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LX LAPA
Francisco Nogueira

LX Lapa: caça ao tesouro de peças de mobiliário do séc XX, plantas e arte

Há um novo palacete em Lisboa de portas abertas ao público. Lá dentro há uma loja de mobiliário do século passado, plantas e arte a conviver harmoniosamente.

Escrito por
Inês Garcia
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O imponente portão de ferro aberto é o primeiro convite a entrar neste palacete dos anos 20 (os outros, não estes) no meio do bairro da Lapa. Lá dentro há peças de mobiliário do século XX, quadros de artistas portugueses conhecidos, mas também emergentes, pendurados nas paredes e plantas de interior bem verdes e cuidadas. A histórica revista Brotéria saiu daqui para o Bairro Alto e os lisboetas ganharam o LX Lapa, que tem tanto de concept store como de espaço cultural. O projecto é de Filipa e Sérgio Pinheiro e tem muito para explorar.

Não se deixe intimidar pela arquitectura do edifício e entre à confiança. “Queremos que este espaço seja descontraído. Não tem montra para a rua, mas é isso que permite que criemos uma certa mise en scène das peças. Um contexto de casa para uma caça ao tesouro”, explica Sérgio, numa das quase duas dezenas de salas onde mostram as peças que recuperaram e que agora estão à venda. 

LX LAPA
Francisco Nogueira

A história do LX Lapa começa em 2020 mas o espaço com 2400 m2 já estava a ser arrendado pelo casal desde Julho em 2019, com o objectivo de o transformar num hotel de cinco estrelas. A pandemia embrulhou (ainda mais) o processo burocrático e as licenças não chegaram a tempo, por isso decidiram começar a rentabilizá-lo – embora esse primeiro projecto não tenha ido para a gaveta. Começaram por utilizar um dos edifícios para criar espaços de co-living e em Dezembro testaram as águas com uma loja por altura do Natal. Em Janeiro começou a recuperação a sério, renovando as salas onde não era possível entrar por culpa de infiltrações e outros sinais do tempo, e em Maio abriram, por fim, 600 m2 carregadinhos de mobiliário antigo, plantas e arte, divididos por 16 salas, dispostas como divisões de uma casa, e dois pisos.

“Tanto eu como a Filipa sempre gostámos de arquitectura mas não temos formação na área. Entrámos na área do turismo na crise anterior [são proprietários dos apartamentos e guest house Cheese & Wine, na Calçada Marquês de Abrantes] e fomos decorando os nossos espaços e aprendendo”, conta Sérgio entre cadeiras Cognac Safari em pinho e pele, desenhadas em 1974 para a Ikea, Spider Tables desenhadas pelos checos Jindrich Halabala ou as estantes Lips Vago, criadas para a Trienal de Milão em 1951. Sérgio e Filipa, além de terem corrido a Europa à procura destas peças – muitas das quais já tinham guardadas num armazém na Amadora –, procuraram saber também as suas histórias, “o que as torna únicas”. Para cada uma que apontemos, conseguem ensinar-nos sobre a sua origem ou os processos de recuperação pelos quais passaram, todos feitos num outro piso do edifício. Pelo caminho, cruzaram-se com inúmeras marcas de copos, rasgões, mossas, madeiras gastas e envolveram-se a 100% na tarefa de decapar, lixar e envernizar. As Cadeiras Cesca de Marcel Breuer, lançadas pela Knoll em 1968, são um desses casos em que puseram as mãos na massa e ficaram com um episódio para contar. “São em palhinha com cromado e pareciam estar impecáveis mas encontrámos um cortezinho de nada, tinha de se resolver. Comprei um kit na Amazon da Alemanha, veio a palhinha e estive a fazer tudo para voltar a ficar como nova”, conta Sérgio.

Espalhadas pelas salas de pé direito altíssimo, a conjugar com o ambiente de cada uma, estão também plantas, “essenciais para purificar o ar”, entre as quais monsteras deliciosas, cactos de porte alto, begónias ou pileas, todas à venda e bem tratadas enquanto esperam pelos futuros donos. A par disso, peças de arte, muitas, sejam pinturas, fotografias ou esculturas, fruto de uma colaboração com a Galeria Filomena Soares, mas também parcerias com artistas emergentes que Sérgio e Filipa conheceram depois de algumas visitas a pequenos ateliers, como Inês Mendes Leal ou Francisco Trêpa.

LX LAPA
Francisco Nogueira

Em paralelo com a vertente loja destas salas, que se pretende que vão sendo “desmanchadas rapidamente para dar lugar a outras peças”, conforme sejam arreatadas para habitações particulares, têm desde meados de Maio, sob as oficinas de reparação, uma galeria com curadoria de Carolina Pelletier Fontes e Delfina Sena. A primeira mostra aberta ao público é “Reflection Upon Space: Parts I & II” com um conjunto de obras de jovens artistas em diversos suportes, e por lá ficará até 8 de Julho.

Se os planos do hotel de charme avançarem, no futuro o LX Lapa poderá ir morar para outro espaço. Enquanto isso não acontece, aqui está em glória, com ideias de aproveitar o jardim e criar uma cafetaria, por exemplo, para prolongar a sensação de casa e permitir que as pessoas se deixem estar e usufruam do espaço. 

Rua Maestro António Taborda, 14 (Lapa). 21 192 9113. Seg-Sex 10.00-19.00, Sáb 10.00-18.00.

+ Leia aqui a edição digital da Time Out Portugal, com uma grande entrevista a Ai Weiwei, o artista mais esperado do ano

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