. Fundamentalmente porque houve um crescimento muito grande da produção de resíduos: mais actividade económica, mais emprego, mais consumo. Por outro lado, temos de apelar a uma atitude mais cívica por parte dos cidadãos. Uma cidade limpa é um trabalho de todos. Apresentámos um programa com dez medidas, que vão desde a contratação de cantoneiros ao reforço das verbas para as juntas. E temos o objectivo de deixar de ter plástico não reutilizável, adaptando-se a cidade, as entidades e os agentes durante este ano para que em 2020, Capital Verde, possamos ter dado um avanço muito grande relativamente à utilização do plástico. Há um elemento de ligação muito importante àquilo que diz e que é muito verdade: não basta tratar melhor da recolha, da lavagem e da varredura, temos de aproveitar este momento para darmos um salto nos indicadores de natureza ambiental. Se progredirmos estamos a ajudar o ambiente, quer na cidade quer do ponto de vista colectivo, e a reduzir a factura que pagamos. O lixo reciclado é reutilizado, e isso é pago. Portanto, quanto mais reciclagem houver menos se gasta no tratamento dos resíduos. Nessa frente, cruzam-se estratégias para a redução de produção de resíduos, para o aumento da reciclagem, para a redução de produção e de utilização de materiais como o plástico, tudo isso com a agenda do 2020.

Agora que o aeroporto do Montijo vai avançar, e uma vez que há um projecto de grande envergadura para a chamada Lisbon South Bay, deveria haver uma maior articulação entre Lisboa e os municípios da Margem Sul?
O desenvolvimento de Lisboa não se faz de forma sustentável sem pensar num contexto metropolitano. Exemplo: mobilidade. Não é possível enfrentar a questão da mobilidade, que se cruza com a sustentabilidade ambiental e a qualidade de vida, se não se reduzir o número de carros. Todos os dias entram em Lisboa 360 mil. Só é possível reduzir com melhor transporte público na Área Metropolitana. Não é só no interior da cidade. É para quem vem de Sintra, Oeiras, Cascais, Loures, Odivelas, Almada, Barreiro, Seixal... Os investimentos em transportes públicos pesados – a Linha de Cascais, a faixa BUS da A5, o metro de superfície até Oeiras, a compra de barcos anunciada pelo Governo – são elementos essenciais para ligar as cidades, reduzir o número de carros e melhorar a coesão social.

Lisboa 2030

As grandes obras que vão mudar os transportes em Lisboa
  • Coisas para fazer

Menos carros e mais gente a pé nas ruas, transportes públicos e meios suaves de mobilidade (bicicleta, trotineta) em barda, e melhor qualidade de vida. Os planos da Câmara de Lisboa apontam para uma cidade menos congestionada e poluída, mas antes de lá chegarmos haverá muito pó e ruído de maquinaria pesada no ar.

Publicidade
  • Coisas para fazer

Lisboa esperou duas décadas por isto: o Parque das Nações está a deixar de ser uma zona desgarrada do resto da cidade. Xabregas, Beato, Marvila, Braço de Prata e Cabo Ruivo estão finalmente a renovar-se e a fazer a ligação a Santa Apolónia.

Recomendado
    Também poderá gostar
    Também poderá gostar
    Publicidade