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Olhando para a Luz
©Gregory Crewdson

Playlist para ouvir à noite

A noite tem servido de inspiração para músicos ao longo dos anos. Eis dez canções pop que reflectem isso mesmo

Escrito por
José Carlos Fernandes
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A noite é altura propícia a questionamentos, balanços e viagens até cantos da alma que não costumam ser visitados durante o dia. É também a altura em que muitos escritores de canções vertem no papel as suas meditações. Chegar a esta lista não foi por isso difícil. Ou melhor, a grande dificuldade foi reduzir a selecção a dez canções. Yo La Tengo, The Young Gods, REM ou The Cure são alguns dos nomes que vai encontrar aqui. Já diz o ditado que a noite é a melhor conselheira, deixe-se ficar então com estas dez canções pop para noctívagos.

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10 canções pop para noctívagos

“La Nuit Est Sur la Ville”, de Françoise Hardy

Ano: 1964

A noite cai sobre a cidade e ela dá por si a pensar naquele de quem está afastada. Antes estava confiante no amor, mas agora descobre-se frágil, hesitante. O que é certo é que, longe dele, ela se enfada. Na outra cidade, o que fará ele? Dormirá só e despreocupado ou passará, como ela, a noite em claro, sondando o seu coração?

“La Nuit Est Sur la Ville” faz parte de Mon Amie la Rose, o terceiro álbum de Françoise Hardy, cantora hoje muito esquecida, mas que nos anos 60 foi a figura cimeira da pop francesa, um ícone da moda e o objecto de muitos sonhos húmidos. Segundo Malcolm McLaren, ela encarnava a rapariga que Lennon, McCartney, Brian Jones e Mick Jagger sonhavam ter como namorada. Hardy declararia mais tarde: “Não tinha interesse em Dylan como homem, apenas como artista. Jagger era diferente, era alguém por quem poderia apaixonar-me. Infelizmente, na altura [c. 1963-66] ele estava com Chrissie Shrimpton”.

Haverá quem desvalorize as suas canções dos seus primeiros álbuns como “ligeiras”, mas foram elogiadas, ao tempo, por Dylan e Jagger, e, no final da década, Hardy faria uma inflexão em direcção à “seriedade”, ao cantar canções de Leonard Cohen e convencer Serge Gaisnbourg a escrever-lhe as letras para o álbum homónimo de 1968.

“Tonight’s the Night (part 1)”, de Neil Young

Ano: 1975

Em 1972-73, no intervalo de poucos meses, dois amigos e parceiros de ofício de Neil Young morreram de overdose: Danny Whitten, guitarrista dos Crazy Horse, a banda de Young, e Bruce Berry, roadie dos Crosby, Stills, Nash & Young, morreram de overdose – “Tonight’s the Night” é o lamento pelo seu desaparecimento, uma “rage against the dying of the light” traduzida em rock’n’roll cru e ácido. O álbum homónimo, sombrio e de aspecto pouco polido, foi gravado, na sua maioria, no dia 26 de Agosto de 1973, mas a Reprise, a editora de Young, mostrou-se relutante em lançar o que lhe pareciam ser os devaneios de um artista num dos momentos mais negros da sua vida, e o álbum só saiu em 1975. É hoje reconhecido como um magnífico diamante (negro) em bruto.

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“An Echo of Night”, Harold Budd/Brian Eno

Ano: 1984

O minimalismo e a ambient music são campos em que não faltam embusteiros, mas isso não quer dizer que entre os detritos e a mera preguiça mental não floresçam peças notáveis. É o caso deste exercício de simplicidade meticulosamente calculada, incluído no álbum The Pearl, a segunda colaboração entre Harold Budd e Brian Eno. Um sussurro de vento manso nas árvores, o estridular de insectos electrónicos e o crepitar das estrelas.

“A Night Like This”, de The Cure

Ano: 1985

Embora não sendo das canções mais célebres dos Cure, é das mais inspiradas. Faz parte de The Head on the Door, o sexto álbum da banda, que prossegue o afastamento dos ambientes densos e góticos de Pornography (1982) em direcção a uma sonoridade mais pop e luminosa, já ensaiada (nem sempre com felicidade) no desequilibrado The Top (1984).

“Escurece/ Escurece ainda mais/ [...] Vou encontrar-te, mesmo que leve a noite toda”, promete Robert Smith.

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“Big Night”, dos American Music Club

Ano: 1987

A letra não é facilmente decifrável, mas percebe-se que está povoada de sombras – e também de solidão, incomunicação e fracasso, temas recorrentes nas letras de Mark Eitzel. Faz parte de Engine, o segundo álbum dos American Music Club (o primeiro se considerarmos que Eitzel renega The Restless Stranger, de 1985), e a sua solenidade sombria é realçada pelo violoncelo de Carla Fabrizio.

