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Academia dos Amadores de Música tem de abandonar edifício onde ensina há mais de 60 anos

Instituição histórica tem até 2025 para encontrar novo espaço. Câmara recusou apoio à renda ou à aquisição do imóvel no Chiado.

Rute Barbedo
Escrito por
Rute Barbedo
Jornalista
Academia dos Amadores de Música
Arlei LimaAcademia dos Amadores de Música
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O ensino de música no espaço de 700 metros quadrados da Rua Nova da Trindade tem os dias contados. Após vários acontecimentos que fizeram pairar a nuvem do despejo sobre a Academia dos Amadores de Música, a instituição fundada em 1884 acordou com o proprietário do imóvel que terá de abandonar o espaço do Chiado até Agosto de 2025. 

A história remonta a 2012, quando, pela primeira vez em mais de 100 anos, a Academia equacionou a possibilidade de um dia ter de sair da Rua Nova da Trindade. “Com a chamada lei Cristas, dali a cinco anos veríamos a nossa renda ser liberalizada”, como relata à Time Out o presidente, Pedro Barata. Mas, em 2017, a protecção conferida pelo estatuto de entidade de interesse histórico e cultural garantiu-lhes cinco anos sem aumentos. Mais tarde, o Orçamento de Estado para 2023 prorrogou este regime até ao final de 2027, permitindo, no entanto, a revisão do valor da renda em alguns casos. Em Agosto deste ano, o proprietário pediu uma reavaliação do imóvel onde funciona a Academia e passou a exigir 3780 euros de renda mensal, um valor que a instituição diz ser “muito difícil" de pagar. Ao mesmo tempo, a partir de 2027, os moldes do arrendamento manter-se-iam incertos. 

Dada a situação, a Academia contactou a Câmara Municipal de Lisboa (CML) no sentido de sondar a possibilidade de apoio à renda ou de co-financiamento na compra do espaço. Se a primeira modalidade “não estava prevista”, a segunda seria “contra a política da Câmara”, pela situação de desigualdade que geraria em relação a outras instituições com problemas semelhantes, como relata Pedro Barata, manifestando-se contra a posição da autarquia. “Não compro esse argumento, até porque já apoiaram instituições como a Sociedade de Geografia [de Lisboa] ou o Círculo Eça de Queirós, que, se avaliarmos, têm um impacto menor do que nós”, enquadra o presidente, detalhando que a Academia conta com 38 professores e 300 alunos por ano. 

A solução que encontraram foi negociar com o proprietário. Assim, será assinado, nos próximos dias, o acordo que oficializa a manutenção do valor actual da renda em 540 euros mensais até Agosto de 2025. “Até lá, teremos de encontrar um sítio” para manter a actividade, sendo que o objectivo é continuar no centro de Lisboa, não por capricho, mas por necessidade, na visão de Pedro Barata. “Nunca conseguiremos comprar um espaço no centro da cidade. Estamos à procura de lugares que possam ser cedidos. Já nos falaram em ir para Marvila ou o Beato, mas seria uma loucura pôr professores e alunos a deslocarem-se até lá com a rede de transportes que temos, num sítio onde não há metro. Não havendo centralidade, sabemos que, a prazo, seria a morte da academia.”

A Academia de Amadores de Música está em conversações com a CML, estando agendada uma reunião para hoje, dia 20 de Dezembro, sobre este assunto. Também a Time Out aguarda esclarecimentos do gabinete do vereador da Cultura, Diogo Moura. Em Fevereiro do ano passado, o autarca declarou à agência Lusa que estava "a acompanhar" o caso e a "tentar diligenciar no sentido de resolver" a situação.

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