A Time Out na sua caixa de entrada

Procurar

Em Lisboa, há azulejos que contam a história de quem perdeu a casa

Sebastião Almeida
Escrito por
Sebastião Almeida
Publicidade

Iniciativa Perdi a Casa, criada no âmbito do festival HabitAcção, tem uma página no Instagram, onde os azulejos contam a história de quem ficou sem casa em Lisboa. O festival termina este domingo com uma concentração na Avenida da Liberdade.

“Há despejos porque o contrato de arrendamento não foi renovado, há despejos porque os governantes decidiram demolir as nossas casas, há despejos porque não aguentamos pagar rendas tão altas, há despejos porque não conseguimos pagar a casa ao banco… E não há alternativas.” Este é um dos pontos do manifesto do festival HabitAcção que, durante o mês de Setembro, sai à rua e quer “colocar na agenda pública a questão da habitação”.

Ao longo deste mês, tem havido conversas, debates, performances e exposições, mas uma das iniciativas que nasceu no festival, o Perdi a Casa — um workshop criado por Clara Keiser, deu voz a quem perdeu as suas casas e recorreu a azulejos afixados pela zona dos Anjos e Almirante Reis para contar as suas histórias — ganhou uma conta no Instagram, onde são publicados os testemunhos de mais de 50 pessoas.

“É uma forma de dar continuidade ao processo. Sentimos que era preciso dar memória a esta realidade que muitas vezes se vive de forma isolada”, conta Rita Silva, da organização do festival. “Acho interessante jogar com o azulejo, algo tão típico de Portugal e com o que está a acontecer com a cidade de forma tão invisível”, resume.

DR

“Entrei com um contrato de 2 anos, renovável automaticamente, com o compromisso de que ficaria no mínimo 5 anos. Pintei a casa toda e ao fim de 1 ano o senhorio disse que queria vender a casa, e que teríamos de sair ou comprá-la. O preço passou de 210.000€ para 300.000€ em 4 meses. Era um T2 mínimo sem elevador. Tivemos que sair”, lê-se num dos azulejos cuja fotografia foi publicada na rede social.

O festival, que teve início a 7 de Setembro e que termina no próximo domingo, “surgiu de uma ideia de mais de 30 grupos". "Alguns desses colectivos e associações trabalham directamente com famílias em situações de despejo, outros estão preocupados com o que está a acontecer com a cidade."

Esta terça-feira, há a inauguração de uma exposição de fotografia em que se traça um retrato à cidade com o AirBnB em pano de fundo. A mostra inaugura às 21.00, na Sirigaita. No sábado, A Rua é Nossa instala-se na Praça das Novas Nações, nos Anjos, com workshops, performances e cinema. Tudo com o intuito de promover as relações entre as pessoas do bairro.

No domingo, dia 29, há uma concentração marcada para as 15:00, na Avenida da Liberdade. Rita Silva, contudo, aponta que esta concentração assinala o final da programação do festival, mas que servirá “para ver o que se fará a partir daí”. Será um evento para iniciar um processo de articulação de todos os grupos que se juntaram.

+ 50 projectos que vão mudar Lisboa na próxima década

Últimas notícias

    Publicidade