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Junto à antiga Lisnave, abre-se uma janela no tempo e no espaço. "Venham Mais Cinco. O Olhar Estrangeiro sobre a Revolução Portuguesa – 1974-1975" abre ao público este sábado, 24 de Maio, com cerca de 200 imagens do processo revolucionário português, todas elas registadas na época por fotógrafos e fotojornalistas estrangeiros de passagem por Portugal. Para o curador, o cineasta brasileiro Sérgio Tréfaut, trata-se da "primeira grande exposição feita sobre a Revolução".
Entre arquivos perdidos e outros resgatados das estantes de redacções e agências durante os últimos anos, 30 fotógrafos voltam agora a contar a história de como o país pôs fim à ditadura através de um golpe militar, de como o povo saiu à rua – para celebrar, mas também para protestar e, mais tarde, para votar –, de como os exilados políticos regressaram a casa e de como foi feita a descolonização dos territórios em África. Num espaço com cerca de 2000 metros quadrados, convivem duas centenas de grandes formatos, organizados, não de forma cronológica, mas em núcleos temáticos. São retratos de um momento excepcional da história, que resultam de um trabalho de pesquisa que teve início há mais de três décadas.
1993-2025: a cronologia de uma exposição
A ideia surgiu no Verão de 1993. Desafiado pela jornalista Ana Soromenho e por Margarida Medeiros, crítica de fotografia e professora universitária, Sérgio Tréfaut apanhou a boleia das duas entusiastas e rumou a Paris nesse mesmo ano, para vasculhar os arquivos das grandes agências internacionais. "Sabia que o 25 de Abril e o 25 de Novembro tinha sido um período em que muitos fotojornalistas estiveram em Portugal. O que eu desconhecia é que os maiores fotógrafos do mundo tinham estado em Portugal durante aquele ano e meio", resume Tréfaut.

O plano estava traçado. A exposição realizar-se-ia em 1994, como forma de assinalar os 20 anos do 25 de Abril e com Lisboa como Capital Europeia da Cultura. O local? A antiga sede da PIDE, na Rua António Maria Cardoso. Sem financiamento, o projecto não andou para a frente. Em 1999, Tréfaut realizou Outro País: Memórias, Sonhos, Ilusões... Portugal 1974/1975, documentário sobre fotógrafos e cineastas que passaram pelo país durante o período revolucionário.
A ideia estava lá, bem acesa, e a exposição, nas palavras do curador, "continuava como uma vontade". Ao sabor das vontades políticas, o projecto viria a ter a atenção de Pedro Adão e Silva, de quem chegou luz verde em 2022. A busca por um espaço que comportasse uma mostra desta dimensão, pela quantidade de fotografias e pelo predomínio de grandes formatos, consumiu mais tempo. "Pensámos no simbolismo da Lisnave. Fotógrafos como o Guy Le Querrec, o Fausto Giaccone e outros fotografaram a Lisnave em 1975. Era um lugar forte para a exposição", adiciona.

Mas o velho estaleiro não oferecia as condições necessárias. Em vez disso, mesmo ao lado, um silo automóvel foi convertido num museu efémero pelo arquitecto Pedro Pacheco. De lugar inóspito, o Parque Empresarial da Mutela tornou-se palco da maior exposição de fotografia alguma vez feita em torno da Revolução de Abril. "A Margarida e eu lutámos por essa exposição ao longo de bastante tempo e quando a exposição teve chances de ser viabilizada, entre 2022 e 2023, ela já estava doente. No início de 2024, há o falecimento da Margarida, mesmo antes que se assinasse o protocolo. Ela me diz: vocês tem que terminar isso. E por isso a exposição é em homenagem a ela", remata.
O golpe, a vida política e o quotidiano
Nomes incontornáveis da fotografia mundial passaram por Portugal naquele período. Alguns eram nomes já consolidados, outros tornaram-se referências nas décadas seguintes. "Estamos reunindo os maiores fotógrafos do mundo. Portugal era um centro importante do que acontecia no mundo, um tabuleiro entre as tendências pro Leste e os Estados Unidos. Era num terreno de combate, onde dois grandes países, Angola e Moçambique, também estavam em jogo. Isso fazia com que os maiores fotógrafos fossem mandados para aqui – da Magnum, da Sigma, da Sipa", explica o curador.
Dividida em quatro núcleos temáticos – A Festa da Liberdade, Novas Formas de Poder, Independências e Um País Dividido –, a exposição percorre momentos-chave do processo revolucionário e aponta alguns dos seus protagonistas. A multidão do Primeiro de Maio de 1974, a reivindicação dos sindicatos, a Reforma Agrária, a campanha eleitoral, as independências das ex-colónias, os retornados, as divisões ideológicas e, por fim, o 25 de Novembro. Momentos contados sem seguir necessariamente uma ordem cronológica.

Atrás das objectivas, estiveram muitos nomes. Desses, 30 estão representados em "Venham Mais Cinco. O Olhar Estrangeiro sobre a Revolução Portuguesa - 1974-1975". "Esta é a primeira grande exposição feita sobre a revolução portuguesa. Nada existiu até agora comparado com ela", declara Tréfaut. Em Junho, o catálogo da exposição será lançado pela Tinta da China. Sobre a próxima paragem da mostra, o curador refere a possibilidade de fazê-la subir até ao Porto. "Existem conversas estabelecidas com a Câmara Municipal do Porto, mas ao mesmo tempo é preciso perceber qual é a reacção do público em Almada. Temos três meses previstos. A possibilidade de prolongamento dependerá da Câmara Municipal de Almada."
Avenida da Aliança Povo MFA (Almada). Qui-Dom 11.00-19.00. Até 24 Ago. Entrada livre
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