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Experiências pós-Covid: regressámos ao The Old House para jantar

Mal os restaurantes reabriram, o nosso crítico visitou o consagrado chinês do Parque das Nações. À prova de Covid.

Alfredo Lacerda
Escrito por
Alfredo Lacerda
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Assim que cheguei à porta, um empregado aproximou-se. Estava a olhar para o cartaz com os procedimentos de segurança, quando ele sacou de um termómetro por infravermelhos. “Importa-se que vejamos a sua temperatura?” O rapaz usava uma máscara e, por cima da máscara, uma viseira. Apontou o instrumento à testa e, num segundo, piiiiiii. “Tem 36,1ºC. Pode entrar.”

Para quem não conhece, o The Old House fica na correnteza de restaurantes da antiga Expo, nas costas da FIL, virado para o rio. Abriu em 2015 e tem sido eleito como um bastião da cozinha da região chinesa de Sichuan. Desde a minha última visita, no entanto, a carta mudou. E não só a carta.

Algumas alterações são consequência da Covid-19. Na sala térrea, com vista para a cozinha aberta, o cenário era previsivelmente desolador. A bonita decoração – etnográfica, sólida e elegante – não fez esquecer as mazelas da pandemia: mesas afastadas umas das outras, a sala com esse vazio triste das pistas de dança antes do baile.

Encontrei esta mesma sensação noutros restaurantes pós-Covid onde tenho ido. Com mais espaço entre as mesas, vai ser preciso redecorar, criar recantos, biombos, encher o vazio.

Quanto à amesentação, já sabemos que as mesas não devem estar postas. No The Old House encontrei uma caixa de plástico fechada, tipo Tupperware, transparente, cheia de talheres e pauzinhos. Colado ao plástico, um papel onde se podia ler: “Para sua segurança estes utensílios foram desinfectados.”

Ao lado, os Kleenex substituíam o antigo guardanapo de pano. Dias depois, noutra visita, a gerência percebeu que não era bonito comer ao lado de lenços para enxugar lágrimas e trocou-os por pacotinhos de bolso para limpar ranho. O Tupperware permaneceu em cima da mesa ao longo da refeição, qual marmita.

Para escolher a comida, o The Old House já tem uma tecnologia em que o cliente não precisa de manipular o menu físico. O menu físico do The Old House é um livro grosso, bonito, com lombada e fotografias extraordinárias. Para fazer o pedido através do telemóvel, aponta-se a câmara para um código QR colado à mesa e vai-se directo para o site do restaurante. Depois, é clicar nos pratos e nas bebidas, como se estivéssemos a comprar na Amazon. No final, uma empregada vem confirmar os pratos e disponibiliza-se para tirar dúvidas. “O borrego é a dose grande ou pequena?”

Falando em borrego, eram costelas pequenas à maneira de Sichuan, sem picar na boca, cominhos fragrantes, um prato maravilhoso e confortável a pedir tinto ou um branco encorpado e idoso (faltam opções mais progressistas e sustentáveis, mas a carta de vinhos é acima da média). Com o borrego vieram espinafres salteados, um monte deles, para dividir por três ou quatro.

De resto, confirmou-se a qualidade de sempre em três visitas, com destaque para os dan dan mian noodles (o melhor negócio da casa, 4,5€), aqui chamados de “noodles ao estilo de Sichuan” – talvez porque dan dan vem do nome do carrinho ambulante onde esta massa típica, com porco picado e ceboleto, é vendida nas ruas – e o The Old House quer ser um restaurante sofisticado e não street food.

Essa ambição parece, aliás, estar a ser levada ao extremo, com alguns tiques posh a emergirem (fumo de gelo seco a sair da louça do pato à Pequim!) e preços ridículos (aumentaram) em certos pratos – como os 3,90€ pedidos por uma garrafa de “água das pedras” que, vai-se a ver, e não é mais do que água sem marca (e sem fiscalização), gaseificada artificialmente.

Em síntese. O The Old House está mais velho, mas continua a ser uma grande casa, obrigatória para quem gosta de cozinha chinesa. E não quer apanhar Covid.

Rua da Pimenta, 9 (Parque das Nações). 21 896 9075. Dom-Sáb 12.00- 15.00/ 19.00-23.00.

NOTA: O nosso crítico já voltou a sair à rua e a visitar, anonimamente, restaurantes da cidade, mas guarda a atribuição de estrelas para quando a situação estiver mais regularizada.

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