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Música, Rapper, Plutonio
©DRPlutónio

Plutonio: “Manter-me no bairro foi importante para mim”

Plutonio lançou três temas e outros tantos novos videoclipes que, juntos, se transformam numa curta-metragem. Falámos com o rapper sobre a ‘Trilogia Pão na Mesa’.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
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Duas da Matina”, “Pão na Mesa” e “Coisas na Life” são os três novos temas de Plutonio, o rapper que esgotou o Coliseu dos Recreios em Fevereiro do ano passado. Pouco tempo depois fomos todos para dentro, mas Plutonio aproveitou o confinamento para voltar a sonhar mais alto e dar voz ao Bairro da Cruz Vermelha, em Cascais, com a Trilogia Pão na Mesa, uma curta-metragem dividida em três, realizada por Leonel Vieira, e uma chamada de atenção para a realidade de um bairro social na Grande Lisboa.

Os três episódios pensados por Plutonio reflectem alguns dos problemas do Bairro da Cruz Vermelha, onde o músico cresceu e onde ainda mora, uma forma de “manter os pés assentes no chão”, conta. “Durante essa altura, manter-me no bairro foi importante para mim, porque os meus amigos e vizinhos continuam os mesmos e sou obrigado a ser confrontado com a realidade todos os dias”, acrescenta. Cada episódio tem um fim, mas não acaba até o pano descer no último videoclipe da trilogia, cuja história acompanha uma amizade entre dois jovens do bairro que representam tantos outros, muitas vezes com o destino traçado à partida.

A história é fictícia, mas inspirada na realidade nua e crua do bairro. Como uma pessoa roubar uma coisa que viu numa negociação entre outras pessoas. Os miúdos que passam por uma montra, que estavam fartos de ser humilhados na escola e sentiram que tinham de fazer alguma coisa para se sentirem melhor. Ou se afirmarem numa sociedade onde as pessoas valem mais com o que têm do que propriamente com o que são. É sem dúvida inspirado na realidade”, explica Plutonio.

As filmagens arrancaram em Agosto do ano passado no próprio Bairro da Cruz Vermelha, envolvendo cerca de 40 pessoas da zona, dos figurantes aos actores principais, uma opção que por si só já levou algo de positivo à comunidade. “Eu podia ter chamado actores de fora e trabalhado com pessoas que se calhar não percebem bem esta realidade. Neste caso, tentei usar pessoas que eu conheço e que sabia que iriam fazer um bom trabalho, porque têm esse talento e se calhar muitos deles nem sabiam. Depois da experiência ficaram com vontade de fazer mais, foi bom motivar e fazê-los ver um outro lado das coisas”, diz.

É o caso de Nélson e Rafael [os protagonistas], miúdos que o rapper conhece desde sempre. “Eu gostava um dia de fazer uma série ou um filme, mesmo para o cinema ou Netflix, o que fosse. E estava sempre a dizer-lhes que um dia, quando eu conseguisse ter uma plataforma, gostaria de trabalhar com eles, porque têm talento. Imaginei as personagens, falei com o Leonel [Vieira] que deu a opinião dele, mas as pessoas que eu tinha escolhido logo de início foram as que ele acabou por escolher”, revela Plutonio, confesso fã do realizador de Zona J (1998). “Para meu espanto, mostrei-lhe a história, mostrei as músicas e ele disse que em vez de me encaminhar para alguém, queria ser ele a fazer”, recorda.

Os planos iniciais contavam que Trilogia Pão na Mesa estreasse mesmo num grande ecrã, mas acabou por acontecer no YouTube, “por causa dos confinamentos”. No entanto, esta primeira incursão de Plutonio pelo cinema parece ser apenas o início de algo maior. “Eventualmente espero poder fazer um outro projecto relacionado com o cinema e levá-lo a uma plataforma melhor. Acho que o lado visual do cinema consegue transportar as pessoas para um espaço melhor do que a música às vezes consegue. Daí termos os videoclipes. Mas um videoclipe normal, que tem os playbacks e tal, tira sempre um bocado da relevância da história, então decidi abdicar dos playbacks. Já era uma ideia que eu queria fazer há muito tempo”.

O músico está a trabalhar num novo álbum, do qual pode ouvir o primeiro single “Lisabona” nos serviços de streaming, mas estes três novos temas vão sempre viver de forma isolada. “O novo álbum vai ter uma dinâmica diferente, estas três músicas foram exactamente feitas para este projecto”.

Conversa afinada

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Nascidos das cinzas dos Hipnótica, os Beautify Junkyards chegam ao quarto álbum com uma formação que inclui João Branco Kyron (vozes e sintetizadores), Helena Espvall (violoncelo, flauta e guitarra acústica), João Moreira (guitarra acústica e sintetizadores), Sergue Ra (baixo), António Watts (bateria e percussão) e Martinez (vozes). Cosmorama expande o universo tropicalista e psicadélico da banda e pede o título emprestado a uma galeria que existia em Londres na era vitoriana, com projecções de locais distantes e exóticos, um portal para viajar no tempo e no espaço – no fundo, tudo o que pode esperar deste disco.

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Desde que Mariza apareceu, nunca mais olhamos o fado da mesma forma. Num mundo globalizado, deu-lhe novas cores e coordenadas, mas sem desrespeitar a tradição. Agora a completar 20 anos de percurso musical, Mariza canta Amália, no centenário do nascimento da diva. Já a interpretou várias vezes, mas é a primeira vez que lhe dedica um álbum inteiro. Gravado entre Lisboa e o Rio de Janeiro, o disco conta com arranjos do músico e produtor brasileiro Jaques Morelenbaum. Com guitarra portuguesa, viola e orquestra, afloram influências do jazz e da música clássica, mas também da lusofonia.

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Pedro Lucas, que a solo assina como P.S. Lucas, nasceu no Faial, passou por Lisboa, viveu na Dinamarca e está de regresso à capital. Depois do cruzamento entre a electrónica e a música tradicional portuguesa nos discos de Medeiros/Lucas e O Experimentar Na M'Incomoda, assume influências de nomes como Leonard Cohen e Bill Callahan e aposta tudo em canções belas, onde redescobre o prazer da guitarra. O novo álbum In Between conta com o trio nuclear João Hasselberg (contrabaixo), David Eyguesier (guitarra) e João Sousa (bateria), e participações de Catarina Falcão ou Jerry The Cat.

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