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Cícero Bistrot
Fotografia: Francisco Romão Pereira / Time OutBacalhau seleção fumado (22€)

A arte também vem na ementa. O novo Cícero é galeria e bistrô

Está localizado em Campo de Ourique, tem um acervo digno de galeria e junta a arte brasileira à gastronomia francesa de autor.

Raquel Dias da Silva
Escrito por
Raquel Dias da Silva
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O novo restaurante da Rua Saraiva de Carvalho, em Campo de Ourique, deve o seu nome a Cícero Dias, pintor modernista brasileiro, que construiu a sua carreira em Paris. Nas paredes, por entre obras de outros artistas, a grande estrela é precisamente o pernambucano, que também chegou a viver em Lisboa como adido cultural da Embaixada do Brasil. A sua obra e vida também influenciam a cozinha francesa de autor, assinada pelo chef Hugo Cortez Teixeira. Preparados com ingredientes luso-brasileiros, destacam-se pratos como as pétalas de bacalhau fresco (27€), servidas sobre grelos e gratinado de mandioca com abóbora. Para acompanhar, há vinhos portugueses.

Cícero Bistrot
Fotografia: Francisco Romão Pereira / Time OutSala Modernista do Cícero Bistrot

“Comprei a minha primeira peça de arte aos 22 anos. Era uma aguarela de Cícero Dias”, revela um dos sócios, Paulo Macedo, que se mudou para Portugal no final de 2021, já com planos para abrir um restaurante-galeria, onde pudesse expôr parte do seu acervo de arte. Referência do modernismo brasileiro, Cícero Dias (1907-2003) era pernambucano, tal como o empresário brasileiro, e causou furor pela primeira vez com Eu vi o mundo… Ele começava no Recife, um painel que, por ser ousado demais para aquele tempo, não só perdeu três dos seus 15 metros como repousou décadas no escuro, antes da sua primeira viagem, em 1960. Ainda antes, perseguido pela ditadura brasileira do Estado Novo, o artista exilou-se em França, em 1937. Foi lá que permaneceu até à sua morte, em 2003, mas só depois de também ter vivido em Portugal.

Cícero Bistrot
Fotografia: Francisco Romão Pereira / Time OutSala Origem no Cícero Bistrot

Ao promover o diálogo entre esses três grandes eixos da vida de Cícero (Paris, Lisboa e Recife), o restaurante celebra a vida e obra do artista, mas não só. Evoca também outras figuras mais ou menos reconhecidas. Ao todo, contam-se três salas temáticas – Sala Modernista (rés-do-chão), Sala Contemporânea (Cave 1) e Sala Origem (Cave 2) – e várias peças, desde uma porta-vitral da artista franco-brasileira Marianne Peretti (1927-2022), a única mulher na equipa responsável pela construção de Brasília, até pinturas a óleo dos brasileiros Sidnei Tendler, Felix Farfan, Bruno Vilela e Kilian Glasner. “Como todos os coleccionadores, eventualmente comecei a perguntar-me onde iria colocar tanta obra”, confessa Paulo. “No Brasil, eu tinha peças na minha casa, na casa da minha mãe e num depósito. Quando vim para cá, decidi trazer tudo. Mas a arte não foi feita para ficar guardada. É muito egoísta isso. A arte foi feita para as pessoas olharem e serem impactadas por ela.”

Cícero Bistrot
Fotografia: Francisco Romão Pereira / Time OutCarabineiro e robalo do mar, pescado no anzol (39€)

Com ar de bistrô francês das décadas de 1940 e 1950, o espaço – que conta com esplanada com vista para os famosos eléctricos que por ali passam – reflecte o “inconformismo estético” e a paleta de cores do artista que homenageia e que se estendem até à mesa. Com recurso a técnicas francesas e ingredientes luso-brasileiros, o chef Hugo Cortez Teixeira, que já passou pelo Eleven e a Tasca da Memória, apresenta uma ementa depurada, que arranca com um amuse bouche de pão de queijo, pão de moagem artesanal e grissini (8€), com manteiga de ervas, azeite com alecrim e salmão fumado au crème fraiche. Nas entradas, sobressai o bacalhau selecção fumado (22€), servido em cesto de brick, mescla de alfaces e rúcula, com areia de azeitona preta e pesto de manjericão e aneto. Já no que diz respeito aos pratos principais, entre a terra e o mar, sobressai o carabineiro e robalo do mar, pescado no anzol (39€), em molho de coco e azeite de dendê, acompanhado por arroz basmati, salpicado com salsa.

Cícero Bistrot
Fotografia: Francisco Romão Pereira / Time Outborrego em corte francês com crosta de mel de engenho (34€)

Se preferir carne, Paulo Macedo recomenda o lombo de novilho maturado por 12 dias (35€), servido com brunoise de batata com poejo, espargos verdes grelhados e molho de palmito, ou o borrego em corte francês com crosta de mel de engenho (34€), acompanhado por quinoa com tomate seco, espargos, papaia desidratada e saladinha de rúcula e ervas. Por outro lado, em alternativa, há apenas uma opção vegetariana: moqueca de palmito (22€) com cogumelos frescos e crocante de papadams. É tudo para acompanhar com vinho, cuja carta foi elaborada pelo sommelier português Rodolfo Tristão e é, à excepção de uma única referência, inteiramente portuguesa.

Cícero Bistrot
Fotografia: Francisco Romão Pereira / Time OutPêra bêbeda em jeropiga (11€)

Já na hora da sobremesa, a estrela tem sido a pêra bêbeda em jeropiga (11€), que chega à mesa com gelado de framboesa e amêndoas em caramelo salgado. Há ainda banana levemente panada em farinha de rosca (11€), com molho de chocolate negro da Amazónia e gelado de açaí; pudim conventual do abade (13€), com sorbet artesanal de lima; e carpaccio de abacaxi com especiarias (8€). E, se pedir café, tem direito ainda a um bombom artesanal com chocolate amazónico.

“A ementa habitual é fixa, mas temos um menu de degustação (65€), sazonal e temático, que inclui couvert, entrada, prato principal, segundo prato, sobremesas e café. Temos ainda uma terceira proposta, pensada para a esplanada: uma selecção de queijos franceses com duas taças de vinho por 25€”, diz Paulo, que reforça o convite para visitar o Cícero. “E conhecer um Brasil sofisticado, que influencia e é influenciado pelo mundo.”

Rua Saraiva de Carvalho, 171. Ter-Sáb 12.00-15.30/ 19.00-23.00 e Dom 12.00-19.00.

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