Nikolaus Harnoncourt: The Art of Harnoncourt (Warner Classics, 15 CDs)
O maestro austríaco Nikolaus Harnoncourt (1929-2016), pioneiro da “interpretação historicamente informada”, falecido em Março passado, deixou vasta obra. A editora a que teve ligação mais longa foi a Teldec – foi nela que teve, com a cumplicidade de Leonhardt, a audácia de gravar, entre 1970 e 1990, as 200 cantatas sacras de Johann Sebastian Bach em instrumentos de época e sem recorrer a vozes femininas, como era uso no tempo de Bach. A caixa The Art of Harnoncourt, que proporciona uma amostra que vai do Orfeo de Monteverdi (gravado em 1968) às (inesperadas) valsas de Strauss (1986), não podia deixar de ter uma amostra da gravação integral das cantatas – um disco contém as Cantatas n.º 80-83, pelos Tölzer Knabenchor (um coro de rapazes) e pelo agrupamento de instrumentos de época Concentus Musicus Wien, que fundou em 1953 e dirigiu durante 62 anos.
[Coro de abertura da Cantata “Eine feste Burg is unser Gott” BWV 80 de Bach, por Harnoncourt, gravação de 1977]
Embora tenha dado contributo inestimável para a “interpretação historicamente informada”, Harnoncourt não era um fundamentalista e dirigiu frequentemente orquestras com “instrumentos modernos”, mas nas quais inculcou os preceitos da abordagem “historicista”. Dessa fusão de dois universos resultaram, entre outros excelentes discos, a integral das sinfonias de Beethoven registada com a Chamber Orchestra of Europe, que foi eleita pela crítica como gravação de referência e que também está representada na caixa.
[IV Andamento (Allegro) da Sinfonia n.º5 de Beethoven, por Harnoncourt, gravação de 1990]