Alexei Volodin
©Marco BorggrevePianista Alexei Volodin
  • Música, Clássica e ópera

Mozart por Volodin

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A Time Out diz

Como acontece com muitas obras do périodo clássico, o título “Coroação” por que hoje é conhecido o Concerto para piano n.º 26 K.537, de Mozart, não lhe foi dado pelo compositor e resultou de uma atribuição tardia e arbitrária. Mozart terminou a obra em 24 de Fevereiro de 1788 e não se sabe onde e quando foi estreado. O primeiro registo existente da sua execução data de Abril de 1789, quando Mozart o tocou na corte imperial de Viena. A execução pública que fez com que ganhasse o título “Coroação” teve lugar mais de dois anos e meio após a conclusão: foi por altura da coroação de Leopoldo II como Sacro Imperador Germânico, em Outubro de 1790, em Frankfurt.

Mozart parecia estar muito familiarizado com o concerto, pois deixou a parte de piano notada numa versão muito simplificada, com a parte da mão esquerda num estado de esboço incipiente – sendo ele o solista, trataria de preencher as lacunas quando o tocasse. Acontece que quando a partitura foi publicada, em 1794, após a morte de Mozart, o editor Johann André (ou alguém a quem ele encomendou o serviço) se limitou a fazer um “enchimento” de rotina das partes que o compositor omitira ou notara sumariamente. Esta displicente abordagem editorial foi perpetuada em edições subsequentes, levando a que, a partir de certa altura, se deixasse de distinguir o que fora escrito por Mozart e o que fora acrescentado de forma atamancada, e a que o Concerto n.º 26 tenha sido encarado como “mais primitivo” do que os outros concertos compostos por Mozart após se ter instalado em Viena. É de crer que o concerto que o imperador Leopoldo II ouviu em 1790 em Frankfurt terá sido bem mais rico e elaborado do que as notas impressas estipulam e o notável pianista e mozartiano Alfred Brendel defende mesmo que, no II andamento, “Mozart dá ao solista mais oportunidades para improvisação do que em qualquer outro concerto – e essa improvisação é vital para insuflar vida nesta obra”.

Conta-se pois que o pianista Alexei Volodin (n. 1977, São Petersburgo) coloque o seu talento nos espaços em branco deixados pelo compositor. Este discípulo de Elisso Virsaladze está bem preparado para o fazer, já que em 2003 venceu o Concurso Internacional de Piano Géza Anda, de Zurique, e possui premiada discografia na Challenge Classics, com obras de Chopin, Rachmaninov, Ravel, Schumann e Scriabin, tendo também gravado concertos de Prokofiev com a Orquestra do Teatro Mariinsky, dirigida por Valery Gergiev. Embora não tenha ainda gravado Mozart, os concertos deste figuram no repertório que tem apresentado nas principais salas de concertos do mundo.

Nesta ocasião, Volodin será acompanhado pela Orquestra Gulbenkian e por Ton Koopman, que é mais conhecido pelas interpretações “historicamente informadas” de música barroca, como organista ou como maestro do Coro & Orquestra Barroca de Amesterdão (formações com as quais gravou toda a música sacra de Bach e Buxtehude). Claro que, mesmo à frente de uma orquestra de “instrumentos modernos”, a visão historicista de Koopman acabará por moldar a sua leitura das partituras, que incluem, além do Concerto “Coroação”, a Suíte para orquestra n.º 3 BWV1068, de Bach, e a Sinfonia n.º 2 op.36, de Beethoven.

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