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Rui Vieira Nery
©DR

Rui Vieira Nery. Viagem por dois séculos de fado

Nos próximos sábados fala-se de fado no CCB. Junte-se a este ciclo de conferências sobre o género que marca a história de Lisboa

Escrito por
Maria Ramos Silva
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"Viagens pela História do Fado", um programa de conferências com Rui Vieira Nery, arranca este sábado no CCB, e volta a marcar encontro nos sábados seguintes, até 18 de Fevereiro. Sempre entre as 17.30 e as 19.00.

Que caminhos vamos percorrer nestas viagens pela história do fado?

Vamos acompanhar o desenvolvimento do fado ao longo dos seus quase dois séculos de história, desde que temos as primeiras indicações do seu aparecimento nos bairros populares de Lisboa, ao longo da zona portuária e da cintura rural da cidade, juntando diversas tradições locais de canto e dança às danças cantadas afro-brasileiras chegadas do outro lado do Atlântico. Veremos a entrada do género nos teatros e nos salões das classes médias e altas, mas ao mesmo tempo a sua associação ao movimento operário como canção de intervenção política e de mudança social.

Por onde seguiremos?

Discutiremos o processo de profissionalização aberto pelo disco, pela rádio e pela rede das casas de fado, bem como o impacto do Estado Novo e da implantação da Censura prévia das letras e do licenciamento profissional dos fadistas. Falaremos do papel de Amália na renovação e na internacionalização do fado, a partir da década de 1940 e da hostilidade antifadista da Oposição Democrática. E por fim trataremos da ruptura do 25 de Abril e do renascimento do fado a partir das décadas de 1990 e 2000, até à consagração do género como Património Cultural Imaterial da Humanidade. Tudo isto ouvindo e vendo fados e fadistas que marcaram todo este processo.

Conte-nos uma boa história da História do fado que seja pouco ou nada conhecida.

Um relatório da PIDE, nos anos 40, denunciava a suposta existência de uma perigosa rede comunista no circuito das casas de fado, de que participaria a jovem Amália Rodrigues, porque, segundo o relatório, “sabe falar línguas e vai a bordo dos navios falar com os estrangeiros”…

O que mais o fascina no género?

O fado fascina-me sobretudo pelo seu poder de expressar e comunicar emoções e sentimentos fortes, pela sua capacidade de se renovar a cada momento e de responder aos desafios de cada nova geração sem perder o seu sentido de identidade e de continuidade, pela liberdade de expressão que dá a cada um dos grandes fadistas, transformando-se num mosaico riquíssimo de personalidades artísticas muito diferentes.

E qual o maior calcanhar de Aquiles?

O calcanhar de Aquiles é o próprio sucesso, cada vez maior, de que tem gozado nas últimas duas ou três décadas: há o risco de se comercializar como atração turística estereotipada, há o risco de as editoras e os empresários quererem fabricar à pressa novas Amálias e novos Marceneiros sem darem aos jovens fadistas tempo para amadurecerem, e há o risco de ser tomado de assalto por projectos artísticos que não têm nada a ver com a sua essência e que se aproveitam da popularidade do fado para venderem gato por lebre.

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