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Menez
Luísa Ferreira © Fundação D. Luís I — Casa das Histórias Paula RegoAntepassados, 1966

Além da pintura, há mais Menez para descobrir em exposição em Cascais

Na Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais, também se contam outras histórias. De 10 de Março a 2 de Outubro, a mostra ‘Menez’ revisita a obra da pintora portuguesa.

Joana Moreira
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Joana Moreira
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São raras as entrevistas de Maria Inês da Silva Carmona Ribeiro da Fonseca, ou Menez, como é conhecida artisticamente. Mas o trabalho da pintora (1926-1995) descortina-se agora numa exposição no Museu Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais, entre 10 de Março e 2 de Outubro. Comissariada por Catarina Alfaro, curadora e coordenadora do núcleo de Programação e Conservação da Casa das Histórias Paula Rego, a mostra “Menez” inclui 29 obras da artista lisboeta. “Não é uma retrospectiva porque é uma seleção de obras de um período diferente daquele que seria uma retrospectiva. A Menez começa a pintar as obras iniciais nos anos 50 e a cronologia desta exposição começa nos anos 60 e acaba nos anos 90”, explica a Catarina Alfaro à Time Out. A selecção prende-se “com a passagem da abstracção para a figuração”. 

E se é pela pintura que Menez é mais conhecida, na Sala Zero do museu em Cascais descobrem-se outros registos, como "um objecto tridimensional, de cerca de 1965, que é um cubo pintado e que tem muitas semelhanças com outros guaches e com outras pinturas da artista”, revela a curadora sobre a peça cedida pela Galeria 111. Outro exemplo é uma tapeçaria, de 1987, proveniente da colecção da Caixa Geral de Depósitos, ou um painel de azulejo, intitulado Dança, de 1990, cedido pela Galeria Ratton. "Muitas das obras de Menez não estão ainda localizadas, o corpus da obra dela é bastante vasto, mas é difícil encontrar as obras porque elas encontram-se dispersas em colecções privadas”, revela a comissária. “[Menez] foi um sucesso em termos de compras e de interesse por parte dos coleccionadores nos anos 80, 90. Foi difícil chegar a muitas delas”, admite.

Menez
Cortesia Galeria Ratton | Ratton CerámicasDança, 1990

“Menez” segue a linha programática do Museu Casa das Histórias Paula Rego, que, desde 2019, tem organizado mostras de autores cujo percurso se cruzou com o de Paula Rego. Neste caso, “o primeiro encontro entre as artistas aconteceu em 1961. Foram apresentadas por Bartolomeu Cid dos Santos por ocasião da segunda exposição de artes plásticas organizada pela Fundação Calouste Gulbenkian”, conta Catarina Alfaro. Depois do evento formal, Menez e Rego só se terão voltado a encontrar em 1963, estabelecendo "uma relação de amizade e admiração mútua que se vai consolidar precisamente nos períodos em que estão ambas em Londres". As duas pintoras frequentaram, em tempos diferentes, a Slade School of Fine Art, enquanto bolseiras da Fundação Calouste Gulbenkian. 

A investigação da comissária para esta exposição levou-a até à correspondência entre Menez e o poeta Alberto de Lacerda, “em que ela diz que conheceu uma pintora, que vive também em Londres, que é Paula Rego, e fala também do marido, Victor Willing, um pintor também bastante reconhecido. Nessa correspondência, Menez refere-se a eles de uma maneira muito interessante. Diz que são as lovely people as ever, ou seja, que são muito simpáticos, que vai várias vezes a casa deles, que está muito tempo com a família".  

CASA DAS HISTORIAS MENEZ
Luísa Ferreira © Fundação D. Luís I — Casa das Histórias Paula RegoSem título, c. 1965

Nick Willing, filho de Paula Rego, recorda-se bem da presença de Menez na casa da família em Londres. “Era a amiga mais importante da mãe, não há dúvida disso. Nós todos a adorávamos, para mim era uma segunda mãe”, recorda à Time Out. “A minha mãe é muito tímida, shy. E a Menez era o oposto, uma pessoa com muita confiança, que já tinha muitos amigos no mundo da arte em Portugal, conhecia todos e era de boa família, como a avó dizia (risos)". De acordo com Willing, Menez terá sido uma agente crucial na carreira de Rego. "Ajudou muito a mãe, explicou-lhe a maneira de entrar naquilo, como se faz a aplicação para a bolsa, e ficaram amigas. A mãe ia sempre visitar a Menez a Lisboa e falavam muito sobre arte. Tinham uma ligação sobre todos os temas das suas obras”, afirma. 

Catarina Alfaro, que, segundo Nick Willing, “conhece a obra da mãe melhor do que todos”, recorda essa comunhão de temas entre as obras das artistas: "A Paula Rego admirava muito a obra de Menez. Tanto que ela dizia, isto com algum exagero, claro, que sempre que ia ao atelier de Menez chegava lá e lhe roubava as ideias (risos). Mas o que nós percebemos é que há ali um interesse por determinadas temáticas, há determinadas coincidências que têm a ver, por exemplo, com a maneira como ambas realizam um trabalho em torno de temas da religião católica”. 

Casa das Histórias Paula Rego (Cascais). 10 Mar-2 Out. Ter-Dom. 10.00-18.00. 5€.

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