
10 concertos pop-rock ao vivo com orquestra
Lou Reed afirmava, na capa de New York, que não é possível bater a combinação duas guitarras + baixo + bateria, mas a adição de uma orquestra à típica formação do rock é capaz de produzir resultados admiráveis (ou calamitosos)
O pop-rock sofre de algum complexo de inferioridade face à música dita “erudita” e é por essa razão que alguns grupos vêem na actuação com uma orquestra clássica uma forma de ganhar respeitabilidade. Quem pensa assim está equivocado, pois o pop-rock não precisa de envergar traje de cerimónia para ser digno, fica muito bem de calças de ganga rasgadas e t-shirt desbotada. A verdade é que, em muitos casos, a adição de uma orquestra traz pompa e espalhafato em vez de um acréscimo de sofisticação ou acaba até por pôr em evidência a pobreza da composição. A adequação dos arranjos é fundamental, mas se o material original não for bom, não é cobrindo-o com um glacé de metais e creme de cordas que vai tornar-se tragável.
10 concertos pop-rock ao vivo com orquestra
Deep Purple: Concerto for Group and Orchestra (Harvest)
Orquestra: Royal Philharmonic Orchestra, direcção de Malcolm Arnold
Não é das experiências mais conseguidas no género, mas o seu pioneirismo torna obrigatória a sua inclusão nesta lista. Foi a primeira vez que se deu um encontro destes ao vivo e, para mais, fez-se em condições excepcionais: no prestigiado Royal Albert Hall, com uma orquestra de primeiro plano e sob a direcção de um dos mais famosos compositores e maestros britânicos da época, Malcolm Arnold. Ao contrário dos restantes concertos desta lista, que aplicam roupagens orquestrais a canções pré-existentes, o programa do concerto foi composto para ele (por Jon Lord, o teclista dos Deep Purple) e concebido de raiz para combinar o instrumentário rock e a orquestra. O início do filme que a BBC fez do evento promete “o melhor de dois mundos”, mas o encontro não correu muito bem – a banda fora arrastada, contrariada, para o projecto por Jon Lord e o guitarrista Ritchie Blackmore, que se queixou da atitude de superioridade da orquestra, ficou feliz por o relativo fiasco do concerto ter posto termo às experiências sinfónicas dos Deep Purple.

Portishead: Roseland NYC Live (Go! Discs)
Orquestra: 35 elementos, que os créditos do disco dizem ser a New York Philharmonic, mas que certas fontes desmentem; direcção e arranjos de Nick Ingman.
Um disco inesperado numa banda com um som dominado por electrónica, programações, turntables e samples, mas que é um triunfo. E ajuda a perceber que, sob as vestes trip hop, a raiz das canções dos Portishead está nas torch songs dos anos 40-50 e que Beth Gibbons é uma reencarnação – em tonalidades góticas e trágicas – das divas de então.

Tindersticks: The Bloomsbury Theatre 12.03.95 (This Way Up)
Orquestra: orquestra ad hoc, direcção de Rosie Lindsell
As secções de cordas foram uma marca do início de carreira dos Tindersticks, quer nos discos de estúdio quer nos concertos. Entre a abundante discografia ao vivo da banda – em que se conta um “bootleg oficial” de tiragem limitada gravado no Coliseu dos Recreios de Lisboa, a 30 de Outubro de 2001 –, o disco mais afamado é o que foi gravado no Bloomsbury Theatre, em Londres, com o complemento de uma orquestra de câmara (sobretudo cordas).

The Church: A Psychedelic Symphony (Unorthodox)
Orquestra: George Ellis Orchestra, direcção e arranjos de George Ellis
Os australianos The Church estrearam-se em disco no distante ano de 1981, experimentaram altos e baixos na fortuna, mudaram algumas vezes de baterista, mas nunca abandonaram a sua via estética nem deram sinais de esgotamento de ideias. As suas inclinações psicadélicas estavam presentes desde o início, o gosto por arranjos elaborados tornaram-se manifestas nalgumas faixas do álbum Heyday (1985). A “sinfonia psicadélica” na Opera House de Sydney é, pois, um culminar lógico do desenvolvimento da banda e oferece uma perspectiva privilegiada e inovadora sobre 40 anos de canções.

