A Time Out na sua caixa de entrada

Procurar

Jorge Costa deu voz aos sem-abrigo. E as suas histórias deram um livro

‘Diário de um sem-abrigo’ é o nome do livro que reúne um conjunto de crónicas escritas por Jorge Costa para o jornal digital ‘Mensagem de Lisboa’. O cronista morreu a 20 de Abril e este é o seu legado.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
Publicidade

As crónicas de Jorge Costa, publicadas no jornal digital Mensagem de Lisboa, foram compiladas no livro Diário de um sem-abrigo. Nuno Markl e Marcelo Rebelo de Sousa prefaciam o livro que reúne as 14 crónicas escritas por Jorge Costa. O cronista morreu prematuramente aos 55 anos, no passado dia 20 de Abril, mas deixou um importante legado ao abrir uma janela para uma realidade que quase sempre escolhemos ignorar. Com as receitas da venda deste livro, a Mensagem de Lisboa quer criar uma bolsa de jornalismo sobre o tema dos sem-abrigo.

“Ser um sem abrigo. O que é? As pessoas não conseguem imaginar o que é, incluindo eu antes de ter sido um. E escrevo desta forma e refiro-me a mim próprio como ‘um’. Porque para a sociedade não passamos de um número.” Assim começava a primeira crónica assinada por Jorge Costa no jornal online, a 25 de Fevereiro de 2021. Menos de dois meses após ter conhecido Catarina Reis, jornalista da Mensagem de Lisboa, que assina o capítulo de introdução de Diário de um sem-abrigo, onde conta que quando se conheceram Jorge “estava a sair de um período de oito meses como sem-abrigo”. E a história que revela, sobre Jorge, poderia acontecer a qualquer um de nós. Perdeu o emprego como técnico administrativo, sendo despedido sem indemnização por insolvência da empresa, ainda tentou outros trabalhos, mas, como descreve a jornalista, “Jorge lembrava sempre como era velho demais para o mercado de trabalho, mas demasiado novo também para a reforma”. Sem uma rede familiar, acabou por ficar sem dinheiro para pagar a renda e foi despejado.

Após oito meses a dormir ao relento, em meados de 2020 foi uma das pessoas que encontrou abrigo no Centro de Acolhimento Temporário do Casal Vistoso, criado durante a pandemia. Foi aí que surgiu a oportunidade de integrar o programa municipal Housing First, “que tem como primeiro objetivo retirar as pessoas da rua, dar-lhes uma casa, ajudá-las a recuperar a vida e a tornarem-se autónomas”, lê-se no site da Câmara Municipal de Lisboa. Primeiro morou em Alfama, altura em que criou a página de Instagram @alfamabynight, com imagens do bairro à noite, depois morou na Baixa.

“Ao relatar, a sua história ele relatou a de tantos a quem viramos a cara quando nos cruzamos com eles”, escreveu Nuno Markl no prefácio desta edição. E na calha está ainda um filme ou uma série sobre a vida deste inesperado e talentoso cronista, pelas mãos do próprio Markl, que já estava em contacto com Jorge Costa para pôr em marcha o projecto. É que as crónicas de Jorge Costa não deixam ninguém indiferente (pelo menos ninguém que tenha um coração). E mesmo que o cronista não esteja cá para ver os seus textos publicados em livro, uma ideia que já estava em marcha antes da sua morte, o seu legado continua, agora ainda mais amplificado pela Mensagem de Lisboa, que continuará a sair à rua para ouvir as cruas histórias de quem perdeu um rumo na vida, ao criar a bolsa de jornalismo que continuará a dar voz a quem não a tem.

Diário de um sem-abrigo. 10,90€ (Oficina do Livro/ Leya)

+ Afro: “Apenas quem nunca foi segregado devido ao cabelo pode achar a temática descabida”

+ Mulheres velejadoras: associação promove prática de vela no feminino

Últimas notícias

    Publicidade