O contexto sócio-político do final da segunda década do século XXI nos EUA não é o mesmo que, no início da década de 1960, fez muitos músicos de jazz, quase sempre associados à franja mais vanguardista, empenhar-se na luta pelos direitos cívicos, mas a radicalização da política americana, a crescente agressividade dos ultraconservadores e o clima de hostilidade ao “politicamente correcto” (i.e., às regras elementares da vida civilizada) que se instaurou desde que um cavalheiro de trunfa cor-de-laranja-radioactivo foi eleito presidente, justifica o ressurgimento do “jazz de intervenção”.
O grupo Irreversible Entanglements, de Filadélfia, que se apresenta como um “colectivo de free jazz orientado para a libertação”, tem como componente instrumental o inventivo quarteto Aquiles Navarro (trompete) + Keir Neuringer (sax) + Luke Stewart (contrabaixo) + Tcheser Holmes (bateria), mas o seu elemento mais marcante é Moor Mother, nome de guerra da activista afro-americana Camae Ayewa, que possui discurso contundente e certeiro, apurado sentido dramático e uma voz que irradia autoridade. O álbum de estreia, homónimo, saiu em 2017 e não deve ser nada popular entre os espectadores da Fox News