3. Inverno, de As Estações, de Haydn
As Estações (Die Jahreszeiten), estreada em Viena em 1801, é uma das duas grandes oratórias que Joseph Haydn compôs no fim da vida, influenciado pelas oratórias de Handel que ouvira quando da estadia na Grã-Bretanha. O libreto, em alemão, foi traduzido e adaptado por Gottfried van Swieten a partir de um longo poema publicado em 1730 por James Thomson. Van Swieten também produziria, a partir do original alemão, um libreto em inglês (pouco idiomático), pois Haydn era uma vedeta do lado de lá do Canal e o público britânico tinha grande avidez de ouvir novas obras suas. A parte correspondente ao Inverno inclui, inevitavelmente, trechos mais sombrios do que as outras estações: a introdução orquestral retrata “o espesso nevoeiro que marca o início do Inverno” e a primeira cavatina (“Licht und Leben Sind Geschwächen”) pinta este cenário: “A luz e a vida definham/ O calor e a alegria desvaneceram-se/ Dias enfadonhos dão lugar/ A noites negras e intermináveis”. A ária “Hier Steht der Wand’rer Nun” prefigura a figura do
Wanderer romântico e, em particular, o viandante solitário em paisagem nevada da
Viagem de Inverno de Schubert: “Aqui está o viandante/ Confuso e hesitante/ Quanto ao caminho a tomar/ Em vão busca a sua rota/ Mas não há senda ou pista que o guie/ São vãos os seus esforços/ Para avançar na neve profunda/ E deixam-no cada vez mais perdido”.
[“Inverno”, por Sybilla Rubens (Hanne, soprano), Andreas Karasiak (Lukas, tenor), Stephan MacLeod (Simon, baixo) e pelo Coro de Câmara da Gewandhaus de Leipzig e pela Orquestra de Câmara de Leipzig, direcção de Morten Schuldt-Jensen (Naxos)]