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Está prestes a inaugurar uma nova exposição na Underdogs. Chama-se "Memória Material" e foi idealizada a várias mãos – de um lado o artista multimédia português ADD FUEL, do outro a dupla espanhola de arte urbana PichiAvo. A inauguração é na próxima sexta-feira, dia 27 de Junho.
"Memória Material" reflecte sobre a forma como os objectos carregam, transmitem e transformam a memória com o passar do tempo. Como o nome sugere, as obras apontam a matéria – o gesso, a cerâmica, as telas – como contentores de história colectiva e pessoal. “Graças ao nosso passado, podemos saber quem somos e podemos trabalhar sobre as nossas raízes para criar coisas novas”, revela Pichi, da dupla PichiAvo, em conversa com a Time Out. Juntos, os artistas relacionam os temas da memória e da identidade, numa expressão artística marcadamente contemporânea.

Juan Antonio (Pichi) e Álvaro (Avo) formam a dupla PichiAvo. Naturais de Valência, em Espanha, conheceram-se na cena do graffiti e começaram a trabalhar juntos em 2007. Hoje, são reconhecidos pela capacidade de desconstruir a arte clássica e agregá-la à arte urbana. Seja em grandes murais em torno de figuras ou narrativas mitológicas ou em esculturas greco-romanas reinventadas, a arte de PichiAvo funde sempre o clássico e o contemporâneo.
Já ADD FUEL, pseudónimo de Diogo Machado, artista natural de Cascais, reflecte influências da estética do skate, do punk rock, do graffiti, dos videojogos e dos desenhos animados. O seu trabalho cruza a azulejaria tradicional e a cultura urbana, também como símbolo do encontro entre passado ao presente. “Ambos os nossos trabalhos funcionam muito à volta da memória colectiva, e à volta da tradição e cultura de um povo.” revela Diogo à Time Out, sobre a proximidade do seu trabalho com o da dupla espanhola.

Foi entre Valência e Cascais que decorreu o processo criativo. Os artistas trabalharam nos estúdios um do outro e fizeram uma investigação conjunta das simbologias greco-romanas nos azulejos em Portugal. “Para nós, viajar para Portugal era essencial. Para além de trabalharmos nas peças, também realizámos pesquisas para que o nosso tema se aproximasse mais da azulejaria”, revela Avo. “Vimos que, durante o período de maior proeminência estética do azulejo, por coincidência, se trabalhavam muitos temas clássicos”. Observando o acervo do Museu Nacional do Azulejo e outras cerâmicas espalhadas pelo país, encontraram faunos, deuses e demais figuras da mitologia clássica, que estampam muitas das obras da exposição.
Se o trabalho de Pichi e Avo foi de entrar na arte portuguesa, o de Diogo (ADD FUEL) foi buscar inspiração nos símbolos grego-romanos, e entender como muitos estão escondidos nos emblemáticos motivos dos azulejos. “Num caso muito específico, encontrámos um azulejo que tinha muitas folhas de parra de uva, que nos remeteu para a personagem de Baco”, partilha Diogo. Não foi só o deus do vinho que serviu de inspiração: a similaridade entre as pinturas de Júlio César e Luís de Camões, ambos representados com a coroa de louros, culminou numa obra que celebra o autor português em estilo clássico.
Além dos símbolos e temas pintados nos azulejos, o próprio material foi fonte de inspiração e revelou-se uma importante ferramenta para olhar para o passado. “Para nós era importante dar tributo à cerâmica, porque foi e é parte do dia-a-dia das pessoas”, diz Avo, “assim como foram as estátuas e esculturas greco-romanas, há séculos”. Para os artistas, a cerâmica não é somente uma tela onde pintam-se alegorias históricas, mas um artefacto histórico em si. “Buscamos a memória que está enraizada no material”, adiciona Diogo.

De todas as obras expostas na galeria Underdogs, apenas duas são trabalhos individuais. Os artistas, que já haviam trabalhado juntos brevemente no festival BOOM! Salina no Kansas (EUA), decidiram que as obras para a Underdogs deveriam ser desenvolvidas completamente em conjunto. “Queríamos levar a exposição um pouco mais além”, afirma Pichi sobre o processo criativo. A fusão resultou num trabalho coeso e que conversa profundamente com as referências de ADD FUEL e dos PichiAvo. “Tudo o que se elaborou a nível estético e conceitual da exposição foi graças à conexão que temos.” afirma Avo. “Juntar três artistas pode trazer um pouco de desafio, mas como há muita conexão e temos as mesmas raízes artísticas, foi tudo muito natural.”
Rua Fernando Palha, 56 (Marvila). 27 Jun-5 Ago. Ter-Sáb 14.00-19.00. Entrada livre
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