Pensou que não gostava de música, mas estudou no Conservatório e uma guitarra mudou-lhe os planos. Um post partilhado no Twitter, de uma música escrita às duas da manhã, ganhou uma proporção que o levou aos palcos do MEO Sudoeste e do MEO Marés Vivas.

Quem é o Domingues?
Acho que é uma mistura de coisas, e uma vontade de ser mais todos os dias. Uma vontade de aprender e perceber quem é o Domingues. Uma vez vi uma frase que dizia “não saber quem és, procurares novas experiências, quereres ser mais e melhor, e andares na busca do que é incompreendido, pode ser quem tu és”, e acho que sou um bocado isso.
A música chegou a ti como uma paixão de Verão, rápida e avassaladora, ou como um romance de Inverno, mais aconchegante, mais lento…?
Foi mais como um romance de Inverno, até porque inicialmente achei que era um bocado anti-música. Inscreveram-me no Conservatório contra a minha vontade, tocava violino, e achei que não gostava de música, porque estava num contexto que não fazia sentido.
No último ano comprei a guitarra, comecei a aprender sozinho, comecei a cantar, a escrever, e percebi o gosto pela música. Desde aí que não páro.
Como é que surgiu o ímpeto de gravar o primeiro single?
Foi tudo por causa do Twitter, originalmente. Eu já escrevia umas coisas, mas nunca tinha tido aquela vontade de partilhar. Naquele dia, surgiu-me uma música, a “Insubstituível”. Eu estava só lá fora, duas da manhã, e comecei a escrever: "são duas da manhã e eu aqui sozinho". Comecei mesmo a escrever a minha vida numa história. No dia a seguir, decidi publicar no Twitter, e foi aí que vi a proporção que aquilo estava a tomar. Fiquei estupefacto. Lancei o som, e para primeiro teve um feedback incrível, chegou às 200 mil visualizações.
Como é que é acordar e perceber que a tua música se tornou num sucesso?
É uma confusão. É satisfação, mas ao mesmo tempo muito confuso. Sempre pensei que fosse impossível fazer isso, e fosse impossível estar neste patamar, parecia um bocado irreal. Até porque aconteceu em quarentena, então o único amor que eu tinha era o amor ali do streaming, da Internet.
Actuaste no MEO Marés Vivas e no MEO Sudoeste, como é que te sentiste?
É incrível, um sonho tornado realidade. A primeira vez que pisei o festival foi para estar no palco, e correram os dois simplesmente, incrivelmente bem. Num deles, dei um mortal no palco, no outro fiquei sem microfone, mas foi o que se tornou o melhor momento do show: quando dei por mim, tirei os phones, e estava o pessoal todo a bater palmas, sincronizadamente, e a cantar a minha música. Fiquei abismado, foi top.

Acaba o concerto, regressas aos camarins. Qual é a sensação?
É uma sensação de... como se tivesse estado em êxtase, e tive, e depois um relaxamento total do corpo, da mente, de tudo, só fico... fiz o meu trabalho. É incrível.
Que palcos ainda sonhas pisar?
Adorava pisar um palco no estrangeiro, gostava de ir à Suíça cantar para os emigrantes, gostava de fechar um Coliseu inteiro, por exemplo, era um sonho.
E com quem é que gostarias de actuar?
Acho que a pessoa com quem desejo mesmo ter um momento destes é o Slow J, porque foi a pessoa que me inspirou a fazer música, foi a pessoa que me mostrou que pessoas como eu também podiam fazer música.
E ser waiting ring do MEO?
É um orgulho, nunca sonhei com isto. Aliás... eu sempre sonhei, na verdade, que um dia ia ser conhecido, nunca soube era o porquê. Achei que ia ser alguma coisa aleatória, mas sempre disse aos meus pais: “vocês acham que não vou fazer nada da vida, mas eu vou ser alguém”. Hoje em dia, poder ouvir o meu nome com esse título, "waiting ring do MEO", é incrível, é muito bom mesmo.
Quem é que gostavas que usasse o teu waiting ring?
Ora bem... para além de artistas... era engraçado, ouvir por exemplo o José Malhoa com o “Pé Descalço” no telemóvel. A minha mãe e o meu pai já têm “Romance de Cinema” como toque, por isso também era fixe se pusessem a “Pé Descalço”. Era fixe um artista musical… Se fosse o meu ídolo, era engraçado estar a ouvi-lo, ligarem-lhe e estar a dar a minha música.
Qual é que seria o teu waiting ring se tivesses de ter um para o resto da vida?
Podia ser Slow J. “Comida”, é um ganda som.
Podemos depreender que as tuas músicas são autobiográficas?
Sim. Pelo menos até agora, não consegui fazer uma música com a qual não me identificasse. A única música que realmente não é sobre a minha história, é “Café em Paris”. Inicialmente não foi escrita sobre mim, mas depois consegui identificar-me.
Se tivesses de escolher um único verso teu, qual escolhias?
Acho que, muito honestamente, seria o do refrão do meu último single, “Pé Descalço”. Era uma frase que já tinha guardada nas notas há mais ou menos um ano e meio, e que só usei agora para esta música, porque eu sempre achei uma frase especial: "antes olhava para as estrelas, hoje entre nós só há espaço".
Consegues ver o futuro de uma forma definida?
Não. Acho que o meu futuro é como a minha personalidade, ainda estou em busca de encontrar, ao certo, o que é que eu vejo. Vou imaginando certas coisas quase como se já se estivesse a realizar, mas ao mesmo tempo sinto-me muito distante – e tento mesmo manter-me distante, para não achar que está tudo aqui à mão de semear e que está tudo aos meus pés. As ideias estão aqui, mas vou tentar fazer o caminho até alcançar isso. Sei aquilo que quero fazer da vida, agora o resto é que já não consigo controlar.