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Kalorama: Tudo o que temos são os Flaming Lips

Ainda que muita da audiência já se estivesse a preparar para abandonar o recinto, um dos maiores destaques foi o regresso da banda do Oklahoma a Portugal, em mais de dez anos.

Hugo Geada
Escrito por
Hugo Geada
Jornalista
Flaming Lips
DR | Flaming Lips
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O que é que se faz no Parque da Bela Vista às 02.00 da manhã? E o que é que se faz no Parque da Bela Vista às 02.00 da manhã com os olhos cheios de lágrimas? Provavelmente não é uma resposta consensual, mas, no caso, estávamos a ver os Flaming Lips.

Este é um texto sobre o concerto da primeira noite do Kalorama, esta quinta-feira, 19 de Junho. E sim, vai ser pouco parcial.

A banda liderada pelo vocalista Wayne Coyne (que esta noite também assumiu os deveres de trompetista) acompanha este que vos escreve há muitos anos. Não só o ajudou a moldar os seus gostos, com todo o universo de rock psicadélico que influencia as suas canções, mas também como pessoa.

Apesar de abordarem temas extremamente pesados, como a efemeridade da vida, em "Do You Realize??", ou a dependência de substâncias, em "The Spiderbite Song", fazem-no sempre com bom humor, músicas animadas, e, acima de tudo, com um olhar optimista e de superação.

Sim, vamos todos morrer. Sim, provavelmente, não vamos estar cá para testemunhar o futuro, indagam em "All We Have Is Now". Mas tudo isso é ok porque temos o prazer de aproveitar com as pessoas que mais gostamos e amamos. Esta quinta-feira, os Flaming Lips garantiram que todos esses sentimentos iriam brotar até ao nosso exterior.

Apesar do público reduzido – actuaram à 01.30, já depois dos cabeças de cartaz, Pet Shop Boys, e de L’Imperatrice –, o grupo norte-americano de Oklahoma quis garantir que teríamos uma noite de celebração da vida.

Antes do concerto iniciar, Wayne tocava na sua corneta uma melodia que servia para despertar o público e pedia, encarecidamente, para todos os membros da audiência fazerem barulho (algo que repetiu até ao final do concerto, às vezes até em momentos em que preferíamos estar só em silêncio, a ouvir a música).

Quando os primeiros acordes de "Fight Test", primeira faixa de Yoshimi Battles the Pink Robots, disco que a banda interpretou na íntegra como parte da sua mais recente digressão, soaram, já no palco se encontravam quatro robots cor-de-rosa insufláveis gigantes, que iriam aparecendo e desaparecendo ao longo do espectáculo. A festa estava montada.

Apesar de notarmos a voz a fraquejar e a desafinar ao longo do espectáculo, do registo do concerto se tornar um pouco previsível para quem já conhecia o disco e pouco dado a improvisos (e com um final um pouco desapontante para todos os que tinham ido investigar as setlists anteriores e depararam-se com concertos que tinham uma segunda parte extra e dois encores), ou que faltavam mais adereços que costumam usar nos seus concertos, como os unicórnios gigantes ou a bolha enorme para onde o vocalista entra e se atira para o público (contentámo-nos com os balões gigantes a dizer “Fuck Yeah Kalorama Lisbon”), é difícil apontar o dedo ao grupo e dizer que não deixou tudo em palco e dedicou canções como "Are You A Hypnotist??" ou "In The Morning of the Magicians" com especial intensidade.

Mas claro, os momentos altos aconteceram quando a banda tocou "Yoshimi Battles the Pink Robots, Pt. 1" e "Do You Realize??", faixas mais populares deste disco, que foram recebidas com os coros mais intensos, lágrimas e abraços entre grupos de amigos. Ainda é difícil descrever as centenas de pessoas que cantavam em uníssono “Do you realize / That everyone you know someday will die?” – ainda que a voz às vezes falhasse por estar a chorar em prantos.

O regresso dos Flaming Lips a Portugal, a primeira vez desde 2012 e a estreia em Lisboa, foi um grande sucesso e, especialmente depois da desilusão de terem deixado tantas canções por tocar – em comparação com o resto da tour –, deixa-nos a sonhar com um possível novo concerto, desta vez em nome próprio e numa sala fechada, onde seja possível ouvir as suas canções com ainda mais qualidade.

A certa altura, Wayne Coyne agradece ao público por continuar de pé às 02.00 da manhã para os ouvir. “Obrigado por nos deixarem estar cá”, diz. Não, Wayne. Obrigado, nós, por vocês terem estado cá.

Neste dia, além dos Pet Shop Boys e L’Imperatrice, ainda actuaram os Father John Misty e David Bruno. O festival continua esta sexta-feira, 20 de Junho, com artistas como FKA Twigs, Model/Actriz, Azealia Banks ou Scissor Sisters.

Parque da Bela Vista. 19, 20 e 21 Jun (Qui, Sex, Sáb). 55€-105€

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