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Russian Circles
©Paul BlauRussian Circles

10 bandas para fazer o funeral do rock

O regresso a Lisboa dos Russian Circles é boa ocasião para chamar a atenção para um género que costuma andar longe dos primeiros lugares das tabelas de vendas mas tem seguidores fiéis: o post-rock

Escrito por
José Carlos Fernandes
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A taxonomia rock é fértil em denominações inadequadas ou tolas, mas poucas são tão infelizes como “post-rock”. Quem não esteja familiarizado com a expressão, pode, legitimamente, pensar que se trata de rock feito por gente que trabalha nos Correios. Porém, o “post” é aqui usado no sentido de “pós”, “o que vem depois”. Presume, portanto, que o rock se esgotou ou chegou ao fim do seu processo evolutivo e esta é a música que lhe sucede – uma ideia descabelada, mesmo que “rock” não designasse, já há muito, um organismo tão ramificado e multiforme que não pode ser interpretado segundo processos evolutivos lineares e que não corre o risco de se esgotar (mesmo que se repita muito) e morrer.

A inadequação do termo não quer dizer que o post-rock (fiquemos com a palavra, já que o seu uso está institucionalizado) não corresponda a uma categoria: trata-se de rock (dominantemente) instrumental, com uma forte componente exploratória e marginal (no sentido de afastada da “corrente principal”), de composições elaboradas, visando uma cuidada sugestão de atmosferas, e requerendo elevado nível de execução técnica (e também uma formidável colecção de pedais de efeitos para guitarras e baixos). Claro que esta definição não deixa de ser nebulosa e nem uma comissão de sábios com uma dúzia de Prémios Nobel da Matemática seria capaz de demarcar fronteiras entre post-rock e math rock e as fronteiras com o post-metal ou o prog rock não são menos difusas.

10 bandas para fazer o funeral do rock

Russian Circles

Origem: 2004, Chicago, Illinois, EUA
Membros: Mike Sullivan (guitarra) Brian Cook (baixo), Dave Turncrantz (bateria)
Um disco: Geneva (2009, Suicide Squeeze)

Sonoridade áspera, tensa e inquietante, de densidade sinfónica e contaminada por metal ominoso. A promissora estreia, com Enter (2006), deu lugar ao ainda melhor Station (2008) e atingiu o patamar de obra-prima com Geneva (2009), a que se seguiram Empros, Memorial e Guidance. A banda parece ter guardado boa impressão das suas frequentes visitas a Lisboa, pois deu esse título à faixa que encerra o seu disco mais recente.

[“309”, do álbum Empros (2011), ao vivo em estúdio]

Os Russian Circles tocam no RCA Club, sexta-feira 10 de Março, 21.45, 20€; primeira parte pelos Cloakroom.

Mogwai

Origem: 1995, Glasgow, Escócia
Membros: Stuart Braithwaite (guitarra), Barry Burns (guitarra, teclados), Dominic Aitchison (baixo), Martin Bulloch (bateria)
Um disco: The hawk is howling (2008, Wall of Sound)

Os Mogwai são o nome mais célebre do post-rock europeu, em parte devido à sua longa carreira, que conta com oito álbuns, e à sua colaboração com o mundo do cinema, que vão de Miami Vice ao documentário Zidane, un Portrait du 21e Siècle, de Douglas Gordon e Philippe Parreno, cuja banda sonora é integralmente da autoria da banda escocesa.

[“I Know You Are But What Am I?”, do álbum Happy Songs for Happy People (2003), numa versão ao vivo]

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Pelican

Origem: 2000, Des Plaines, Illinois, EUA
Membros: Trevor de Brauw (guitarra), Dallas Thomas (guitarra), Brian Herweg (baixo), Larry Herweg (bateria) Um disco: Forever Becoming (2013)

Tal como os seus conterrâneos do Illinois, os Russian Circles, incorporam muitos elementos da linguagem “metálica” (o que leva a que sejam ambos agregados no post-metal), mas sempre em tonalidades sombrias e em ambientes opressivos. As influências stoner rock manifestam-se nos ambientes obsessivos, construídos em torno de riffs hipnóticos.

[“Immutable Dusk”, do álbum Forever Becoming (2013), ao vivo em estúdio]

Jakob

Origem: 1998, Napier, Nova Zelândia
Membros: Jeff Boyle (guitarra), Maurice Beckett (baixo), Jason Johnston (bateria)
Um disco: Sines (2014, The Mylene Sheath)

Tendo por base um lugar tão periférico do ponto de vista musical como a Nova Zelândia, é natural que os Jakob tenham levado algum tempo até conseguirem impor-se. A sua música combina músculo e densidade sinfónica com qualidades planantes.

