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É um processo de anos que leva agora novo ponto e vírgula, com a inauguração do renovado Moinho Grande do Barreiro, na zona de Alburrica, depois de muitos contratempos de obra e de críticas à intervenção. Esta sexta-feira, dia 20 de Junho, a Câmara Municipal do Barreiro (CMB) apresenta o equipamento à população como uma "âncora daquela zona da cidade", que tem como objectivos contar a história de uma indústria fundamental para o concelho, mas também "activar tudo o que está em seu redor", do ponto de vista turístico, de recreio e cultural, explica à Time Out o presidente da autarquia, Frederico Rosa.
Depois da recuperação do Moinho de Vento Nascente e da reconversão do Moinho Pequeno em centro interpretativo, em 2019, forma-se agora um circuito visitável, através dos passadiços de Alburrica. "O que fizemos não foi só a requalificação de um moinho. É um projecto para toda a zona envolvente, onde vão poder acontecer eventos como concertos, aulas de ginástica, apresentações de livros, várias actividades culturais", resume Frederico Rosa. No futuro, a intenção é "restaurar todos os moinhos da zona, para que seja um património vivido", adianta o autarca. "Queremos trazer as pessoas para ali, que seja um lugar vivo. Nos últimos anos, aliás, tem-se feito uma grande aproximação da cidade ao rio", sublinha.
"Destruição irreversível de património cultural"
Recuando na história, em 2016, a autarquia comprou a Quinta de Braamcamp, na zona entre Alburrica e o Mexilhoeiro, ao Banco Comercial Português (BCP), por 2,9 milhões de euros. A ideia era lavar a cara àquela língua da cidade, que funciona como postal de boas-vindas para quem chega ao Barreiro vindo pelo Tejo. Entre os projectos surgiu a requalificação de moinhos para fazer na zona um percurso histórico sobre a actividade que alimentou a região durante séculos. Pouco tempo depois, o Moinho de Maré Grande era deitado abaixo e as críticas agudizaram, com a Associação Barreiro – Património, Memória e Futuro qualificando a intervenção de "arrasamento" e "um atentado ao património cultural em Alburrica". A Câmara, por sua vez, alegava ser inviável manter de pé a estrutura, que constituía um risco para quem por ali passasse.

A obra foi suspensa em Abril de 2022, por força de um parecer da Direcção-Geral do Património Cultural, na sequência de um contacto da Associação Barreiro sobre os trabalhos em curso. Além de a DGPC ter reconhecido a necessidade de um Pedido de Autorização para Trabalhos Arqueológicos (PATA), que não havia sido feito pela autarquia, deixou também escrito que a execução da obra "nos moldes propostos [com demolição do moinho e afectação da caldeira] resultou na destruição irreversível de património cultural, recurso finito, frágil e não renovável, e perda de informação científica", como citou a agência Lusa. "Tenho muitas dúvidas em perceber isso", comenta o presidente da autarquia, três anos depois. "Muita da estrutura estava caída no rio, deixar os moinhos como estavam é que era uma impossibilidade", diz. Quanto às sucessivas críticas por parte da associação, o autarca insiste que "o Barreiro fica a ganhar muito" com a intervenção neste "património afectivo", que é então para continuar, mantendo-se o actual executivo no poder.

Contíguo aos terrenos da Câmara está o Bico do Mexilhoeiro, propriedade da Associação do Porto de Lisboa e zona historicamente de moagem e de pescadores, que nos últimos anos tem sofrido os efeitos da subida do nível das águas e da erosão provocada pelas ondas do rio. Além da demolição de barracas na zona no ano passado, também os moinhos de vento estão em risco. A autarquia interveio num deles, recentemente, colocando uma barreira de pedras para tentar "minimizar os efeitos das marés e das ondas dos catamarãs". O tema está sob a atenção constante do movimento cívico Não Deixem o Bico Morrer, sendo uma das principais críticas a alegada ausência de acção por parte da Câmara, que passará as responsabilidades para o Porto de Lisboa.
O Moinho de Maré Grande, que deixou de funcionar em 1892, faz parte do Sítio de Alburrica e Mexilhoeiro e seu Património Moageiro, Ambiental e Paisagístico, por sua vez classificado como Sítio de Interesse Municipal. Na zona, o Moinho de Vento Gigante (desactivado em 1919), o Moinho de Vento Nascente e o Moinho de Vento Poente (desactivados em 1950), estão interligados por um passadiço sobre o rio.
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