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Sérgio Godinho
Fotografia: Manuel Manso

5 canções de Sérgio Godinho que merecem ser lidas

A propósito de 'Coração Mais que Perfeito', o novo livro de Sérgio Godinho, eis cinco canções (entre muitas possíveis) que são peças de literatura. Todas obrigatórias, mas nem todas óbvias

Escrito por
João Pedro Oliveira
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Após 72 anos, Sérgio Godinho estreia-se no romance com Coração Mais que Perfeito. Depois de o ler, concluímos o que já sabíamos à partida. Que este é apenas um formato diferente para revelar um escritor que há muito ocupa um lugar de referência nas letras portuguesas. Para sustentar a nossa tese, apresentamos cinco provas irrefutáveis. Mas facilmente podíamos apresentar 50.

Leia a entrevista ao autor e a crítica ao livro na Time Out desta semana. 

5 canções de Sérgio Godinho que merecem ser lidas

2.º Andar Direito, Pano-cru (1978)

Pode ler-se como um conto. Há dois personagens e um narrador que lá para o fim da história se há-de assumir como personagem também. Em 2700 caracteres Sérgio Godinho conta a história corriqueira de um casal na fronteira entra a guerra e a paixão, de um amor jovem a tentar sobreviver a rotinas antigas. Um texto com quase 40 anos de um álbum onde se ergueram monumentos como “O Primeiro Dia” ou a “Balada da Rita”.

Fotos de Fogo, Tinta Permanente (1993)

“Chega-te a mim/ mais perto da lareira/ vou-te contar/ a história verdadeira.” É o princípio do texto e há-de ser o seu refrão, repetido ao fim de cada episódio que vai sendo contado. Um homem, supõe-se que ex-soldado no Ultramar, revolve uma caixa de fotografias e memórias de guerra e conta, supõe-se que a um filho, a história verdadeira dos horrores que viu, viveu e cometeu. Uma short story em 1800 caracteres, cinematográfica como muitos dos melhores textos de Godinho. Pertence ao álbum Tinta Permanente, de 1993, onde se inscrevem outras peças literárias como “O Elixir da Eterna Juventude”.

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Emboscadas, Na Vida Real (1986)

É um poema apenas, armadilhado de verbos no conjuntivo em que Godinho descobre uma musicalidade inesperada. Armasse, urdisse, lançasse, vestisse, cumprisse, desse. São 1100 caracteres que lustram um dos seus contributos maiores para a língua portuguesa: o de nos pôr a cantar palavras bicudas nas quais nunca suspeitáramos que a música pudesse habitar. Ouve-se no álbum Na Vida Real, de 1986, no mesmo alinhamento de “A Lisboa que Amanhece” ou “Pode Alguém Ser Quem Não É”.

Primeiro Dia, Pano-cru (1978)

Entramos no campo do óbvio, reconheça-se. Poucos textos serão tão unânimes numa colectânea de Sérgio Godinho. “O Primeiro Dia” é toda a vida vivida e o resto que ainda temos pela frente contida em 1400 caracteres. São seis sextilhas em decassílabos perfeitos, cada uma delas resumindo uma idade diferente, pelos olhos de um homem com a idade de Cristo. Estávamos em 1978, tinha Godinho 33. São versos universais. 












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Com um Brilhozinho nos Olhos, Canto da Boca (1981)

Seguimos em território consensual. Do vasto cancioneiro que Sérgio Godinho semeou ao longo de meio século, este será outro dos textos que ninguém deixaria de fora de qualquer colecção obrigatória. Uma aventura de paixão que faz nascer uma amizade contada em três mil caracteres corridos. É dos melhores exemplares de um exercício literário em que Godinho é mestre: revelar a poesia que se esconde nas frases feitas e em outros lugares comuns da língua. É de um álbum maior onde se escutam coisas como “É Terça-feira” ou “Espalhem a Notícia”.

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