[“Blind Them With Science”, do álbum Sines]

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Shora

Origem: 1998, Genebra, Suíça
Membros: Tony Casimo, Alessandro Curvaia, David Mamie, Nicola Todeschini
Um disco: Malval (2006, Conspiracy Records)

No início a sua sonoridade era mais afim do noise e do hardcore, mas foram inflectindo a trajectória e quando chegaram a Malval (o primeiro longa duração e o seu derradeiro disco), as suas composições tinham ganho em elaboração, aproximando-se do que viria a ser a sonoridade dos Russian Circles, mas com menos elementos metálicos e mais influências de psicadelismo e prog rock.

[“Siphrodias”, do álbum Malval (2006)]

Speaker Gain Teardrop

Origem: 1998, Hiroshima, Japão
Membros: Yasuchika Horibe (guitarra), Fumiaki Kimura (baixo), Ikki Murakami (bateria)
Um disco: Rendering Encryption (2011, Kilk)

A banda tem uma longa história, com substanciais alterações de sonoridade e de formação e cultiva um som planante e onírico, com fortes marcas shoegaze.

[“Parsec”, do álbum Rendering Encryption]

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This Will Destroy You

Origem: 2004, San Marcos, Texas, EUA
Membros: Jeremy Galindo (guitarra), Christopher Royal King (guitarra), Andrew Stevens (baixo, teclados), Jesse Kees (bateria)
Um disco: Another Language (2014, Suicide Squeeze)

Os This Will Destroy You representam a faceta planante e etérea do post-rock. O esmero com que constroem atmosferas oníricas não exclui o sentido de concisão, evitando que caiam nas longas digressões que prejudicam algumas bandas afins.

[“Quiet”, do EP Young Mountain (2006), ao vivo no The Casbah]

Makrohang

Origem: 2013, Budapeste, Hungria
Membros: Gergely Nagy (guitarra), Marcell Gyanyi (baixo) e Tamás Czirják (bateria)
Um disco: Maxrebo EP (2014, ed. autor)

A banda define-se, ironicamente, como “jazz for metalheads”. Há, com efeito, uma forte componente improvisativa na sua música, mas a componente metálica é submersa por uma mescla de influências que vão do math rock dos Slint (na apurada gestão da tensão dramática) a grooves que se diriam importados do hip hop.

[“Dear Flowered Lips”, ao vivo no A38, um navio convertido em sala de concertos ancorado no Danúbio, em Budapeste, 2016]

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Caspian

Origem: 2004, Beverly, Massachusetts, EUA
Membros: Philip Jamieson (guitarra, teclados), Calvin Joss (guitarra), Erin Burke-Moran (guitarra), Jonny Ashburn (guitarra), Jani Zubkovs (baixo) e Joe Vickers (bateria)
Um disco: Hymn for the Greatest Generation (2014, Triple Crown)

Os Caspian apostam em temas de crescimento lento, erguendo imponentes catedrais sonoras a partir de uma névoa primordial. A densidade sonora e a qualidade hipnótica e onírica tem afinidades com o universo shoegaze e com os Godspeed You! Black Emperor.

[“Sycamore”, numa sessão Audiotree Live, 12 de Setembro de 2012]

Godspeed You! Black Emperor

Origem: 1994, Montréal, Canadá
Membros: Efrim Menuck (guitarra, teclados), Mike Moya (guitarra), David Bryant (guitarra), Sophie Trudeau (violino), Mauro Pezzente (baixo), Thierry Amar (contrabaixo, baixo) têm sido os músicos mais regulares numa formação que tem conhecido várias alterações
Um disco: Lift Your Skinny Fists Like Antennas to Heaven (2000, Kranky)

Os Godspeed You! Black Emperor são difíceis de encaixar em géneros, pois congregam influências de drone rock, shoegaze, noise, ambient e música de câmara (na variedade que poderá ser tocada em bunkers após a III Guerra Mundial), mas podem ser vistos com estando na raiz de boa parte do post-rock de hoje. Os seus longos e inquietantes temas desenrolam-se preguiçosamente, num lento crescendo que vai de breves cintilações de luz à fornalha de uma supernova.

[“Moya/Górecki”, uma versão ao vivo de uma faixa de Slow Riot for New Zero Kanada (1999, Constellation), o primeiro EP da banda. A matéria musical inspira-se na Sinfonia n.º 3 de Henryk Górecki]

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