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©Inês FélixDona Beija

Experiências pós-confinamento: Dona Beija

O restaurante brasileiro tem cozinha da Bahia bem feita e um dos melhores protocolos Covid da cidade, é garantido.

Alfredo Lacerda
Escrito por
Alfredo Lacerda
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Assim que entrei tinha uma empregada de spray na mão à minha espera. Primeiro, disparou para as mãos. Depois, pediu-me as solas dos sapatos. Ora, para lhe dar as solas dos sapatos, a pessoa tem de ter algum equilíbrio. É preciso ficar de pé coxinho, levantar a perna para trás, repetir com a outra – uma espécie de avião.

Há 35 anos que não fazia o avião. Fazer o avião parecia fácil aos dez anos de idade. Aos 40s, para mais com uma sala cheia a assistir, é complicado. Ao longo do jantar, contudo, desforrei-me. Foi um fartote de aviões prestes a esbardalharem-se – e eu agora na plateia, como num espectáculo cómico com serviço de mesa.

O protocolo Covid, aliás, disputou sempre a minha atenção ao longo das duas visitas que lá fiz. A duas magníficas empregadas da sala, simpatias rápidas e atentas, eram exterminadoras profissionais de vírus. Estavam sempre a disparar a bisnaga para todo o lado, dos espelhos às cadeiras, dos manípulos das casas de banho aos pratos que iriam servir daí a nada. Certa vez, deixei cair o guardanapo no chão (um guardanapo de papel dos bons) e ainda não tinha dado conta disso quando uma das raparigas já voava na minha direcção com outro limpa-beiços imaculado. “Desinfectou?”, brinquei, ao que ela reagiu com um sorriso amarelo, altamente justificado.

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Dona Beija©Inês Félix

Bem, mas o que é este Dona Beija? O Dona Beija apareceu como um restaurante brasileiro melhor do que a média. Não é difícil, todavia, ser melhor do que a média em Portugal. Apesar de termos uma comunidade imigrante residente muito considerável, a restauração brasileira, em geral, continua fraquinha. Quando pergunto aos meus amigos brasileiros onde eles gostam de comer fora, 80 por cento responde “não gosto, como em casa”; e 20 por cento, os ricos, começam a desfilar um rol de restaurantes da moda, dos asiáticos aos italianos.

Compreende-se. O que temos tido, sobretudo, é churrasqueiras de buffet, com vários atalhos em produto, a começar na carne. Ou então casas amadoras com os mesmos clássicos de sempre da cozinha tradicional brasileira. Clássicos da cozinha tradicional brasileira significa receituário da região da Bahia, onde está a gastronomia de raiz africana, dos vatapás aos bobós. A etimologia do bobó, aliás, não tem qualquer conotação sexual (jura!), mas decorrerá antes de uma língua da Nigéria, o que bate certo com as importações e trocas ocorridas entre o Brasil e a costa ocidental africana, proporcionadas em grande medida pelos anciãos navegadores portugueses.

No Dona Beija é aqui que estamos, mas um nível acima da concorrência em matéria de produto e técnica. A primeira prova disso são os dadinhos de tapioca, cubos fritos perfeitos da dita, ligados por queijo. De resto, o queijo está por toda a carta, ainda que em diferentes estilos. No escondidinho de carne seca, por exemplo, uma espécie de empadão feito de mandioca, usou-se mozarela. Vinha gratinada, muita, a cobrir o topo, e de cada vez que nos servíamos os fios esticavam-se do prato à boca. O meu filho adolescente achou isso muito espectacular (reminiscências de food porn de YouTube?), eu achei que o puré ficou borrachoso e a mandioca desapareceu com tanta espectacularidade.

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Coxas de frango do Dona Beija©Inês Félix

Já nas fabulosas coxinhas de frango, a almofadinha de queijo coalho (“caseiro”) que lhes servia de base em nada desprestigiou o conjunto: a carne desfiada grosseiramente, como deve ser, muito bem temperada, o exterior crocante, fritura seca – das melhores que comi.

Nas sobremesas, o pudim de leite muito suave, com um caramelo fluido mas saboroso. Muito bom também o bolo de rolo, acolitado de mousse de ricota (mais queijo).

Em síntese. O Dona Beija é uma boa opção, tanto mais que às quintas e sábados à noite tem música MPB ao vivo. Não gostei dos camarões fraquinhos do bobó; nem da farofa velha que acompanhou a maminha (muito boa e bem cozinhada); não gostei das batatas fritas de pacote, nem do excesso de queijo. Mas isso não desmereceu o conjunto. O Dona Beija é muito simpático, é divertido – e é dos sítios mais anti-Covid onde tenho comido.

Avenida Duque de Loulé 22 B. 21 357 0135. Ter-Qua 12.30-15.00, Qui-Sáb 12.00-15.00/ 19.00-23.00, Dom 12.00-15.00. Preço: 15€ – 25€.

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