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Depois de uma primeira edição em Arroios, o Todos volta à maior freguesia do centro da cidade para a segunda de três passagens por este território. Durante um fim-de-semana, o propósito é ocupar a freguesia, múltipla em culturas, estratos sociais e vivências, para, através das artes visuais e performativas trazer à tona ligações comuns e aproximar gentes e realidades. Jardim Constantino, Mercado de Arroios, Liceu Camões, Academia Militar, Duplacena 77, Hospital Miguel Bombarda e Largo do Intendente são alguns dos espaços que servem de palco à 17.ª edição do festival, que decorre de 12 a 14 de Setembro.
"Estamos, mais ou menos, nas mesmas centralidades, mas com mais braços tentaculares para outras zonas de Arroios", começa por referir o programador do festival, Miguel Abreu. E se a extensão coloca desafios – o "eixo do coliseu", por exemplo, fica guardado para a edição do próximo ano –, as características sociais e populacionais só aumentam a dificuldade em chegar a uma programação cultural capaz de abarcar os diversos públicos que aqui coabitam.

"Com o trabalho que fizemos no ano passado, confirmámos – e continuamos a confirmar – uma grande disparidade de relacionamento e de interacção entre as pessoas, quando não estão aglutinadas por qualquer circunstância, como ir ao hospital ou ter os filhos na mesma escola. Há uma convivência difícil no território, com pessoas que não querem ver as realidades e pessoas que são obrigadas a conviver com elas a contragosto. Portanto, há uma tensão latente. Então a nossa principal preocupação foi pensar no visível e no invisível, o que nos levou a esta questão do lado a lado, do que é que as pessoas realmente querem ver e o que é que não querem ver. Por sua vez, isto levou-nos à ideia de proximidade e a alguns eixos, como o contemplar, o escutar, o participar e o activar", explica Miguel Abreu.
Três dias de experiências e espectáculos
Neste exercício de aproximar pessoas e visões, nada melhor do que convidar vizinhos e curiosos a entrar em casa. Ao todo, três apartamentos particulares e habitados vão abrir as suas portas ao público. No primeiro (13 Set, 13.00), estarão Bina Achoca e Mostafa Anwwar Swapan, uma cozinheira de mão cheia, nascida em Maputo mas de raízes indianas, e um músico e poeta do Bangladesh, actualmente a estudar na Universidade Nova de Lisboa. Um dia depois, à mesma hora, é a vez de Honey Lima, chef natural de São Paulo, e da italiana Teresa Corrado darem sabor e música, respectivamente, a outro apartamento de Arroios. Por fim, às 16.00 de dia 14 de Setembro, abre-se uma outra casa às visitas, com animação garantida pelo músico Max Lisboa. Todos os eventos exigem inscrição prévia (a partir de 20 de Agosto), os dois primeiros têm um custo de 20€.

Também o cinema volta a fazer parte da programação do Todos. As sessões dividem-se entre o espaço Duplacena 77 e o Auditório Camões, de 8 a 11 de Setembro. A entrada é gratuita. Numa outra antecipação do calendário, os workshops do Todos vão estar a decorrer desde o final de Agosto. Este ano, envolvem dança tradicional de Kerala, na Índia, equilibrismo e furoshiki, entre outras expressões artísticas. Entre 12 e 20 de Setembro, o Mercado de Arroios recebe "Um Olhar sobre Arroios", exposição da fotógrafa italiana Valentina Vannicola. O projecto de fotografia encenada trouxe-a até ao bairro lisboeta, depois de uma primeira colaboração com o Todos em 2022.
As visitas guiadas são outro dos elementos centrais na programação do festival e nesta edição repetem-se um pouco por toda a freguesia. Destaque para a visita ao Palácio Real da Bemposta (12 Set, 15.30), ao Hospital de D. Estefânia (14 Set, 11.00) e ao Panóptico do Hospital Miguel Bombarda (14 Set, 11.00). No dia 13 de Setembro, às 12.30 e às 17.30, o mesmo espaço é palco do espectáculo de circo aéreo da companhia francesa Gratte Ciel – Rozéo. A entrada é gratuita e o público será convidado a deitar-se na relva para assistir à performance que decorre nos ares. Ainda no capítulo das visitas guiadas, o festival desafiou Os Espacialistas, colectivo de arquitectura e design, a desenhar dois percursos em Arroios, com a participação de alguns dos artistas envolvidos nesta edição. O objectivo é "partir à descoberta da vocação artística e arquitectónica de alguns espaços de Arroios", com a ajuda de uma máquina fotográfica e de um conjunto de "objectos de reacção poética".

No Auditório Camões, Maria Giulia Pinheiro volta a apresentar a peça Viemos roubar os vossos maridos (12 Set, 21.30). No dia seguinte, às 15.00, Sarah Adamopoulos rebaptiza o Jardim Constantino no feminino e ocupa-o com um grupo de mulheres, cujas intervenções irão da música aos workshops. Damoclès, do Cirque Inextremiste, é apresentado a 13 de Setembro, às 16.00. Trata-se de um "espectáculo participativo de escuta e de cooperação, onde cada espectador se transforma em artista e, até, em herói", detalha o programa do festival. Nesse mesmo dia, o Largo do Intendente assume-se como palco principal. Pelas 17.30, actuam os Ayom, colectivo com seis elementos, unidos por uma paixão comum por música da diáspora africana. Abrem caminho para os Boundless (19.00), dupla de DJs que quer transformar o largo numa festa de trance, registo da música electrónica que nasceu em Goa, nos anos 80 do século passado.
Destaque ainda para o concerto Cantigas de Santa Maria (14 Set, 17.30), que vai juntar Os Músicos do Tejo, Selma Uamusse e o alaúde de Ihab Radwan para entoar música religiosa do século XIII na Igreja Evangélica Lisbonense. Para essa mesma tarde está marcado um outro momento alto do festival – a Marcha de Todos parte às 17.00 da Praça José Fontana e termina no Campo dos Mártires da Pátria.
As contas do Todos
Miguel Abreu assinala um ligeiro recuo face ao desinvestimento do ano passado. Depois de um corte de 57 mil euros no orçamento de 2024, o deste ano ganhou 25 mil euros, ficando ainda assim abaixo da verba concedida pela Câmara Municipal de Lisboa em 2023 (e nas sete edições anteriores) – 257 mil euros. "Acho que este projecto só faz sentido com câmaras empenhadas. Ele já sofreu tantas ameaças, tanto de vereadores socialistas como de presidentes sociais-democratas. Parece que é um projecto do qual a Câmara se queira desfazer, mas ao mesmo tempo é um projecto do qual a Câmara parece ter algum medo. Nunca sinto que seja um projecto no qual os políticos se sintam à vontade para dar a cara e estar presentes", admite Miguel Abreu, em conversa com a Time Out.

À semelhança do ano passado, o programador do festival afirma não ter certezas quanto à realização de mais uma edição, no próximo ano. "Não me parece que sejamos um activo estratégico importante para Carlos Moedas, numa altura em que o Todos devia ser um grandíssimo activo estratégico. Acho que, se não for o Todos, outra coisa terá que acontecer, numa cidade repleta de multiculturalismo e que precisa de multiculturalidade, de reflectir e de congregar vários serviços para isso", continua.
Pode consultar toda a programação de 17.ª edição do Todos no site oficial do festival.
Vários locais (Arroios). 8-14 Set. Entrada livre (excepto refeições da iniciativa Mi casa es su casa)
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