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A relação entre pessoas e jóias pode muito bem assumir contornos de namoro. Pelo menos, é assim que Inês Telles interpreta alguns dos olhares lançados sobre as suas peças a partir do vidro da montra – a primeira em 15 anos de carreira. A loja inaugurou há coisa de dias, nas Avenidas Novas, mas já há histórias de amor a reportar. "É muito engraçada esta coisa das pessoas irem namorando, porque continuam a ser peças que não se compram por impulso. Agrada-me muito esta ideia das pessoas irem vendo, irem namorando, até adquirirem a peça que realmente querem", começa por contar Inês.
Ao longo da última década e meia, já passou por vários bairros de Lisboa – sempre com atelier, nunca com uma loja virada para a rua. Na Estrela, nas Necessidades e na Graça, onde mantém até hoje o seu espaço de trabalho, recolheu parte da inspiração para as sucessivas colecções de jóias. Foi com elas que conquistou fama internacional – chegou a vender no Museu de Arte Moderna de São Francisco e no MoMA de São Francisco e continua presente, até hoje, em museus e galerias de toda a Europa – e que viu a joalharia portuguesa de autor deixar de ser um nicho, para passar a fazer olhinhos a uma audiência cada vez mais ampla. Abrir uma loja própria é mais um passo para fazer estas jóias chegarem mais longe.

"A abertura de uma loja possibilita uma série de coisas novas para mim, principalmente na área criativa. A nossa produção tem sempre uma escala pequena, mas temos sempre de pensar na construção da peça, para que seja facilmente reproduzível. Tendo a loja, não é preciso pensar tanto nisso. As coisas estão e quando deixam de estar entram outras novas, e isso também é um convite para que as pessoas vão passando", continua.
A zona já estava debaixo de olho. Para Inês, é a combinação perfeita entre bairro e ponto de atracção turística. A marca mantém pontos de venda no Chiado e na Baixa – aqui, o objectivo é criar uma relação mais profunda com quem entra pela porta. "Há muita passagem. As pessoas entram, falam. Umas já conhecem, outras não conhecem. Temos muitos turistas que vêm à Gulbenkian. Mas acho que, acima de tudo, as pessoas têm muita curiosidade, porque na verdade também não há muitas lojas deste género na cidade, dedicadas à joalharia de autor", explica Inês Telles, a designer de jóias que, há 15 anos, criou a marca homónima.

"Noto uma diferença muito grande, quando penso no início, quando comecei a trabalhar nesta área. Acho que as pessoas estão mais disponíveis para este tipo de peças, menos tradicionais, e querem ver coisas novas", explica ainda. Na montra, mas também nos expositores dentro da loja, sucedem-se as peças com o cunho da joalheira. Diferentes colecções reflectem diferentes inspirações e fases, ainda que tudo seja atravessado por um mesmo fio condutor.
Símbolos, formas geométricas e elementos orgânicos, transportados directamente da natureza, preenchem o percurso sólido da joalheira. "Os clientes têm falado exactamente nisso – acompanham o meu trabalho desde o início e aqui conseguem identificar peças novas e peças mais antigas, todas com a minha linguagem. É uma cronologia do meu percurso", completa. Nas peças mais recentes, Inês Telles introduz as pequenas contas antigas multiformes que foi coleccionando ao longo do tempo. Em vidro, pedra ou cerâmica, são achados de mercados de antiguidades, provenientes de outros continentes. "Faz-me sentido esta ideia de pensar que já pertenceram a uma peça conjunta, com um propósito, e que agora foram desconstruídas para criar uma peça nova, com apontamentos que são meus", refere.

Uma coisa é certa: a nova loja é, a partir de agora, a melhor e mais completa montra do trabalho de Inês Telles, dos novos lançamentos aos clássicos da marca, que também já é procurada para quem quer uma peça especial, criada de raiz ou a partir de uma jóia de família. E por muito pacata que seja a vida no novo bairro, há coisas que continuam a ser feitas no recato do atelier.
Rua Marques Sá da Bandeira, 86C (Avenidas Novas). 91 705 2900. Ter-Sex 11.00-19.00, Sáb 11.00-17.00
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