Nada Surf: Peaceful Ghosts (City Slang)
Orquestra: Deutsches Filmorchester Babelsberg, direcção de Bernhard Wünsch, arranjos de Max Knoth
A ideia de colocar a power pop (com picos de energia punk) dos Nada Surf em contexto orquestral não é nada óbvia, mas resulta em pleno e põe em relevo as soberbas melodias dos Nada Surf. O arranjador Max Knoth, que trabalhou com Ryuichi Sakamoto e Lou Reed e tem composto bandas sonoras para cinema (Cloud Atlas), contribui para o sucesso da metamorfose.

Yes: Symphonic Live
Orquestra: European Festival Orchestra, direcção de Wilhelm Keitel
Se há banda vocacionada para tocar com orquestra serão os Yes, que foram luminárias do rock sinfónico da década de 70 (e recorreram a uma orquestra no álbum Time and a Word, de 1970). A partir de 1981, o grupo perdeu-se numa conturbada sucessão de dissoluções, reuniões, novas desavenças, nova separações e recrutamento de novos elementos, de que nem os mais dedicados fãs conseguirão fazer relatório preciso. No meio de tudo isto, em 1993 surgiu Symphonic Music of the Yes, um disco com versões orquestrais de clássicos da banda, e em 2001 surgiu Magnification, um disco de estúdio com arranjos orquestrais, a que se seguiu uma tournée com orquestra e com boa parte dos elementos da formação “clássica” dos Yes (Jon Anderson, Steve Howe, Chris Squire, Alan White). Symphonic Live documenta um concerto dessa tournée em que o grupo passa em revista os seus êxitos do passado.

The Decemberists
Orquestra: Los Angeles Philharmonic, direcção de Mark Watters
A pop dos Decemberists tem arranjos sofisticados, por vezes recorrendo a cordas, e influências prog rock, pelo que a ideia de somar uma orquestra sinfónica à banda parece natural. Ao contrário dos concertos acima, este não foi editado em disco, nem estão disponíveis registos vídeo de qualidade.

Grizzly Bear
Orquestra: Brooklyn Philharmonic
Os membros dos Grizzly Bear são multi-instrumentistas, com competências que incluem cordas e sopros, e a sua música pauta-se por arranjos complexos. Em Yellow House os arranjos tiveram a colaboração de Owen Pallett, e em Veckatimest, em que há quarteto de cordas e um coro infantil, os arranjos foram do reputado compositor contemporâneo Nico Muhly. As suas canções estavam mesmo a pedir uma orquestra.

My Morning Jacket
Orquestra: Boston Pops Orchestra
Em meados de 2006, os My Morning Jacket fizeram uma tournée com a Boston Pops Orchestra (uma instituição fundada em 1885). Os arranjos orquestrais assentam bem ao seu rock mesclado de folk, country e psicadelismo e com inclinações épicas.

Gregory Alan Isakov: With the Colorado Symphony
Orquestra: Colorado Symphony, direcção de Scott O’Neil, arranjos de Jay Clifford
Em 2013, Gregory Alan Isakov aliou-se à Colorado Symphony para dar novas roupagens a algumas canções dos álbuns That Sea, the Gambler, This Empty Northern Hemisphere e The Weatherman. A folk despojada de Isakov, onde se cruzam ecos de Neil Young, Bruce Springsteen e Leonard Cohen, ganhou intensidade surpreendente com os arranjos orquestrais e a tournée com a Colorado Symphony acabou por levar à gravação de um disco, lançado em 2016 – é o único desta lista que não foi registado em concertos ao vivo, embora tenha tido neles a sua génese.
