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The Rolling Stones
Photograph: Courtesy The Rolling StonesThe Rolling Stones, versão jazz? Sim, e em bom

10 clássicos rock reinventados pelo jazz

Em tempos, julgou-se que o jazz só se alimentava de standards, mas tem vindo a descobrir-se que o seu estômago é capaz de digerir todo o tipo de música, como é o caso destas canções, maioritariamente dos anos 70

Escrito por
José Carlos Fernandes
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1. “(I Can’t Get No) Satisfaction”, dos Rolling Stones, por Paolo Fresu

O original, surgido em 1965, já foi alvo de incontáveis versões no domínio pop-rock, dos Devo a Samantha Fox, passando por Britney Spears.



Atendendo a que os Stones manifestaram, em tempos, simpatia pelo diabo, é possível que apreciem a versão do Devil Quartet do trompetista italiano Paolo Fresu, que lidera projectos de natureza muito diversa e tem neste quarteto, com Bebo Ferra (guitarra), Paolino Della Porta (contrabaixo) e Stefano Bagnolli (bateria), uma das suas facetas mais eléctricas e interessantes. Esta versão foi gravada ao vivo no New Morning, em Paris, em Fevereiro de 2011 e o tema surge também no álbum Desertico (Bonsai Music), gravado em 2012.


2. “Life on Mars”, de David Bowie, por The Bad Plus

O original é uma das grandes canções do álbum Hunky Dory (1971) e da carreira de Bowie.



Esta versão do trio norte-americano The Bad Plus, com Ethan Iverson (piano), Reid Anderson (contrabaixo) e David King (bateria), foi gravada ao vivo no Basement Night Club, em Sydney, em Março de 2008, mas “Life on Mars” também consta do álbum Prog (EmArcy), gravado em 2006. Os The Bad Plus são dos grupos de jazz que mais recorre ao pop-rock, de ABBA a Nirvana, de Tears For Fears a Rush.


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3. “Walk On the Wild Side”, de Lou Reed, por Francesco Bearzatti

Um ano depois de Hunky Dory, Bowie e Mick Ronson, o guitarrista da sua banda, produziram o que viria a ser o mais célebre álbum de Lou Reed, Transformer (1972), que contém, entre outras canções, “Walk On the Wild Side”.



A versão do quarteto do saxofonista italiano Francesco Bearzatti, com Giovanni Falzone (trompete), Danilo Gallo (baixo) e Zeno de Rossi (bateria), no álbum Monk’n’Roll (CamJazz), gravado em 2012, não se limita a tomar a canção de Reed como matéria-prima: entretece-a com “Criss Cross”, uma composição de Thelonious Monk.



É uma abordagem que se repete nas restantes faixas de Monk’n’roll: cada composição de Monk foi hibridada com um êxito pop: “Round Midnight” com “Walking on the Moon”, dos Police, “Bemsha Swing” com “Another One Bites the Dust”, dos Queen, “Misterioso” com “Shine On You Crazy Diamond”, dos Pink Floyd, “Trinkle Tinkle” com “Back In Black”, dos AC/DC. Estes hipogrifos ou centauros, metade rock, metade jazz, são pequenos prodígios de habilidade e ironia.

4. “Dirt” dos Stooges, por Neneh Cherry & The Thing

1972 foi também o ano de outra intervenção decisiva de David Bowie como produtor: o álbum foi Raw Power, o terceiro álbum dos Stooges. “Dirt”, um dos temas mais conhecidos da banda, provém do álbum anterior, Fun House (1970).



A colaboração da cantora Neneh Cherry (filha do lendário trompetista Don Cherry) com o trio escandinavo The Thing (o saxofonista Mats Gustafsson, o contrabaixista Ingebrigt Haker-Flaten e o baterista Paal Nilssen-Love), em The Cherry Thing (Smalltown Supersound), de 2012, foi inesperada, dado o muito que separava os seus universos sonoros, mas muito bem-sucedida – e um dos pontos altos do álbum é a versão de “Dirt”.


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5. “Iron Man”, dos Black Sabbath, por The Bad Plus

O início dos anos 70 marca também o apogeu de popularidade do heavy metal britânico, com os Led Zeppelin, Deep Purple e Black Sabbath. “Iron Man” é um dos temas mais populares do segundo álbum dos Black Sabbath, Paranoid (1970).



Embora o heavy metal possa parecer um dos sub-géneros do rock mais afastados do jazz, os The Bad Plus, com Ethan Iverson (piano), Reid Anderson (contrabaixo) e David King (bateria), conseguem no álbum Give (Columbia), gravado em 2003, fazer dele uma extraordinária recriação, onde se combinam brutalidade, ambientes épicos e um delicado lirismo.


