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Alentejo sem lei ou como se joga Game Boy em português

O Game Boy foi descontinuado há mais de duas décadas, mas continuam a sair jogos para a plataforma da Nintendo. E um dos mais recentes, ‘Alentejo: Tinto’s Law’, é português. Falámos com os seus criadores.

Luís Filipe Rodrigues
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Luís Filipe Rodrigues
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Alentejo: Tinto’s Law
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Este artigo foi originalmente publicado na revista Time Out Lisboa, edição 673 — Primavera 2025

Há poucas consolas tão icónicas como o Game Boy, e pelo menos três gerações de jogadores guardam boas memórias do portátil da Nintendo. Não admira, por isso, que continuem a ser comercializadas consolas inspiradas naquele tijolo cinzento e nos seus sucessores; e que pequenos estúdios se dediquem a fazer videojogos especificamente para este sistema, mais de duas décadas depois do modelo original ter sido descontinuado. Incluindo os Loading Studios portugueses, que acabam de lançar Alentejo: Tinto’s Law.

“A ideia de criar o Alentejo: Tinto's Law surgiu inicialmente num evento da ETIC, para o qual fomos convidados como ex-alunos”, revela o co-fundador do estúdio português, Vasco Oliveira, por e-mail. “Durante o intervalo, eu e o Daniel Penão fomos conversar com o Ivan Barroso sobre o facto de Portugal, nos anos 90, não ter produzido jogos para o Game Boy, apesar de existirem várias séries interessantes deste período que podiam servir de inspiração.” E, entre outros clássicos, veio à baila o Alentejo Sem Lei de João Canijo.

“Ao longo dos dias seguintes, continuámos a discutir como seria interessante criar um jogo para o Game Boy ambientado no velho Oeste. Um western spaghetti, mas passado em Portugal. Naturalmente, o Alentejo, devido à sua paisagem árida e histórica, parecia o local perfeito, tanto do ponto de vista narrativo, como geográfico”, detalha o co-fundador. “Começámos a pensar também nas minas abandonadas, a raia, o contrabando, a chegada do comboio, os monopólios da região, as profissões tradicionais, as figuras rústicas do Alentejo, o vinho tinto... Todos esses elementos foram essenciais para o ADN do jogo.”

“[O Alentejo: Tinto's Law] foi uma evolução natural do que aprendemos nos projectos anteriores, agora com um foco mais maduro e polido”, acrescenta Vasco. Ainda assim, inicialmente, a ideia era venderem apenas uma versão digital do jogo, na plataforma itch.io, onde estão alojados os restantes títulos da firma. “Quando mostrámos o jogo pela primeira vez, no Street Gaming, em Ourém, levámos algumas dúzias de caixas com o jogo. Como não tínhamos formas de produzir cartuchos, só tínhamos um cartão com um código QR [para fazer download do] Alentejo: Tinto’s Law. Para nossa surpresa, em poucas horas, ficámos sem stock.” Um mês depois, noutra feira do sector, em Lisboa, a história repetiu-se.

“Imensas pessoas perguntaram-nos se teríamos uma versão do Alentejo: Tinto’s Law em cartucho e demonstraram que seria algo que gostariam de ter. A partir daí, soubemos que a versão física seria o próximo passo”, recorda Oliveira. E começaram a tratar disso. “O Filipe Veiga da Teknamic Software está especializado há vários anos na publicação de jogos em plataformas clássicas como o ZX Spectrum, o MSX e a Mega Drive”, acrescenta o gestor de projecto Ivan Barroso. “Era a pessoa em Portugal mais indicada para ajudar-nos com a publicação do Alentejo: Tinto’s Law em formato físico. Além disso, ele esteve no Street Gaming e no DevGamm e reparou que o jogo tinha imensa procura. Portanto, rapidamente uma conversa abriu entre ambas as partes para estabelecer uma parceria.”

Essa parceria vai continuar quando lançarem a sequela do seu western alentejano. “Estamos na fase de produção, e embora, oficialmente, não tenhamos uma data em concreto, o nosso plano é lançar a continuação desta ficção histórica e nostálgica, agora com o título Alentejo: The Tinto & The Ugly, ainda em 2025”, revelam. “E esperamos ainda internacionalizar mais do que o primeiro jogo. O nosso maior desafio é expandir esta ficção histórica e nostálgica do Gildo e da sua quadrilha, acrescentar mais conteúdo ao Alentejo: The Tinto & The Ugly e alcançar ainda mais mercados internacionais.”

Não é o único plano para o futuro. Actualmente, trabalham nove pessoas nos Loading Studios, mas apenas três a tempo inteiro. Pretendem crescer, mas “de forma ponderada e sem correr riscos desnecessários”, dizem. “Em termos criativos, consideramos que o historial e imaginário em Portugal é riquíssimo, mas em videojogos, está pouco explorado. Neste momento, temos planos concretos até 2028 e, se tudo correr bem, continuaremos a crescer no mercado e a apostar em novas formas de expressão criativa nesta indústria. Por enquanto o foco está no Alentejo: The Tinto & The Ugly.

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