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O Vampiro Submarino
© Nuno MarcelinoO Vampiro Submarino

O Vampiro Submarino: “Estou a tentar meter o pessoal a dançar porque são tempos difíceis”

Paulo Zé Pimenta, o cantor e autor do Porto que conhecemos como PZ, tem mais um alter-ego: O Vampiro Submarino. Quisemos saber mais sobre este novo projecto.

Luís Filipe Rodrigues
Escrito por
Luís Filipe Rodrigues
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Ao longo dos últimos anos, o cantor, compositor e produtor mais conhecido como PZ vestiu muitas peles e editou música sob diferentes nomes, deste Pplectro aos Paco Hunter e Zany Dislexic Band. Agora apresenta-se como O Vampiro Submarino e recupera o espírito do jazz e dos swing dos anos 1920, na companhia de João Salcedo (piano), Carl Minnemann (contrabaixo) e Leandro Leonet (bateria), os membros do SMaLL Trio que editou há mais de dez anos pela sua editora, a Meifumado. Antes do concerto de apresentação de Tempo para Nada, o primeiro (e nunca se sabe se único) álbum do projecto, marcado para este sábado, 8 de Abril, no Titanic Sur Mer, falámos ao telefone.

Apresentaste-te pela primeira vez como O Vampiro Submarino no Festival da Canção do ano passado, precisamente com o tema que agora abre o álbum Tempo para Nada. Concebeste este projecto já a pensar no festival? Ou a génese é anterior?
Já estava a trabalhar neste projecto quando surgiu o convite do Festival da Canção. Só que tinha ficado na gaveta, por causa da pandemia. Claro que depois fez sentido apresentá-lo lá. Havia umas quantas músicas no espírito do festival e pareceu-me uma boa oportunidade para dar a conhecer este projecto, que já existia na minha cabeça e até já estava gravado.

Se já tinhas canções gravadas há mais de um ano porque é que só as estamos a ouvir agora?
Porque quando fiz este álbum comecei a pensar em vídeos para as músicas, como faço também em PZ. Só que este projecto sempre me lembrou os musicais de antigamente, por isso comecei a fazer um guião para um filme de O Vampiro Submarino. E entusiasmei-me.

Quando é que escreveste esse guião?
Comecei durante a pandemia. Todos os dias escrevia. Entretanto arranjei uma equipa de produção para nos candidatarmos ao [apoio do] ICA. Por acaso o filme ia ser realizado pelo Bruno Ferreira, que realizou o videoclipe de “A Série U”. Não fomos escolhidos, porque são sete cães a um osso, mas tinha uma equipa muito fixe. [O filme] ia ser uma espécie de autobiografia tragicómica do PZ vestido como O Vampiro Submarino. Esperei porque, na minha cabeça, o ideal seria lançar o filme e depois o álbum. Só que isso não aconteceu.

Quer dizer que o atraso foi só por isso?
Entretanto também tive de fazer o vinil, o que demorou um bocado. E houve atrasos também na minha própria cabeça…

Referiste-te ao filme abortado de O Vampiro Submarino como uma “autobiografia tragicómica do PZ”. Como separas o PZ do novo projecto? É óbvio que a música é diferente, mas conceptualmente também parecem querer dizer coisas distintas.
Oiço muitos estilos de música. Tanto hip-hop, como electrónica pura e dura, como jazz e rock, pop... Um pouco de tudo. E componho. Quando é para PZ faço o beat e a seguir inspira-me para falar sobre alguma coisa. Mas sempre tive também o hábito de estar na guitarra e imaginar músicas mais cancioneiras. Por isso, vou compondo coisas diferentes. Essas músicas em português, em guitarra, não sei porquê levam-me sempre para um lado mais corridinho. E meio swing. E jazzy. E pronto, fui compondo as músicas e entretanto lembrei-me que não fazia sentido nenhum transpô-las electronicamente. É outro género e uma maneira de cantar totalmente diferente. Então lembrei-me de chamar os SMaLL Trio para me acompanharem.

Eles chegaram a lançar um disco na tua editora, a Meifumado, não foi?
Sim. O Carl Minnemann no contrabaixo, o João Salcedo no piano e o Leandro Leonet na bateria. São uma banda que adoro, e recomendo a toda a gente ouvir o disco deles, [Road Trip, 2012], um dos melhores que a Meifumado lançou. Conheço o João desde criança e ele toca também com Os Azeitonas. Então comecei a ir para casa dele, com a guitarra, a cantar estas músicas, e ele começou a fazer as partes do piano, além de me ir ajudando a definir a estrutura das músicas.

Até que ponto é que os SMaLL Trio ajudaram a definir o som deste disco?
A sonoridade é muito deles, mas adaptada às minhas músicas. Eu tenho ideias da melodia e do ritmo, mas por exemplo o Carl Minnemann ouvia as músicas e começava a compor no contrabaixo, a acompanhar, e o Leandro na bateria. Foi uma coisa muito orgânica e natural. Por isso é que o álbum tem essa sonoridade de SMaLL Trio, que eu adoro, ainda por cima. E aquilo também foi gravado pelo meu irmão, pelo Zé Nando Pimenta. E está com um som muito bom. Portanto sim, os SMaLL Trio foram uma peça-chave para surgir esta sonoridade vampiresca.

No texto de apresentação falas dos roaring 20s do século e traças um paralelismo com estes novos anos 20. No entanto, esta década tem tido muito pouco que valha a pena celebrar.
Pois. Estou a tentar meter o pessoal a dançar porque são tempos difíceis [risos]. Essa foi uma época de afirmação individual e de expressão musical como nunca houve e esta é a minha tentativa de trazer de volta esse espírito mais alegre e livre e descomplexado para estes tempos modernos.

Apesar de seres mais conhecido como PZ, sempre fizeste outras coisas e tocaste em projectos como Paco Hunter e a Zany Dislexic Band. Onde encaixarias este Vampiro Submarino nesse percurso? É mais uma coisa pontual, um disco que acaba aqui e depois voltas a ser o PZ, ou vês isto como o único de algo que está para durar?
Vejo a coisa como a revelação de um novo lado de mim. Porque, lá está, continuo a fazer músicas neste modo Vampiro e já tenho algumas também na calha para fazer um segundo disco. Gostava mesmo muito. Mas claro que isto depende da aceitação do público. Muitas vezes não dá para continuar estes projectos, como foi o caso de Paco Hunter. Depende muito de a coisa tornar-se viável comercialmente ou não. Não gosto de falar assim, mas é a realidade. Porque sou músico e isto exige também um investimento grande da minha parte.

E já sabes o que vais fazer a seguir? Ou por agora nem queres pensar nisso, és só O Vampiro Submarino?
Por agora estou concentrado neste projecto. Mas já sei o que vou fazer a seguir: um álbum do PZ.

Titanic Sur Mer. Sáb 8. 21.30. 12€

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