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Abriu uma livraria em Campo de Ourique para “poetas e dragões”

A The Poets & Dragons Society já estava de portas abertas na Costa, agora chega a Lisboa. “Andavam a pedir-nos muito”, justificam os editores, Elisabete e Dinis Machado.

Raquel Dias da Silva
Jornalista, Time Out Lisboa
The Poets & Dragons Society
© Rita GazzoThe Poets & Dragons Society, em Campo de Ourique
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Quando chegamos à Rua Ferreira Borges, já há curiosos à porta do 128, os olhos pregados ao stencil na montra da The Poets & Dragons Society. São clientes fiéis da livraria da Costa da Caparica – que abriu em 2019, um ano depois de Elisabete e Dinis Machado terem fundado a editora independente com o mesmo nome –, e estão felicíssimos com a novidade em Campo de Ourique. Tanto uma como outra foram um sonho de Verão e a única resposta possível a uma vontade incontrolável. “Ambos os espaços foram imaginados em Agosto. Da primeira vez a Elisabete quis saber o que eu queria fazer quando fosse velho: respondi que gostava de ter uma livraria, e percebemos que não era preciso esperar. Na altura ainda só tínhamos lançado uma dúzia de títulos e, como não queríamos concorrer com outras editoras portuguesas, decidimos que, salvo os nossos livros, o resto da oferta seria em inglês. Mas há uma certa resistência a atravessar a ponte e este ano, na Feira do Livro, perguntaram-nos muitas vezes, mais do que nos anteriores, quando é que vínhamos para Lisboa”, conta-nos Dinis, com um sorriso largo, como quem anuncia: “Já cá estamos”.

Dinis e Elisabete Machado
© Rita GazzoDinis e Elisabete Machado, fundadores da The Poets & Dragons Society

O foco está, desde o início, na literatura para a infância. À entrada, de um lado e de outro, sobressaem duas séries de prateleiras, do chão ao tecto, com picture books. A selecção é de Elisabete, que é professora primária de inglês e faz recomendações com as duas pernas às costas. Defensora da chamada literacia emergente, valoriza álbuns ilustrados verdadeiramente divertidos (até nonsense) e com muita repetição. A ideia é que, depois de ouvir a história três ou quatro vezes, até uma criança de três anos consiga ‘reler’ de forma autónoma. “É uma forma de empoderar os mais novos, porque quando forem alfabetizados já se sentem confiantes na leitura da imagem e das palavras que foram coleccionando”, esclarece Elisabete, antes de chamar a atenção para o facto de também editarem em inglês, com tiragens mais pequenas. Destaca-se, por exemplo, There was an old lady who swallowed a fly, um poema-canção de The Learning Station, com ilustrações de Pam Adams.

The Poets & Dragons Society
© Rita Gazzo

“Eu queria abrir uma editora de poesia, mas quando contei à Elisabete ela disse logo ‘eu também quero’, e foi assim que surgiu a ideia dos poetas e dragões, com os dragões a evocar o imaginário infantil. O primeiro livro que editámos, aliás, foi O dia em que me tornei pássaro [de Ingrid Chabbert e Guridi]”, recorda Dinis, que em tempos foi advogado e que agora, editor a tempo inteiro, faz a curadoria para a secção de leitores mais crescidos, dos adolescentes aos adultos. Além da poesia que edita, inclusive da sua autoria (assina D. H. Machado), procura oferecer uma grande variedade de géneros literários, embora a sua paixão, confessa-nos, sejam os clássicos de ficção, que promove inclusive em formato de novela gráfica. “É importante que o leitor também se relacione com o livro enquanto objecto”, diz. “O interesse na novela gráfica tem ressurgido e é uma forma de convencer leitores menos experientes, como miúdos de 16 anos, a ler um Hamlet ou um Macbeth.”

The Poets & Dragons Society
© Rita Gazzo

Espalhar o “bichinho” da leitura. É essa, afinal, a grande ambição. E, não têm dúvidas, estão a conseguir. Basta lembrarem-se, por exemplo, como os alunos de Elisabete vibram nas aulas, ou como uma mãe começou a chorar porque a filha de dois anos conseguiu recontar uma história que Elisabete leu em inglês na Feira do Livro. “No Reino Unido o livro é feito para o prazer da criança, para que possa aprender a ler de uma forma lúdica. Eu dei aulas em Inglaterra e lá eles não usam manuais, usam livros. Claro que dá trabalho, porque é preciso conhecer o que se está a fazer. Se vou ensinar os números, tenho de escolher um livro para isso, mas faz todo o sentido porque as crianças aprendem a visualizar e a repetir.” E todos nós já fomos crianças, e agora espera-se que sejamos leitores. Mas, reforça Elisabete, é preciso fazer o trabalho de casa. Dinis subscreve, e acrescenta: “O livreiro tem um papel fundamental nesse aspecto, porque nos pode aconselhar, e as pessoas de facto ficam fascinadas quando são confrontadas com um livreiro que se interessa.”

The Poets & Dragons Society
© Rita Gazzo

Para o futuro, talvez uma caderneta. É que Dinis e Elisabete gostam de dizer que os leitores da The Poets & Dragons Society, sobretudo os que compram livros da editora, têm “espírito de coleccionador”. Mas, entretanto, estão focados em desenhar a futura programação cultural. Querem que a livraria de Campo de Ourique também seja um lugar para lançamentos, horas do conto e oficinas. “A nossa livreira residente, a Catarina Pedro, é mediadora de leitura, portanto estamos a planear sessões, inclusive para escolas. Além disso, temos previsto ter um ilustrador em residência, o Carlo Giovani. A ideia é estar cá um sábado a trabalhar em livros encomendados por nós e as famílias terem oportunidade de ver e conversar”, revela Elisabete, a transbordar de entusiasmo. “Depois, como temos uma parceria com a Bolinha de Música, estamos a preparar uma surpresa para o Dia das Bruxas. E, claro, em Dezembro vamos ter a maior árvore de Natal de Campo de Ourique.”

Rua Ferreira Borges, 128. Qua-Sex 12.00-18.00, Sáb-Dom 10.00-13.00/ 14.00-18.00

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