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Bizet: Carmen
©Charlotte Van Berckel

Carmen de Bizet no São Carlos

Não é só o amor que é uma ave rebelde que ninguém consegue domesticar, como canta Carmen na celebérima Habanera “L’amour est un oiseaux rebelle”. O favor do público e o consequente sucesso também. Que o diga o pobre Bizet.

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Carmen de Bizet no São Carlos



[A Habanera pela mezzo-soprano letã Elina Garanca, uma das mais sensuais, provocantes, fogosas e vocalmente esplendorosas Carmens da história – o DVD está editado pela Deutsche Grammophon]

A estreia de Carmen, a 3 de Março de 1875, na Opéra-Comique de Paris, perante uma respeitável amostra da intelligentsia gaulesa (Gounod, d’Indy, Massenet, Offenbach, Alexandre Dumas), foi acolhida com frieza. Piores reacções surgiram nos dias seguintes na imprensa: o libreto era “uma pouca-vergonha castelhana”, a música era “bizarra” e Bizet foi zurzido pelos adeptos de Wagner e pelos adversários de Wagner (ah, a França nunca teve par nas quezílias intelectuais...).


[Outra Carmen arrasadora: Grace Bumbry, na Seguidilla da produção de 1967 dirigida e encenada por Herbert von Karajan – o DVD está também disponível na Deutsche Grammophon]

Por volta da quarta ou quinta récita Carmen esteve para ser suspensa, mas, apesar da dominância das críticas negativas, o público começou a acorrer, talvez seduzido pelo aroma de escândalo, e acabaram por realizar-se 45 récitas. Nas últimas, porém, a Opéra-Comique teve de distribuir bilhetes gratuitamente para compor a sala. Houve mais três récitas no ano seguinte e depois Carmen desapareceu dos radares parisienses. Entretanto, magoado pela recepção a Carmen, Bizet sucumbira a um ataque cardíaco a 3 de Junho de 1875 (Pode não parecer, mas Bizet faleceu com a mesma idade de Mozart – 36 anos) e não assistiu à onda de entusiasmo por Carmen que correu mundo: Viena (1875), Bruxelas e Budapeste (1876), São Petersburgo, Estocolmo, Londres, Dublin e Nova Iorque (1878), Melbourne e Nápoles (1879), Hamburgo, Praga e Genebra (1881), Cidade do México, Rio de Janeiro, Barcelona e Buenos Aires (1881). Após o sucesso no estrangeiro (e em Marselha, Lyon e Bordéus), a Cidade-Luz rendeu-se e Carmen regressou à Opéra-Comique em 1883. A estreia portuguesa, no São Carlos, chegou em 1885 e a obra-prima de Bizet está de regresso ao nosso teatro de ópera, com a mezzo-soprano sérvia Katarina Bradic como Carmen, o tenor sul-africano Lukhanyo Moyake como Don José e o maestro escocês Rory Macdonald à frente do Coro do TNSC e da Orquestra Sinfónica Portuguesa.

Teatro Nacional S. Carlos, segunda-feira 10, quarta-feira 12, sexta-feira 14 às 20.00. 20-60€.

José Carlos Fernandes

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