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Experiências pós-Covid: descobrimos o DoBrasil Pastéis na Costa da Caparica

Devotos das praias da Margem Sul, descobrimos que é também lá que moram os melhores pastéis de feira brasileiros.

Alfredo Lacerda
Escrito por
Alfredo Lacerda
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É feia a Costa da Caparica. Prédios fajutos carcomidos pela maresia, casotas de beira de estrada esburacada, pó por todo o lado como nesses baldios do Magrebe. Mas é a nossa Costa. A praia dos lisboetas.

Carcavelos, Estoril e Guincho não são praias dos lisboetas. Quando lá vou sinto-me noutro habitat. Chega-se à Parede e é como se se estivesse a entrar num resort privado.

Com a Costa da Caparica é diferente. Atravessa-se um rio, muda-se de concelho e sentimo-nos em casa. A Costa é nossa e somos ingratos com ela. Usamos o seu mar, o seus areais extensos e as suas dunas despudoradas. E depois regressamos à capital europeia cheios de iodo e de energia. E dizemos que a Costa é feia.

A Costa é nossa e, desde início do século XXI, a Costa também é dos brasileiros. Grande parte da comunidade que imigrou para a Grande Lisboa nos últimos 20 anos fixou-se ali. É a maior concentração de Portugal. A Costa fica melhor com os brasileiros. E também mais saborosa.

O pastel de feira é prova disso. Há poucas coisas tão boas para se comer quando temos sal nas sobrancelhas e areia nos interstícios dos pés. Desde que mordi pela primeira vez o pastel de feira do DoBrazil Pastéis (3€ cada) que só penso na hora de sacudir a toalha e fazer-me à vila.

O pastel de feira existe um pouco por todo o Brasil, mas é comida de rua e de feira, típica de São Paulo. Está entre o nosso pastel de massa tenra e o pastel de Chaves. O recheio dos pastéis de feira é, todavia, mais diversificado. Embora o tradicional seja o de carne picada, os de frango e azeitona, de pizza e de queijo são também muito populares.

O DoBrazil Pastéis da Rua dos Pescadores abriu há quatro meses e fica perto do mercado. O espaço lembra uma loja que quer ser franchising mas comprou as cadeiras em segunda mão. Design formatado, muito azul e amarelo, pré-pagamento, pessoal simpático. Um restaurante onde as pessoas se sentem bem sem camisa, só com calções ou com a parte de cima do biquíni, ou ambos, e onde raramente ouvimos falar português sem sotaque do Brasil.

Das vezes que lá fui, ao fim do dia, apanhei quase sempre fila a estender-se para a rua. As pessoas estavam com máscara e havia gel desinfectante e podia-se esperar pela comida no exterior, de cerveja na mão (ou de caldo de cana de açúcar ou de suco de caju, 3€). Mas temos sempre de esperar, por vezes muito – por causa do processo: é essencial que os pastéis sejam recheados e fritos no momento; e porque o serviço de cozinha é muito lento: numa visita, esperei meia hora.

Os pastéis são servidos em bolsas de papel e nunca ninguém pede menos de dois. A massa está cheia de pequenas bolhas de ar e surge crocante e sequinha de óleo, bom óleo, inodoro e limpo. O meu pastel favorito é o de carne picada e azeitonas, ou o de carne picada apenas.

Essencial, também, é o molho picante. No DoBrazil usam uma embalagem comercial. Ninguém me soube confirmar se o líquido no interior batia certo com a marca – tenho as minhas desconfianças. Muitos brasileiros preferem encher o pastel de maionese, mostarda ou ketchup. Não aconselho.

Para além dos pastéis, deve-se comer a tradicional coxinha de frango, igualmente saborosa e seca na fritura. Bem como as empadas mornas de palmito, com a massa untada de manteiga.

Um dia, se alguma besta vos disser que a Costa já não é o que era por causa dos brasileiros, sugiro que lhe recordem que foram os brasileiros da Costa quem serviu às mesas durante o boom do turismo, nos sítios da moda do Chiado, quando ninguém queria servir às mesas. E que foram também eles, os brasileiros da Costa, quem nos deu os melhores pastéis de feira.

Rua dos Pescadores, 31-33, Costa da Caparica. Seg-Dom 11.00-22.00. Preço: 7-10€.

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