6. “The Mule”, dos Deep Purple, pelos TGB

Fireball (1971), o quinto álbum dos Deep Purple, foi o primeiro da banda a atingir o 1.º lugar do top britânico e “The Mule” foi um dos seus hit singles.



É pouco provável que Ian Gillan e os comparsas pudessem prever que um insólito trio de tuba, guitarra e bateria – os TGB, de Sérgio Carolino, Mário Delgado e Alexandre Frazão – retomaria a sua canção 38 anos depois. Mas faz sentido que uma canção “sobre Lúcifer e os seus amigos” (a descrição é de Gillan) surja num álbum intitulado Evil Things (Clean Feed). Embora o diabo seja figura relativamente recente na política portuguesa, ele tem andado a fazer das suas na música pelo menos desde o dealbar dos 70s.


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7. “Black Dog”, dos Led Zeppelin, por Stefan Pasborg

1971 foi também marcado pela edição do álbum Led Zeppelin IV (1971, que inclui o célebre “Black Dog”, inspirado por um velho Labrador negro que rondava o estúdio onde o disco foi gravado.



Nas mãos do septeto Odessa X-Tra Large, do baterista dinamarquês Stefan Pasborg, “Black Dog” ganha groove e ambiente festivo e deixa de ser um Labrador, mas continua a ser reconhecível como um cão negro. A versão provém do álbum Odessa X-Tra Large Live (EmArcy), gravado ao vivo em 2011.


8. “Machine Gun” de Jimi Hendrix, por Robert Dick

A canção original de Hendrix nunca chegou a ter uma versão definitiva de estúdio, mas foram registadas várias versões ao vivo, com diferentes durações e letras. A primeira versão foi ouvida no álbum ao vivo Band of Gypsys, gravado ao vivo em 1970 no Fillmore East, em Nova Iorque. Esta versão foi registada nesse mesmo ano, no sound check de um concerto em Berkeley, Califórnia.



A versão do flautista norte-americano Robert Dick faz parte do álbum Jazz Standards on Mars (Songlines), gravado em 1995. Com um alinhamento que inclui “Machine Gun”, o “jazz standards” do título não é para levar a sério, mas não há dúvida de que estamos em Marte, pois a

técnica de flautista não é deste mundo. Dick é um virtuoso de todos os tipos de flauta (do minúsculo piccolo à imponente flauta contrabaixo) e autor de três livros sobre “técnicas expandidas” (não-ortodoxas) de flauta e é delas que se socorre aqui para simular uma metralhadora (mais “verídica” do que a que é gerada pela guitarra de Hendrix). É acompanhado pelo Soldier String Quartet, Regina Carter (violino), Mark Dresser (contrabaixo), Kermit Driscoll (baixo eléctrico) e Ben Perowski (bateria).

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9. “Shine on You Crazy Diamond”, dos Pink Floyd, por Júlio Resende

O original provém do álbum Wish You Were Here (1975) e é uma homenagem a Syd Barrett, o primeiro guitarrista e motor criativo da banda – parte da criatividade resultava do consumo liberal de substâncias psicotrópicas (sobretudo LSD) que terão contribuído para tornar Barrett mentalmente instável e incapaz de continuar na banda.



Nas notas de capa do álbum Assim Falava Jazzatustra (Clean Feed), gravado em 2009, o pianista português Júlio Resende escreve que “a essência do jazz sempre foi a de se ultrapassar a si próprio” e é de superação que trata esta versão de “Shine On You Crazy Diamond”, convertida de blues-rock sinfónico em belíssima e melancólica balada para piano solo.


10. “Message in a Bottle”, dos Police, por Marcin Wasilewski

A canção foi o hit single do álbum Regatta de Blanc (1979) e tem sido alvo de incontáveis abordagens e releituras. Não há banda de bar que não a toque, geralmente em versões pastosas e sem graça, o que não é de espantar, pois para que a canção funcione é preciso, entre outras coisas, ter um demónio azougado como Stewart Copeland na bateria).



A versão do trio do pianista polaco Marcin Wasilewski, com Slawomir Kurkiewicz (contrabaixo) e Michal Miskiewicz (bateria), retira ao original efervescência e tensão e coloca no seu lugar lirismo e melancolia. Esta versão provém do festival Jazz Baltica 2015, mas o tema também está incluído no álbum Spark of Life (ECM), gravado em 2014.


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