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Como é que D. Afonso Henriques foi parar à esquina da Rua da Betesga?

Onde antes estava um relógio, está hoje "O Conquistador".

Helena Galvão Soares
Escrito por
Helena Galvão Soares
Jornalista
D. Afonso Henriques Betesga
Helena Galvão Soares
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Este artigo foi originalmente publicado na revista Time Out Lisboa, edição 673 — Primavera 2025

É bom observador? Então talvez tenha reparado que, na esquina do Rossio com a Rua da Betesga, surgiu um cavaleiro medieval: na cabeça o que parece ser uma coroa, a mão direita empunha um estandarte, a esquerda, um escudo. Abaixo deste alto-relevo, estão as cinco quinas e dez castelos (não stresse, o número foi variando conforme o espaço disponível para representar castelos conquistados, não foram sempre os sete castelos algarvios tomados por D. Afonso III). Com todo este arsenal simbólico, a pergunta levanta-se: será este um D. Afonso Henriques à conquista de Lisboa? E como foi ali parar?

Se além de bom observador tem boa memória, deve lembrar-se de, até 2018, quando as lojas do quarteirão fecharam, ter existido ali um relógio da marca Rolex, desde os anos 1980. E antes um Omega, em discreta publicidade às marcas vendidas pela Ourivesaria Portugal.

Do atelier de arquitectura Contacto Atlântico, responsável pelo projecto de reabilitação do quarteirão do Rossio, enviam-nos o parágrafo relativo ao restauro desta esquina: "Os cunhais da Antiga Manteigaria União e o da Antiga Ourivesaria Portugal, ornamentados, serão mantidos e restaurados. No centro dos ornamentos do cunhal da ourivesaria será reproduzida a figura originalmente proposta em 1923." André Caiado esclarece ainda que “a estátua tinha um projecto que constava nos arquivos da Câmara Municipal de Lisboa, mas nunca chegou a ser realizado. E na proposta do projecto realizado pela Contacto Atlântico esta figura foi reproduzida”. 

Um pouco de cronologia: a Ourivesaria Portugal abriu portas nesta esquina em Outubro de 1942 e ficou com o nome da loja anterior, uma sucursal da fábrica de sapatos A Portugal, fundada em 1922, com sede no Porto. Antes disso, neste local, a alfaiataria Guarani tinha simples letreiros. Foi A Portugal que ali instalou o cunhal ornamentado com o cavaleiro (que seria o seu logótipo). Será mesmo D. Afonso Henriques?

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