“As grandes noites são negras e azuis/ Tornam-se frias e húmidas/ E chamam por ti/ Como ninguém que alguma vez tenhas conhecido// Ninguém sonha nas horas que me rodeiam”

“Nightswimming”, dos REM

Ano: 1992

Se as letras dos REM não são de fácil interpretação, tudo se complica quando os membros da banda fornecem sobre elas interpretações diferentes (e interpretações diferentes em ocasiões diferentes). A hipótese mais plausível é tratar-se de uma evocação de juventude de Michael Stipe, em Athens, Georgia, quando as noites de Verão terminavam a altas horas com um mergulho nas águas escuras de um lago ou de um rio e onde se mesclavam “o medo de ser apanhado” e o impulso juvenil para fazer coisas desmioladas – é sobre inocência perdida e sobre como as mais preciosas recordações vão sendo soterradas pela banalidade do dia-a-dia.

A canção, que faz parte de Automatic for the People, o oitavo álbum da banda, só tem metade dos REM: Michael Stipe na voz e Mike Mills no piano; os arranjos orquestrais, com cordas e oboé, que fazem com que o módulo repetitivo do piano seja encantatório, em vez de soporífero, são do ex-Led Zeppelin John Paul Jones.

E não se esqueçam, a “natação nocturna requer noites tranquilas”.

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“The Night Dance”, The Young Gods

Ano: 1992

Nem sempre a noite evoca imagens de serenidade ou reminiscências melancólicas: nada poderia estar mais longe das reminiscências melancólicas de “Nightswimming” do que o tumulto e urgência de “The Night Dance”: “Vamos ver a dança nocturna lá em cima nos montes/ Vamos ver a dança nocturna antes que o céu deixe de arder// Vamos dançar a dança da noite lá em baixo, junto ao rio/ Vamos dançar ao sabor dos mais loucos sons/ Acendam as estrelas”.

A canção, que faz parte de T.V. Sky, o quarto álbum da banda suíça, é uma inquietante peça de metal industrial, com a bateria brutal de Urs Hiestand, as réplicas mutantes de guitarras distorcidas providenciadas pelos samplers de Alain Monod e a voz possuída de Franz Treichler.

“Night Falls on Hoboken”, dos Yo La Tengo

Ano: 2000

And Then Nothing Turned Itself Inside-Out, o nono álbum dos Yo La Tengo (uma das glórias da cidade de Hoboken, New Jersey), é o mais sereno e nocturno da banda e dificilmente se imaginaria melhor escolha para o ilustrar do que as fotos de Gregory Crewdson: os pacatos e bem cuidados subúrbios norte-americanos, tornados inquietantes e tensos pela iluminação dramática e povoados por figuras solitárias e ensimesmadas, que se diriam saídas de um filme de David Lynch. A letra não deixa adivinhar o que se passa após o pôr-do-sol, mas o estado de espírito é depressivo (“Sun is down/Spirits low”).

“Night Falls on Hoboken” é uma sessão de hipnose que dura quase 18 minutos e que a meio do percurso desliza, pouco a pouco, para longe do formato canção e se aproxima dos transes tribais/experimentais dos Can.

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“The Garden at Night”, de The Clientele

Ano: 2007

“O jardim à noite/ É um lugar mágico/ O vento nos salgueiros/ E a chuva nas telhas/ Uma mulher morta/ Caminha entre lariços e pinheiros”. Esta breve canção do álbum God Save the Clientele, o quarto dos britânicos The Clientele, descreve um cenário inquietante e tingido de surrealismo e a sua música revisita o psicadelismo dos 70s, numa declinação sombria que faz mais pensar em Bauhaus do que em Clientele.

“Night Diver”, dos Pelican Fanclub

Ano: 2017

Os japoneses Pelican Fanclub formaram-se em 2012 e publicaram três mini-álbuns Analog (2015), Pelican Fanclub (2015) e OK Ballade (2016), antes de se estrearem na longa duração com Home Electronics, álbum em que está incluída esta “Night Diver”, que oferece dream pop de alta voltagem alimentada por guitarras atmosféricas à Kitchens of Distinction. Anri Endo está entre os vocalistas da indie pop japonesa que melhor sabe moldar as particularidades da sua língua às linhas vocais do pop-rock de matriz anglo-saxónica (embora, quase inevitavelmente, a única palavra inglesa na letra, “nightdiver” seja pronunciada como “naitodaiva”).

Canções para toda a ocasião

  • Música

O título desta lista é meramente alegórico, pois a Time Out não pretende que os seus leitores se envolvam em acidentes de trânsito. As canções que se seguem, embora tendo a bicicleta como assunto, serão desfrutadas com maior segurança se as nádegas do ouvinte estiverem assentes em algo mais estável do que o selim de uma bicicleta e se os ouvidos e os olhos não tiverem de estar concentrados nas manobras de veículos, peões e canídeos. Quem faça mesmo questão de ouvir enquanto pedala poderá recorrer a uma daquelas bicicletas estacionárias dos ginásios. 

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  • Música
  • Rock e indie

Carros e rock’n’roll andam juntos desde que o segundo nasceu. Pode mesmo dizer-se que começou a conduzir antes de saber andar. Hoje, o rock já se deixou de Cadillacs cor-de-rosa e anda quase sempre de Uber e as canções ganharam imenso com a mudança.

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