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Televisão, Séries, Crime, Fantasia, Cidade Invisível (2021)
©NetflixAlessandra Negrini em Cidade Invisível

‘Cidade Invisível’: Netflix dá vida aos mitos e lendas do Brasil

A série criada pelo brasileiro Carlos Saldanha, que se estreia esta sexta-feira, lança-se num mistério de contornos fantásticos e ambientalistas. Ficámos curiosos.

Hugo Torres
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Hugo Torres
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Rio, Eu Te Amo, a terceira antologia de curtas-metragens da série Cities of Love (Paris, Je T’Aime, New York, I Love You), é uma peça longínqua, mas talvez possa ser apontada como o ponto de partida para Cidade Invisível, a nova série da Netflix. Quando se estreou, no final de 2014, o que se esperava do trecho de Carlos Saldanha, que já havia realizado Rio e Rio 2, era mais um postal de cores garridas da mais contrastante cidade do mundo. Não foi o que fez. Saldanha optou por fechar-se no (maravilhoso) Theatro Municipal do Rio de Janeiro e filmar uma história de amor entre dois bailarinos. Na forma, outra novidade: essa foi a primeira vez em que o grande público viu um live action do realizador brasileiro, conhecido pelos seus filmes de animação na Blue Sky, entre os quais A Idade do Gelo. Depois ainda fez mais um, Ferdinando (2017), com direito a nomeação para os Óscares e tudo, mas a energia do set de filmagem ficou a borbulhar-lhe no sangue – até esta oportunidade.

Cidade Invisível, que se estreia esta sexta-feira na Netflix, é uma série que aparenta ser um policial, revelando-se uma fantasia enquadrada pelo folclore brasileiro. Saldanha é o criador e um dos produtores executivos. O argumento baseia-se numa história de Raphael Draccon e Carolina Munhóz, dois bem sucedidos – e casados – autores de literatura fantástica, que também estão envolvidos numa outra série brasileira da Netflix, O Escolhido (2019). Aqui, servem ainda como consultores de produção. A adaptação não foi confiada nem a um nem a dois argumentistas, mas a oito, à boa maneira americana, numa equipa encabeçada por Mirna Nogueira. A concretização dos episódios, essa, foi deixada nas mãos de Júlia Pacheco Jordão (O Negócio, Hard) e Luis Carone (Pico da Neblina), realizadores mais habituados a actores de carne e osso, e com experiência na concorrente HBO. Tudo isto para dizer que, se espelhar o investimento, a ambição para esta série é considerável.

Eric (Marco Pigossi) é um detective da Delegacia de Polícia Ambiental, que perde a mulher em circunstâncias suspeitas, no meio de um incêndio florestal. A zona é cobiçada por uma construtora, que é particularmente generosa (e agressiva) na hora de pôr um preço às casas de quem lá vive, tentando garantir os direitos de exploração daquela terra de modo tão rápido quanto possível. Quem se opõe, no entanto, quem defende a floresta, acaba morto, revela uma das personagens no trailer de apresentação. A Eric, que anda às voltas, atormentado pela perda, angustiado com a possibilidade de que algo aconteça à filha pré-adolescente (Luna, interpretada por Manu Dieguez) e frustrado por a polícia ter encerrado a investigação sem identificar qualquer suspeito, cheira-lhe a esturro. Ele recusa-se a deixar cair o caso. Enquanto anda à procura de respostas, dá à costa, numa praia carioca, um boto-cor-de-rosa. No cumprimento do seu dever policial, Eric vai recolhê-lo, o que provoca um inesperado momento de tensão com o grupo de pessoas que rodeiam a carcaça daquele “golfinho” fluvial. E é aqui que este policial muda de figura.

O boto-cor-de-rosa é um cetáceo cuja população, no Brasil, se encontra disseminada pela bacia do Amazonas. É um animal lendário: diz-se que, durante as festas juninas ou em noites de lua cheia, estes botos se transformam em homens galantes que seduzem as mulheres desacompanhadas para o fundo do rio, engravidando-as (filho do boto significa, aliás, filho de pai desconhecido). E é através deste mito indígena que Cidade Invisível nos vai introduzindo no submundo do folclore brasileiro. E se as lendas forem verdadeiras? E se esses seres fantásticos que habitam nas tradições e nas histórias que ainda se contam às crianças, sem nelas se acreditar – e se esses seres estiverem por aí, entre nós? E como é que a morte da mulher de Eric, o incêndio e o boto se relacionam? “A princípio, pode não fazer sentido, mas está tudo interligado”, vai estimulando a Netflix, no texto de apresentação desta nova série original de sete episódios. A personagem da co-protagonista Alessandra Negrini, a encantatória Inês, pode ser uma das chaves desse enigma. Mas Cidade Invisível quer ser mais do que um mistério; quer ser um agente de preservação – do folclore brasileiro e do ambiente. E nisso já não se pode dizer que Saldanha seja um estreante.

Netflix. Sex (estreia T1).

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